Ministro de Bolsonaro disse, em 2012, que atacar pesquisas é 'desespero'
Crítico ao resultado das sondagens eleitorais que apontam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente do presidente Jair Bolsonaro (PL) na corrida ao Palácio do Planalto, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, já afirmou, em publicação de julho de 2012, que as críticas aos institutos são "o primeiro sinal de desespero de quem está caindo em pesquisas".
"Esta história de trama de instituto de pesquisa é o primeiro sinal de desespero de quem está caindo em pesquisas", afirmou Nogueira na ocasião. À época, ele era senador em exercício e estava em seu primeiro mandato na Casa legislativa.
Nos últimos meses, porém, Nogueira se alinhou ao discurso de Bolsonaro, com críticas frequentes aos institutos de pesquisa — defendendo o que ele chama de 'datapovo'.
Uma das últimas vezes em que o chefe do Executivo deu declarações nesse sentido foi no 7 de Setembro. Em um ato em Brasília, Bolsonaro disse que as pessoas presentes "eram o verdadeiro resultado" e que o Datafolha era "mentiroso".
"Nunca vi um mar tão grande aqui, com essas cores verde e amarela. Aqui não tem a mentirosa Datafolha, aqui é o nosso 'Datapovo'. Aqui a verdade, aqui a vontade de um povo honesto, livre e trabalhador", afirmou o presidente.
Na mesma data, Nogueira criticou o Datafolha, divulgando uma imagem aérea que mostrava os apoiadores de Bolsonaro presentes em uma manifestação a favor do presidente.
"DataFolha, DataFolha? vai ficar muito feio mais uma vez ajustar somente no dia da eleição", escreveu o ministro.
Dias antes, em 1º de setembro, o chefe da Casa Civil fez outro post na mesma linha e disse que "não é a realidade que vai fazer ajustes para se aproximar" ao Datafolha.
"Uma das coisas mais engraçadas da eleição vai ser na última semana o DataFolha fazer o ajuste final. Aguardem!", publicou Nogueira.
O UOL entrou em contato com o ministro Ciro Nogueira para que ele comente a publicação feita em 2012. Em caso de manifestação, este texto será atualizado.
Por que não dá para comparar pesquisa e manifestação
É impossível comparar uma pesquisa eleitoral com quantas pessoas vão a um ato. Enquanto a manifestação atrai apenas apoiadores, os levantamentos têm a intenção de entender como pensam todos os eleitores.
"A pesquisa eleitoral segue critérios científicos, tem metodologia aplicada, amostra, distribuição do perfil que você vai entrevistar, tudo isso é controlado", diz Luciana Chong, gerente de pesquisas de opinião do Datafolha, em reportagem publicada no início deste mês.
Como seria impossível entrevistar todos os eleitores individualmente, os institutos usam uma amostra. O diretor do instituto Quaest, Felipe Nunes, explicou que a amostra é uma parte para mostrar o todo.
"O exame de sangue é um exemplo que todo mundo sabe. Para medir o colesterol, a glicose, você não tira o sangue inteiro da pessoa. Você tira um pouquinho, e a partir dali você estima qual é a glicose, o colesterol. É a mesma coisa que a gente faz em uma pesquisa, tira um pedacinho da população para fazer a estimativa do todo".
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