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Ex-presidente do STF, Ayres Britto é o 5º a apoiar candidatura de Lula

Brasília - O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Ayres Brito  - José Cruz/Agência Brasil
Brasília - O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Ayres Brito Imagem: José Cruz/Agência Brasil

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

29/09/2022 18h55

Sem citar Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Ayres Britto declarou hoje apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto. A manifestação soma-se a de Celso de Mello, Joaquim Barbosa, Nelson Jobim e Carlos Velloso. O PT busca o apoio de Eros Grau, ministro aposentado da Corte.

"Nesta eleição presidencial já afunilada para dois candidatos, eis a pergunta central: diante de quem a democracia está certa de não sofrer o menor atentado? Resposta: de quem jamais colocou sob suspeita de fraude a urna eletrônica. No caso, Lula, que terá meu voto", disse.

Em agosto deste ano, Ayres Britto e outros ministros do STF divulgaram nota para defender a urna eletrônica e rebater afirmações feitas por Bolsonaro de que há fraude nas eleições do Brasil. No texto, os juristas fizeram críticas ao voto impresso e afirmaram que o modelo defendido pelo chefe do Executivo não é um mecanismo adequado de auditoria.

"A contagem pública manual de cerca de 150 milhões de votos significará a volta ao tempo das mesas apuradoras, cenário das fraudes generalizadas que marcaram a história do Brasil", afirmava a nota.

No início desta semana, Rita de Cássia, mulher do ex-ministro, que presidiu a Corte durante o Mensalão, publicou em suas redes sociais vídeo em que artistas pedem para virar o voto para Lula. O filmete usado por Rita traz imagens de Nando Reis, Denise Fraga, entre outras celebridades petistas.

Substituído por Joaquim Barbosa, Ayres Britto se aposentou em 2012 e ficou menos de dois anos no comando do STF, devido à aposentadoria compulsória.

A gestão dele foi marcada por julgamentos históricos, como o do Mensalão, que teve como alvos integrantes do PT, como o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente nacional da sigla José Genoino e o ex-tesoureiro da sigla Delúbio Soares. Ele também julgou a Ação Penal 470 e a que autorizou a interrupção da gestação de anencéfalos, além da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

Na terça-feira (27), Celso de Mello divulgou nota em que declarou voto no ex-presidente Lula.

"A atuação de Bolsonaro na Presidência da República revelou a uma Nação estarrecida por seus atos e declarações a constrangedora figura de um político menor, sem estatura presidencial, de elevado coeficiente de mediocridade, destituído de respeitabilidade política, adepto de corrente ideológica de extrema-direita que perigosamente nega reverência à ordem democrática, ao primado da Constituição e aos princípios fundantes da República", escreveu.

Carlos Velloso declarou, na quarta-feira (28), voto em Lula.

"Diante das ameaças do candidato Bolsonaro [PL] contra o sistema eleitoral brasileiro, especialmente contra as urnas eletrônicas, reconhecidas aqui e no exterior como seguras e confiáveis, o que redunda em ameaça ao Estado Democrático de Direito, meu voto, no próximo domingo, será para o Lula", afirmou.

Também na terça, em vídeo divulgado pela campanha, Joaquim Barbosa pediu voto no petista no primeiro turno e criticou Bolsonaro. "Bolsonaro não é um homem sério para governar um país como o nosso. Não está à altura, não tem dignidade para ocupar um cargo dessa relevância", declarou.

"É preciso votar já em Lula no primeiro turno para encerrar a eleição no próximo domingo", disse.

Além dos integrantes do STF, o ex-ministro da Justiça e dos Direitos Humanos no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) José Gregori declarou apoio a Lula contra Bolsonaro.

Em nota, ele defende o voto útil ao elogiar os também candidatos Simone Tebet (MDB), Ciro Gomes (PDT) e Felipe D'Ávila (Novo). "Mas as pesquisas, por ora, não os tornam viáveis", diz.

"Com os meus 70 anos de vida pública, eu sei que a recondução do atual presidente seria muito negativa, especialmente agora que o Brasil precisa ter um protagonismo eficiente que combata a fome, nos prepare para as pandemias e evite a guerra nuclear. Lula tem sensibilidade para estas questões", diz Gregori.

O também jurista e ex-ministro de FHC Miguel Reale Júnior, um dos autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), declarou que apoia a eleição de Lula no primeiro turno.

"Minha candidata era Simone Tebet, mas a candidatura dela não se concretizou nesta eleição, que está sendo pautada pela total falta de racionalidade", disse Reale Jr.

Eu sei que a política é sempre um processo de várias etapas. Na atual, dispensar a participação de Bolsonaro é uma etapa imprescindível
José Gregori, jurista e ex-ministro de FHC

As manifestações ocorrem num momento em que FHC divulgou nota em que pede voto em favor de candidatos que defendam as instituições, a ciência e a diversidade.

"Como é do conhecimento público, tenho idade avançada e, embora não apresente nenhum problema grave de saúde, já não tenho mais energia para participar ativamente do debate político pré-eleitoral", disse FHC, sem citar Lula nem Bolsonaro nominalmente.

Dentro do MDB e do PDT também há dissidentes que declararam apoio a Lula no primeiro turno em detrimento das candidaturas de Tebet e Ciro.