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Marielle: Ao lado de mãe, Lula liga Bolsonaro a 'milicianos que a mataram'

Do UOL, no Rio

12/10/2022 13h32

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relacionou o presidente Jair Bolsonaro (PL) a "milicianos que mataram" Marielle Franco em discurso ao lado da irmã e da mãe da vereadora no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro.

As investigações da morte de Marielle não apontam qualquer elo de Bolsonaro com os acusados do assassinato. Sobre uma caminhonete, Lula acompanhou caminhada de cerca de uma hora pela Estrada do Itararé —a principal via de acesso ao conjunto de favelas do Alemão— acompanhado do prefeito Eduardo Paes (PSD) e outras lideranças.

Ontem, o candidato visitou Belford Roxo, na Baixada Fluminense, reduto bolsonarista, junto ao prefeito Waguinho (União Brasil). Lula busca reduzir a vantagem de Bolsonaro no RJ —no primeiro turno, foram quase 1 milhão de votos. Ele deve voltar ao estado já na semana que vem após visita ao Nordeste.

Marielle presente. A vereadora assassinada em março de 2018 na região central do Rio foi lembrada em diversos trechos da caminhada, com homenagens em placas e faixas. Ao lado da mãe dela, Marinete, e da irmã Anielle, Lula citou Marielle enquanto criticava Bolsonaro por ter relacionado a vitória de Lula em estados do Nordeste ao analfabetismo —algo que o petista tem feito com frequência.

"Queria fazer uma pergunta para vocês: quem tem parentesco ou é nordestino, levante a mão. Estou perguntando isso porque o Bozo outro dia disse que eu ganhei as eleições no Nordeste porque o povo nordestino é ignorante", disse Lula.

Esse cidadão não tem noção do que é o povo nordestino, ele não tem noção do que é o povo carioca porque a vida dele sempre foi ligada aos milicianos que mataram Marielle."
Lula, no Complexo do Alemão

"Eu quero pedir para qualquer pessoa que tenha uma gota de sangue nordestino para não votar nesse cidadão porque ele não serve para presidir nem o Rio de Janeiro, nem São Paulo e muito menos o Nordeste brasileiro", completou o ex-presidente ao final da caminhada.

No mesmo trio, Anielle fez um breve discurso antes de Lula, declarando apoio ao petista. "A gente hoje botou a favela literalmente para baixo para gritar por um presidente que a gente acredita, que defende favelado", gritou ao microfone.

12.out.2022 - Caminhada de Lula (PT) no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio - Ricardo Stuckert - Ricardo Stuckert
12.out.2022 - Caminhada de Lula (PT) no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio
Imagem: Ricardo Stuckert

As investigações do Ministério Público e da Polícia Civil levaram à prisão do PM reformado Ronnie Lessa e do ex-PM Élcio Queiroz, acusados de matar a vereadora e o motorista Anderson Gomes. No entanto, ainda não há informações de quem foi o mandante do crime. Eles vão a júri popular em data ainda a ser definida pela Justiça do Rio.

Em 2019, um dos porteiros do condomínio Vivendas da Barra —onde Lessa e Bolsonaro têm imóveis— afirmou que foi "Seu Jair" quem liberou a entrada de Élcio no local no mesmo dia em que Marielle foi morta. O registro de entrada mostrava o nome Élcio ao lado do número da casa de Bolsonaro.

No entanto, cerca de um mês depois, o porteiro afirmou que se confundiu: ele disse que lançou o nome errado na planilha e depois se sentiu pressionado a manter a versão inicial. Uma perícia também confirmou que as vozes do porteiro que liberou a entrada e aquele que citou Bolsonaro eram diferentes.

Rivais unidos. O trio em que Lula discursou reuniu políticos que estiveram em campos opostos durante a campanha deste ano. O prefeito Eduardo Paes (PSD), que apoiou Rodrigo Neves (PDT) como candidato a governador, destacou a presença do adversário Marcelo Freixo (PSB).

Paes também citou a presença do deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) e do deputado estadual André Ceciliano (PT), que não chegaram a um consenso para uma candidatura única de esquerda ao Senado —Romário (PL) venceu a disputa.

"Queria saudar dois candidatos a governador que estão aqui: nosso Marcelo Freixo e o nosso Rodrigo Neves. E dois candidatos ao Senado que estão aqui: o nosso Molon (PSB) e o nosso Ceciliano (PT). Todas essas forças políticas aqui unidas."

Ouvindo a comunidade. Antes da caminhada, Lula participou de uma conversa com diferentes lideranças comunitárias. Ele ouviu propostas e pregou contra a violência policial e contra a flexibilização do armamentismo.

O evento no Alemão foi articulado pela socióloga Janja da Silva, esposa de Lula, junto a lideranças como Renê Silva, do jornal comunitário Voz das Comunidades.

Ida à Baixada. Essa é a segunda caminhada de Lula no estado. No fim da tarde de ontem, o petista foi a Belford Roxo para um cortejo e um comício junto a Waguinho.

Local onde Bolsonaro venceu com mais de 50% dos votos nos 13 municípios, a Baixada Fluminense é crucial para a campanha petista tentar a virada no estado, como prometem —ou pelo menos reduzir a vantagem do presidente, como esperam os mais ponderados.

Rumo ao Nordeste. Lula vai na tarde de hoje a Salvador, onde deve participar de uma caminhada ao lado de Jerônimo Rodrigues (PT), candidato ao governo da Bahia.

Amanhã (13), fará mais um evento duplo —uma caminhada em Aracaju pela manhã com o senador Rogério Carvalho (PT-SE) e outra em Maceió à tarde com o governador afastado Paulo Dantas (MDB) —ambos candidatos as governos estaduais apoiados por Lula.

Na sexta (14), Lula parte para o Recife para mais um cortejo, dessa vez com a deputada federal e candidata ao governo Marília Arraes (SD-PE). No primeiro turno, ele esteve ao lado do deputado Danilo Cabral (PSB-PE).

Apoio a Dantas. Durante a agenda em Belford Roxo, o ex-presidente comentou a operação contra Paulo Dantas (MDB), deflagrada ontem. Ele disse que mantém não só a ida a Maceió como o apoio ao governador e questionou a ação.

"Na minha opinião, está cheirando a suspeição, porque é um processo antigo. Faltando pouco tempo para as eleições, você tentar tirar um candidato que é adversário do candidato do Arthur Lira, presidente da Câmara", disse.