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Nas redes, bolsonaristas fazem campanha para boicotar pesquisas eleitorais

Ciro Nogueira e Fábio Faria pregaram boicote às pesquisas eleitorais no segundo turno - Adriano Machado/Reuters e Billy Boss/Câmara dos Deputados
Ciro Nogueira e Fábio Faria pregaram boicote às pesquisas eleitorais no segundo turno Imagem: Adriano Machado/Reuters e Billy Boss/Câmara dos Deputados

Do UOL, em São Paulo

05/10/2022 14h50

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, estão promovendo uma campanha nas redes sociais para que eleitores dele boicotem as pesquisas de intenção de votos, após as diferenças registradas entre as sondagens divulgadas na véspera do pleito e o resultado das urnas.

A discrepância reforçou a tese bolsonarista de que os levantamentos foram manipulados, mas cientistas políticos consultados pelo UOL isentaram os institutos de má intenção e apontaram, entre outros fatores, justamente o boicote do eleitorado conservador às pesquisas como uma das explicações para a diferença.

Ministros a favor. O movimento de boicote foi endossado pelos ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), e das Comunicações, Fábio Faria (PP). Os dois pregaram um boicote aos levantamentos porque o desempenho de Bolsonaro não foi previsto pelas sondagens, com algumas indicando a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhar no primeiro turno.

"Depois do escândalo que cometeram, todos os eleitores do presidente Bolsonaro só tem uma resposta às empresas de pesquisa: Não responder a nenhuma delas até o fim da eleição", escreveu Nogueira no domingo, antes de a apuração dos votos terminar.

"Assim, ficará desde o início provado que qualquer resultado é fraudulento! Elas erraram absurdamente, criminosamente ou não? Somente uma investigação profunda poderá revelar", acrescentou.

Faria foi mais específico e pregou, também nas redes sociais, o boicote às sondagens realizadas por Datafolha e Ipec. "Quero dizer ao povo brasileiro: não respondam mais nenhuma pesquisa desses institutos de pesquisa, nem Datafolha nem Ipec. Deixa eles errarem por 50 [pontos percentuais], deixe eles errarem em Lula com 50% a 0, o que vale é o voto de vocês", afirmou o ministro.

A hashtag #boicotepesquisas começou a circular no Twitter entre os apoiadores do presidente, mas até o momento teve pouca adesão.

Ontem, o ministro da Justiça, Anderson Torres, afirmou que pediu à Polícia Federal que abra um inquérito para apurar a atuação dos institutos.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a campanha de Bolsoanro decidiu acionar a Procuradoria-Geral Eleitoral e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra institutos de pesquisas.

Por que as pesquisas falharam? As explicações, segundo especialistas, incluem o boicote do eleitorado conservador aos levantamentos, a defasagem no Censo demográfico e a migração de última hora dos votos de Ciro Gomes (PDT) para Bolsonaro.

Segundo as principais pesquisas divulgadas no sábado (1), último dia de campanha, Lula tinha de 49% a 51% de intenção de voto. Pela margem de erro, de dois pontos percentuais, o petista poderia variar de 47% a 53% no domingo. Ele acabou com 48,43%, dentro da margem de erro.

Quanto ao presidente, no entanto, as sondagens tiveram resultados discrepantes, acima da margem de erro: enquanto os últimos levantamentos indicavam intenções de 36% a 39% dos votos, o candidato à reeleição recebeu 43,2% nas urnas.

Natália Aguiar, cientista política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), levantou a hipótese do boicote bolsonarista. Para ela, as pesquisas têm se tornado mais desafiadoras, no Brasil e no mundo. "Quando alguns concorrentes pregam contra as pesquisas, algumas pessoas tendem a não responder ou mentir na resposta", observa.

Sérgio Praça, cientista político do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), da FGV (Fundação Getulio Vargas), concorda. "Foram vários fatores para os erros nas pesquisas. Um dos mais importantes é o fato de que muitos eleitores do Bolsonaro se recusavam a responder as sondagens", diz.

Os cientistas políticos disseram acreditar que os institutos erraram, também, porque os eleitores vêm deixando para decidir o voto na reta final e que os eleitores da senadora Simone Tebet (MDB) e, principalmente, de Ciro, decidiram de última hora "antecipar o segundo turno" e mudar de candidato, com Bolsonaro sendo o maior beneficiado.

O que disseram os institutos? Os institutos argumentam, em geral, que não se pode tratar como erros as diferenças entre as pesquisas e o resultado das urnas, porque os levantamentos servem para dar uma "fotografia" de cada momento.

Em nota, o Ipec destacou ter projetado a liderança de Lula no primeiro turno. Sobre Bolsonaro, o instituto atribui as discrepâncias a tendências também já apontadas pela pesquisa, como os 3% que ainda estavam indecisos e as perdas de pontuação de Ciro e Tebet nos últimos dias da campanha.

À Folha de S.Paulo, a diretora do Datafolha, Luciana Chong, refutou a tese de erro metodológico e creditou os números a um movimento de decisões de última hora, especialmente de eleitores de Ciro.