Topo

Lula foca em caminhadas com a bandeira do Brasil e militantes de vermelho

O ex-presidente Lula (PT) em caminhada em Belo Horizonte - Ricardo Stuckert
O ex-presidente Lula (PT) em caminhada em Belo Horizonte Imagem: Ricardo Stuckert

Do UOL, em Belo Horizonte

10/10/2022 12h25

Em uma nova estratégia de olho no segundo turno, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resolveu priorizar mais caminhadas com trios elétricos pelas ruas em vez de fazer comícios parados. Ontem, em Belo Horizonte, o cortejo foi o quarto em quatro dias seguidos.

Por questões financeiras e com objetivo de chegar a mais pessoas, Lula tem investido em sair no meio do povo. Na avaliação da campanha, o novo estilo ajuda ainda a rebater um dos principais discursos bolsonaristas —de que ele teria medo de ir às ruas— e torna os atos mais "instagramáveis", ou seja, com mais potencial de render boas imagens em redes sociais.

Além de BH, entre quinta (6) e sábado (8), Lula andou pela Grande São Paulo e pelo interior paulista. O plano é que siga assim, com raras exceções. Na manhã de quarta-feira (12), fará uma caminhada no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, enquanto amanhã (11) optou por um comício em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, por "questões logísticas".

Furar a bolha. A campanha entende que para puxar a quantidade de votos necessária para garantir o segundo turno com tranquilidade, o petista tem de não só falar um pouco mais com outros públicos como também demonstrar força a pessoas que ainda não foram convencidas.

Diferentemente de grandes comícios, onde a grande maioria presente é de militantes ou apoiadores fiéis, uma caminhada no centro ou no litoral das cidades não só mobiliza quem já iria ao comício como impacta também os desavisados.

Bem divulgada, é capaz de captar pessoas menos propensas a ir a um lugar fechado e que, no caso da campanha petista, precisa garantir um registro e ainda demonstra força para quem circula ao redor — pessoas que estão almoçando ou trabalhando e acabam confrontadas pelos manifestantes embaixo da janela.

Mais barato. Há, também, uma questão financeira: caminhadas custam muito menos do que comícios. No segundo turno, a verba máxima destinada à campanha presidencial é de R$ 44,5 milhões, metade dos R$ 88,95 milhões passíveis de serem gastos no primeiro turno.

Com a opção por cortejos, a campanha economiza em custos de infraestrutura, aluguel dos locais e staff. "Ao contrário do que se pensa, fazer a segurança de uma caminhada delega muito menos gente do que o de um grande evento. Você economiza em todo tipo de pessoal. Esses grandes comícios são muito caros", explica o deputado Márcio Macêdo (PT-SE), tesoureiro da campanha petista.

Os candidatos Fernando Haddad (PT), ao governo de São Paulo, e o ex-presidente Lula (PT), ao Planalto, em caminhada em Campinas (SP) - Ricardo Stuckert - Ricardo Stuckert
Os candidatos Fernando Haddad (PT), ao governo de São Paulo, e o ex-presidente Lula (PT), ao Planalto, em caminhada em Campinas (SP)
Imagem: Ricardo Stuckert

Instagramável. Outra vantagem das caminhadas para os articuladores petistas é puramente estética. Para o deputado André Janones (AV-MG), principal conselheiro de Lula nas redes sociais, tão importante quanto fazer belos e numerosos atos é saber retratá-los para divulgar depois.

"Quanto mais você tiver um conteúdo legal, bem feito, para reproduzir, mais pessoas você vai atingir. No fim, isso é o mais importante desses atos: conseguir gerar conteúdo que funcione nas redes sociais e chegue a milhões de pessoas, muito mais do que a população daquela cidade ou de quem acompanhou", afirma o deputado.

Neste quesito, dizem os petistas, as passeatas caíram como luva. As fotos de Lula e seu círculo próximo dentro de uma pequena caminhonete cercados por pessoas de vermelho e segurando bandeiras do Brasil ou do estado em questão têm sido usadas à exaustão pela campanha.

Panorâmica ou não, as imagens de ruas tomadas — com todo o simbolismo que isso carrega — têm agradado mais aos membros da campanha e ao próprio Lula, que sempre se diz a favor de campanha na rua, como um conteúdo mais "instagramável", ou seja, mais suscetível de compartilhamento nas redes sociais.

Segundo a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, a candidata derrotada no primeiro turno Simone Tebet (MDB), que declarou apoio a Lula, tem criticado exatamente essa estratégia da campanha em apostar em pessoas de vermelho.

Dando o troco. Antes do primeiro turno, Lula só havia feito quatro caminhadas. Uma durante a pré-campanha, no início de julho, em Salvador, e outras três nos últimos dois dias pré-eleição: em Salvador e Fortaleza no mesmo dia (29) e em São Paulo no dia seguinte (30), para encerrar a primeira etapa. Essas três últimas chamadas "caminhadas silenciosas", por não haver discurso, restrito pela legislação eleitoral.

Neste período, a campanha era alvo de críticas e provocações por parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que, usando as motociatas como referência, diziam que o petista tinha "medo de sair na rua" e por isso só fazia eventos fechados.

A provocação irritava o ex-presidente, que se recusa a parecer acuado. Com o aumento dos eventos na rua, os petistas sentem que conseguem "dar o troco" em Bolsonaro. Agora é Lula e seus apoiadores que dizem que o presidente "se esconde atrás das motociatas", que criam mais volume por causa das motos, enquanto Lula "desce para o meio do povo".

Como dito, as caminhadas devem virar a marca da campanha no segundo turno, com raras exceções. Nesta semana, além do Rio de Janeiro, Lula deverá ir a três capitais do Nordeste, aonde também realizará eventos andantes pelo centro ou litoral.