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Bolsonaro volta a criticar institutos e diz esperar que não dobrem a aposta

Do UOL, em Brasília

05/10/2022 12h16Atualizada em 05/10/2022 13h25

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou hoje (5) a criticar as pesquisas eleitorais e comentou o pedido de abertura de inquérito na Polícia Federal para investigar possíveis crimes na elaboração e divulgação de amostras durante o primeiro turno.

O candidato à reeleição disse esperar que as empresas "não dobrem a aposta por ocasião do segundo turno" —o governante não expôs com clareza o seu raciocínio.

Questionado se o gesto em relação a apurar possíveis crimes de institutos de pesquisa poderia soar como uma tentativa de intimidação, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, responsável por pedir a investigação à PF, afirmou que "não tem fake news maior" do que pesquisas errôneas divulgadas na véspera da eleição.

"Na verdade, não é intimidação porque existe um crime previsto para isso, que é a divulgação de pesquisas falsas. A própria fake news. Não tem fake news maior do que essa, no momento, em uma véspera de eleição... Então, a gente tem que ter muito cuidado. O inquérito é muito sério e a realidade vai vir à tona."

Logo depois de o ministro encerrar a fala, Bolsonaro provocou: "Eu espero que os institutos de pesquisa não dobrem a aposta por ocasião do segundo turno".

As declarações ocorreram hoje durante entrevista no Palácio da Alvorada, em Brasília. Ao lado do chefe da pasta da Justiça e Segurança Pública e de outros aliados, Bolsonaro recebeu o governador reeleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. O emedebista declarou apoio formal à tentativa de reeleição do atual presidente.

Torres não explicou se o inquérito tem como alvo empresas predeterminadas. "Vamos investigar tudo isso que está aí. Não é um instituto ou outro instituto."

Bolsonaro tem o hábito de criticar as amostras eleitorais e atacar os institutos responsáveis por produzir os levantamentos. Durante o primeiro turno, na tentativa de descredibilizar números divulgados por diferentes empresas, o presidente lançou a ideia do "datapovo" —termo em referência ao apoio popular manifestado nas ruas.

Entretanto, é impossível comparar uma pesquisa eleitoral com quantas pessoas vão a um ato. Enquanto a manifestação atrai apenas apoiadores, os levantamentos têm a intenção de entender como pensam todos os eleitores.

Na tentativa de justificar o inquérito, o ministro da Justiça e Segurança Pública afirmou que "os números são muito discrepantes da realidade que se teve nas urnas".

"Existem crimes que podem estar por trás disso aí. Nada melhor do que um inquérito na PF para esclarecer tudo isso, esclarecer à população brasileira e para que ela possa exercer o seu direito. Para que pesquisas não fiquem direcionando muitas vezes questões de voto útil e outras coisas do tipo."

Para Bolsonaro, "muitos votaram em quem estava na frente para não ter segundo turno e colocar um ponto final nas eleições". "Não perder mais um domingo, segundo a ideia dessas pessoas."

Diretoras de instituto ressaltam apoio de indecisos

A diretora do Datafolha, Luciana Chong, avaliou que os eleitores que decidiram o voto de última hora nesse primeiro turno favoreceram a candidatura de Bolsonaro, o que explicaria a diferença entre a pesquisa do instituto na véspera da eleição e o resultado das urnas.

"Acreditamos que teve um movimento de decisão de última hora, especialmente de eleitores de Ciro, Simone Tebet, indecisos e os que poderiam votar branco e nulo, e esse movimento acabou sendo mais em favor de Bolsonaro", disse, no dia seguinte à eleição, em entrevista à GloboNews.

Para ela, as pesquisas que apontavam que a eleição presidencial poderia terminar já no primeiro turno com a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) podem ter motivado essa migração de votos para o atual presidente.

A diretora do Ipec (ex-Ibope), Márcia Cavallari, apresentou justificativas semelhantes em entrevista à GloboNews e mencionou a antecipação de votos em Bolsonaro por eleitores indecisos, de Ciro e Simone. Além disso, ela citou obstáculos enfrentados para coletar dados.

Tivemos dificuldade em campo, com hostilização dos entrevistadores, agressões, não tão graves quanto no Datafolha, mas arrancar tablet do entrevistador ou passar de moto gritando na hora da entrevista
Diretora do Ipec

Márcia reforçou que "pesquisa não é prognóstico" e sim um medidor de um momento. "Tivemos movimentação pela volatidade dessa eleição", completou.