Lula diz que Bolsonaro foi até Aparecida sem convite e 'arrumou briga'

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou hoje a ida do presidente Jair Bolsonaro (PL) a Aparecida, no interior de São Paulo, após relatos de vaias e confusões protagonizadas por bolsonaristas no Dia de Nossa Senhora Aparecida. Para o petista, o presidente "se aproveita da religião" para fazer campanha.

A declaração de Lula foi feita no Farol da Barra, em Salvador, após o ex-presidente atravessar o circuito Ondina-Barra em uma hora e 30 minutos. A atividade reuniu milhares de apoiadores em clima de carnaval. Antes, Lula esteve no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro.

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Jingles eleitorais dançantes e bandeiras coloridas deram o tom da caminhada de 5 km, que teve Lula em um carro aberto e discurso sobre trio elétrico. Ao lado de Jerônimo (PT), candidato ao governo da Bahia, o petista agradeceu a votação expressiva do primeiro turno.

A Bahia foi o segundo estado em que Lula acumulou maior percentual de votos: 69,7%. Jerônimo teve 49,3% dos votos válidos no primeiro turno e agora disputa o cargo com ACM Neto (União), que ficou em segundo lugar com 40,9%.

Críticas a Bolsonaro. Em mais uma fala para reforçar seus feitos em prol de religiosos durante seus dois mandatos, Lula afirmou que Bolsonaro "usa o nome de Deus em vão".

O petista lembrou das passagens do presidente pelas celebrações do Círio de Nazaré, no Pará, e hoje, em Aparecida, ao dizer que Bolsonaro "não foi convidado".

"Ele foi escorraçado lá do Círio de Nazaré, tentou fazer política na procissão onde não foi convidado, e hoje arrumou briga em Aparecida do Norte, onde também foi sem ser convidado, tentando tirar proveito de religião", disse Lula.

Em Aparecida, bolsonaristas hostilizaram profissionais da TV Aparecida, vinculada à Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Após celebrar missa, o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, afirmou que é necessário ter uma identidade religiosa.

"Não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos, ou somos católicos. E então, nós precisamos ser fiéis à nossa identidade católica. Mas seja qual for a intenção [de Bolsonaro], vai ser bem recebido porque é o nosso presidente, e é por isso que nós o acolhemos", disse o arcebispo em entrevista.

Clima de carnaval. Os 5 km do trajeto são nacionalmente conhecidos pelos desfiles de trios elétricos no Carnaval, mas hoje foi tomado pela política. Com uma caminhada que começou em Ondina, na altura do Hotel Othon, e terminou no Farol da Barra, Lula emulou um Carnaval fora de época.

Além do grande volume de pessoas na avenida principal, muitos apoiadores acompanharam o trajeto nas ruas paralelas, como acontece no Carnaval. Famílias inteiras, crianças e idosos acompanharam o trajeto.

Jingles dançantes. Lula e Jerônimo fizeram o trajeto em cerca de uma hora e 30 minutos, sempre cercados por apoiadores. Em vez de hits carnavalescos, os apoiadores dançaram ao som de jingles de Jerônimo e Lula. O mais famoso deles, "Sem medo de ser feliz", ganhou um ritmo de pagode baiano.

Políticos históricos. No Farol da Barra, Lula subiu em um trio elétrico junto do governador Rui Costa (PT) e do ex-governador e atualmente senador Jaques Wagner (PT-BA). Juntos, pediram votos para eleger Jerônimo. A exemplo das agendas dos últimos dias, Lula reforçou a importância de maior sinergia entre as esferas de poder.

Eu quero repetir a parceria que eu fiz com o companheiro Jaques Wagner e que o PT fez no primeiro mandato com o Rui [Costa]. A parceria entre os governos federal e estadual é necessária para que o povo seja beneficiado pelo administrador público."
Lula (PT) em comício em Salvador

Choro e fome. Ao lembrar do Dia das Crianças, também celebrado hoje, junto com o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, Lula chorou. Ato comum em seus discursos, chamou a atenção para o cenário da fome no país.

Eu fico me perguntando quantas crianças hoje almoçaram, tomaram café e quantas ou vão dormir sem poder tomar um copo de leite. Isso não é normal. Isso não é falta de dinheiro, é falta de vergonha na cara de quem governa o país."
Lula (PT) em comício em Salvador

Igualdade salarial. Em mais um aceno às mulheres diante do apoio da senadora Simone Tebet (MDB) ao seu nome para a Presidência da República, Lula defendeu, mais uma vez, a igualdade salarial entre gêneros.

De acordo com o ex-presidente, é preciso fazer valer a Constituição do Brasil: "Falta só regulamentar, as nossas mulheres querem receber os mesmos salários quando fazem o mesmo trabalho que os homens".

"É preciso que a gente, de uma vez por todas, que a mulher não é objeto de cama e mesa, de que a mulher não é um ser de segunda categoria, de que ela tem direito de ser tratada com a decência categoria", declarou o petista antes da caminhada.

Segunda agenda do dia. Antes de chegar à Bahia, Lula fez uma caminhada no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro. O petista também participou de uma conversa com diferentes lideranças comunitárias. Ele ouviu propostas e pregou contra a violência policial e contra a flexibilização do armamentismo.

O evento no Alemão foi articulado pela socióloga Janja da Silva, esposa de Lula, junto a lideranças como Renê Silva, do jornal comunitário Voz das Comunidades.

*Com informações do Estadão Conteúdo