Bolsonaro vai para confronto em debate; Lula usará tom de ironia
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotarão estratégicas diferentes para o debate promovido por UOL, Band, Folha e TV Cultura amanhã (16). Ambos esperam um debate pegado: Bolsonaro não fará mídia training e está pronto para trocação franca de golpes. Lula se prepara para atacar comparando gestões e temperar as respostas com ironia.
Este será o primeiro confronto direto entre os dois e terá mais de uma hora de embate livre. Ambos também adotaram estratégias diferentes de preparação. O presidente deverá visitar três estados do Nordeste só hoje, antes de ir para São Paulo. Lula já está na capital paulista e deverá passar o sábado em concentração, depois de quatro dias com seis caminhadas em cinco estados diferentes.
Estratégias de Bolsonaro
Pronto para bater e levar. A avaliação da equipe de Bolsonaro é que, neste estágio da campanha, não há espaço para nenhum dos candidatos ser paz e amor. O presidente espera que Lula use todas as oportunidades que tiver para tirá-lo do sério. Ele também estará pronto para fustigar o adversário sempre que tiver chance.
O principal objetivo é evitar que Lula mantenha a serenidade durante o programa e se venda para o telespectador como um estadista diante de um presidente estourado —imagem que Bolsonaro já tem consolidada. O principal instrumento a ser usado para fazer o adversário perder o controle será falar de corrupção.
O tema já foi martelado muitas vezes na corrida presidencial, mas a avaliação é de que o petista se incomoda quando tocam no assunto e reage de maneira intempestiva. Nos momentos em que a pauta do debate for esta, o presidente deve tratar Lula com adjetivos depreciativos como ladrão, bandido e ex-presidiário.
Sem mídia training. Cabe ressaltar que Bolsonaro pretende colocar esta estratégia em prática sem fazer mídia training. Integrantes da equipe estão conversando com o candidato sobre pontos a atacar Lula e onde ele precisa se preparar para se defender. Mas tudo é feito sem a organização de dedicar um dia para ensaios.
A falta de um treinamento específico preocupa menos desta vez porque a equipe de campanha entende que num debate entre dois candidatos espera-se o confronto. Mas os assessores reforçam que o presidente não pode perder a linha e fazer um posicionamento enérgico virar um ataque de fúria.
Confronto direto. A maneira que o presidente planeja enfrentar o adversário é diferente da estratégia para o debate da TV Globo no primeiro turno, em 29 de setembro. Naquela ocasião, os ataques couberam ao padre Kelmon, candidato a presidente pelo PTB. Bolsonaro viu Lula ser fustigado sem que o presidente precisasse arcar com o ônus da agressividade. Por este motivo, quando teve a chance de perguntar ao petista, preferiu questionar o candidato Luz Felipe d'Avila (Novo).
Neste debate o contexto é outro e não é possível terceirizar os ataques. Mas a situação é vista como positiva para a campanha de Bolsonaro porque, em 28 de agosto, ele abriu o primeiro debate UOL, Band, Folha e TV Cultura fazendo pergunta a Lula. O entendimento de sua equipe é que o presidente foi melhor que o petista e a expectativa é de que ele repita o desempenho.
Pontos frágeis. O monitoramento da campanha do presidente mapeou os temas recentes que podem ser acrescentados ao arsenal de ataque de Lula: cortes no orçamento do Ensino Superior, visita à maçonaria e à economia. Respostas foram preparadas para todas estas situações.
Existe também a possibilidade de que a visita a Aparecida, na última quarta-feira (12), seja criticada como mistura entre religião e política. Bolsonaro responderá que estava exercendo sua fé. Caso citem apoiadores que tiveram atitudes hostis, o presidente argumentará que foram casos isolados.
Temas alternativos para atacar. Além da corrupção, Bolsonaro tem alternativas para tentar colocar o adversário contra a parede. Ele vai investir em temas religiosos e falar de Aliados de Lula como José Dirceu, José Genoino e Antonio Palocci. O revide já está precificado. O petista citar nomes como Fernando Collor de Mello (PTB-AL), mas a leitura é que no chumbo trocado os nomes atrelados a Lula atrapalham mais.
Outro tema que poder surgir é a redução da maioridade penal. A equipe de Bolsonaro entende que a população é majoritariamente favorável ao tema. Ele citou a proposta em comício na sexta-feira em Duque de Caxias (RJ). Mas o assunto não será obrigatoriamente abordado, e pode aparecer a depender do andamento do debate.
Estratégia de Lula
Partir para a crítica da gestão. A orientação é que Lula comece na ofensiva, mas programática —pelo menos no início. Como tem feito em seus discursos, o ex-presidente deverá focar as perguntas e incursões na comparação entre os dois governos.
Em suas viagens pelo país, Lula tem repetido que Bolsonaro "não fez nada pela região" e levanta dados sobre obras e contribuições federais feitas em seu governo (2003-2010). Agora, o plano é fazer adendos como este diretamente para Bolsonaro. Lula deverá revisar e estudar números, em especial nas áreas de economia e infraestrutura.
Outro assunto que deverá ser abordado pelo ex-presidente é a área social. Lula deverá falar sobre o retorno do Brasil ao mapa da fome, o número de desempregados e o preço dos alimentos.
Sem cair na pilha. A campanha também espera que Bolsonaro parta para o ataque menos propositivo mais no começo para tentar desestabilizar o petista. De pavio não tão longo, uma preparação que a campanha tem feito é estimular que Lula não caia nas provocações e pareça irritado ou descompensado em frente às câmeras.
A equipe tem trabalhado as possíveis ofensas que Bolsonaro pode fazer, como "ex-presidiário" e "ladrão", e praticado com o petista, para que ele reaja calmamente e pareça natural e espontâneo, embora esteja treinado.
Tons de ironia. Respirar e responder é o primeiro passo; debochar é o segundo. A campanha avalia que Lula vai muito bem no vídeo quando enfrenta o adversário rindo, como fez em alguns momentos do debate da Globo e nas sabatinas que participou.
Na avaliação da equipe, a estratégia tem dois pontos fortes: passa a sensação de segurança e de levar na esportiva e, de quebra, irrita o adversário.
Nesse ponto, dizem os petistas, Bolsonaro, com pavio ainda mais curto que o de Lula, pode ser uma presa fácil.
Se for preciso, apelar. O objetivo da campanha é que Lula "mostre Bolsonaro como ele é". Para isso, avaliam, que Lula precisa dar uma mexida. Como último recurso, ele deverá ter na manga algumas polêmicas sobre o presidente que não têm a ver diretamente com a gestão, mas arranham sua imagem e também têm potencial de irrita-lo.
Lula deverá citar o caso dos 51 imóveis comprados em dinheiro pelo clã Bolsonaro, caso revelado pelo UOL que geralmente tira o presidente do sério por envolver também sua família.
O petista deverá também relembrar a fala de Bolsonaro relacionando a vitória de Lula no Nordeste aos índices de analfabetismo, fazer especulações sobre possíveis ligações de Bolsonaro com milicianos e, quem sabe, retomar a entrevista em que o presidente, então deputado, fala sobre comer carne indígena.
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