Leia a íntegra do primeiro bloco do debate presidencial no UOL
Aconteceu neste domingo (16) o primeiro debate do segundo turno das eleições 2022 entre os candidatos à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). A realização foi do UOL em parceria com a Band, a Folha de S.Paulo e a TV Cultura.
O primeiro bloco foi marcado por mais tempo de confronto direto entre os adversários. A pandemia e a vacinação contra a covid-19 pautaram a maior parte do começo do debate. Bolsonaro associou a ida de Lula às comunidades do Rio de Janeiro ao tráfico de drogas e foi rebatido pelo petista.
Leia aqui a íntegra do primeiro bloco do debate no UOL:
[Adriana Araújo]: Olá, boa noite a todos.
[Eduardo Oinegue]: Boa noite! Está no ar a partir de agora o primeiro debate entre os dois candidatos mais votados para a Presidência da República. Assim como aconteceu no primeiro turno, este encontro é promovido por um pool de empresas de comunicação. O Grupo Bandeirantes está ao lado da TV Cultura, do UOL e da Folha de São Paulo.
[Adriana Araújo]: Faltando duas semanas para o segundo turno, o eleitor terá a oportunidade de acompanhar um debate essencial de ideias e propostas entre os dois candidatos. Eu gostaria de agradecer, em nome do pool, a presença aqui no estúdio da Band do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e do Presidente Jair Bolsonaro, do PL.
[Eduardo Oinegue]: Para entender a dinâmica do debate, que será dividido em três blocos, vamos acompanhar agora as regras aprovadas pelas duas campanhas.
[Locutora]: Cada candidato, por ordem de sorteio, tem um minuto e meio para responder a mesma pergunta feita por um dos mediadores. Em seguida, o primeiro confronto direto com banco de tempo. Os candidatos terão 15 minutos cada um para administrar entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. No segundo bloco, jornalistas de empresas do pool fazem perguntas. Cada candidato terá um minuto e meio para responder. O terceiro bloco começa com uma pergunta feita por um jornalista do pool. Um minuto e meio de resposta para cada candidato. Na sequência, um novo confronto, seguindo as mesmas regras: cada candidato terá quinze minutos para administrar como achar melhor. Logo depois, também por ordem sorteada previamente, os candidatos terão um minuto e meio para as considerações finais.
[Adriana Araújo]: Como foi acertado previamente com as campanhas, nós não temos público aqui neste estúdio. Mas para receber convidados dos partidos e também jornalistas, a Band montou uma sala digital em parceria com o Google e o YouTube. E eu lembro que este debate é transmitido também no Band Play, no band.com.br e no canal Band Jornalismo do YouTube.
[Eduardo Oinegue]: Vamos pra primeira pergunta, que é feita para os dois candidatos. Existem dois tipos de despesa do Governo: aquelas que são feitas por ordem constitucional, sem que os senhores possam interferir de forma alguma, e aquelas sobre as quais os senhores podem decidir. Nos países avançados, nos países mais civilizados em termos orçamentários, metade do orçamento é controlado desta forma constitucional e metade comandado pelo Presidente. Aqui, no Brasil, 96% do dinheiro vai direto ao seu destino, sem a mão do Presidente. Sobram 4% na mão do Presidente da República; e para fazer novos projetos, novas ideias, novos programas tem que tirar projeto, tem que tirar ideia, tirar programa. Eu quero saber, para cumprir os projetos e programas que senhores propõem na campanha, os senhores vão cortar de onde? Dos 4% que comandam ou vão propor mudanças constitucionais para mexer nos outros 96%?
[Adriana Araújo]: Bom, pela ordem sorteada primeiro responder a essa pergunta é Jair Bolsonaro. Boa noite, candidato. O senhor tem um minuto e meio, por favor.
[Jair Bolsonaro]: Boa noite. Por exemplo, a questão do Auxílio Brasil. A origem desse dinheiro virá de uma proposta que já passou na Câmara, visando a Reforma Tributária, e está no Senado Federal. Vamos manter essa despesa extra de forma permanente e vitalicia. Deixo claro que quando nós criamos o Auxílio Brasil, no final do ano passado, nós renegociamos o parcelamento dos precatórios e criamos o Auxílio Emergencial de 400 reais. Nesse momento, toda a bancada do PT votou contra na Câmara dos Deputados. Porque eles não têm qualquer preocupação com os mais pobres. Voltando à questão de recursos. Não apenas isso, na Reforma Tributária, bem como o nosso Governo estuda, ao se privatizar alguma coisa, uma parte, obviamente, vai para pagar juros da dívida, e a outra parte irá para irrigar projetos outros que podem acontecer. Porque, realmente, esse restante de 4% do orçamento é muito pequeno. Mas tudo nós fazemos como já fazemos, como fizemos no passado, dentro da responsabilidade fiscal. Tanto é que em nenhum momento houve qualquer medida no nosso Governo que viesse causar um desconforto, um descontrole junto ao mercado, bem como oscilação no dólar. Então fazemos tudo dentro da responsabilidade.
[Eduardo Oinegue]: Sua vez candidato Lula, por favor, um minuto e meio.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, vou até me aproximar da câmera para dizer que o Partido dos Trabalhadores tinha proposto, antes de votar nos 600 mil reais de Auxílio Emergencial, quando o Presidente propunha 200. A Câmara votou 500, e ele propôs 600. Depois ele reduziu para 400, e agora mandou os 600 só até 31 de dezembro porque não está na LDO. Na verdade, o que nós fizemos? Nós provamos à sociedade brasileira de que é possível a gente ter capacidade de investimento quando a gente planeja e quando a gente coloca o dinheiro no lugar certo. Quando nós fizemos o PAC, em fevereiro de 2007, nós investimos praticamente um trilhão e quatro bilhões de reais durante todo processo do PAC para construir treze mil obras que foram entregues e mais treze mil que ficaram para terminar, que algumas estão terminando agora. Um dado importante é que, se você souber trabalhar, planejar, você vai ter o dinheiro para fazer as coisas, e, ao mesmo tempo, nós temos certeza de que o Congresso vai aprovar uma Reforma Tributária para que a gente possa, com a Reforma Tributária, taxar menos os mais pobres, os trabalhadores. Por isso que nós propomos uma isenção de até cinco mil reais de não pagamento de Imposto de Renda, e cobrar dos mais ricos que muitas vezes não pagam sobre o lucro e sobre o dividendo. Aí nós vamos ter dinheiro para fazer as políticas que nós fizemos.
[Adriana Araújo]: Nós vamos começar agora a primeira rodada direta entre os candidatos. Cada um terá 15 minutos para usar da forma que achar melhor. Para não prejudicar a compreensão de quem está assistindo a este debate, o ideal é que um sempre aguarde o outro terminar.
[Eduardo Oinegue]: Se um candidato ainda estiver concluindo o raciocínio, a sua fala não pode ser interrompida pelo adversário. Se acontecer isso, o microfone vai ser desligado.
[Adriana Araújo]: E pela ordem sorteada, quem começa é o candidato Lula. Bom debate aos dois. Por favor.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu até queria começar pedindo desculpa ao telespectador porque eu não o cumprimentei quando comecei falar. Eu quero cumprimentar a direção da Band, a direção da Folha, a direção da TV Cultura e a direção do UOL por fazer esse pool e permitir que a gente pudesse fazer um debate franco e aberto. Vocês sabem que eu estou candidato na perspectiva de reconstruir esse país, fazer com que esse país volte à normalidade, que as instituições funcionem corretamente, que o Congresso legisle, e não trate do orçamento; que o Governo governe; e que o Poder Judiciário cumpra com seu papel. Mas, sobretudo, é preciso trazer o povo mais pobre à cidadania outra vez. Quando eu governei, de 2003 a 2010, nós fizemos a maior política de inclusão social que a história desse país conheceu: nós geramos 22 milhões de empregos, nós aumentamos o salário mínimo, nós fomos o governo que mais fez universidade e escola técnica nesse país. E por isso eu até gostaria de fazer uma pergunta para o candidato meu adversário: quantas universidades e quantas escolas técnicas o senhor fez como Presidente da República?
[Jair Bolsonaro]: Primeiramente, o senhor Lula confunde auxílio emergencial com Auxílio Brasil, o auxílio emergencial de 600 reais. E o senhor, que fala tanto de pobre, deixar bem claro: durante o ano de 2020, quando o povo foi obrigado a ficar em casa não por decisão desse presidente, mas por decisão de muitos governadores do seu partido, eles iam morrer de fome. E só de auxílio emergencial em 2020 nós gastamos o equivalente a 15 anos de Bolsa Família. E o Bolsa Família pagava muito pouco. Eu tinha vergonha de ver as pessoas mais humildes, em especial no Nordeste, do interior do Nordeste, recebendo... algumas famílias começando a receber 42 reais por mês. Se o senhor podia dar algo melhor, como está dizendo agora, por que é que não deu lá atrás? Por que agora, quando chega e passa para 400, contra a sua bancada do PT, e depois passa para 600, o senhor quer se arvorar de grande benfeitor, que vai prometer? O senhor promete o tempo todo. O senhor prometeu levar água para o Nordeste, e agora o senhor está prometendo picanha e cerveja. O senhor não fica vermelho com essas propostas mirabolantes e mentirosas? Creio que, para governar o Brasil? tá? Nós temos passado. Nós não somos candidatos aqui de primeira viagem. Então o senhor tem seu passado, que é lamentável, é triste, em especial entre os mais humildes, os mais pobres do Brasil. Eu quero falar agora com o pessoal do Nordeste: quanto era o Bolsa Família? Começava com 40 reais. Nós triplicamos, com o Auxílio Brasil, a média do Bolsa Família. Hoje a dona de casa vai ao supermercado e compra realmente algo para levar para casa. No passado, ia com o carrinho vazio. Então promessas estamos cheios, e a grande prova de promessas vazias é esta que o senhor aqui e o seu partido foi contra a criação do Auxílio Brasil.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu perguntei quantas universidades você fez. Perguntei quantas escolas técnicas você fez. E você vem falar do Bolsa Família? O nosso programa de inclusão social não era só o Bolsa Família. O nosso programa de inclusão social foi a maior política de distribuição de renda que esse país já conheceu para o pobre, porque ajuda ao pequeno produtor rural, era um milhão e quatrocentos mil cisternas que nós fizemos para o Nordeste, era o PNAE para levar comida para as crianças mais pobres, e a gente comprava do pequeno produtor. Além do aumento do salário mínimo de 74%. Mas eu queria voltar à pergunta inicial: Quantas universidades e escolas técnicas o seu governo fez?
[Jair Bolsonaro]: Seu Lula, durante a pandemia, dois anos as universidades ficaram fechadas. Não tinha cabimento você abrir universidade para ficar fechada. Agora, o senhor junto ao Fies, o senhor ofereceu crédito a milhões de jovens, milhões de jovens. E mais de um milhão estava endividados sem condição de pagar esse crédito, o Fies. O que meu governo fez? Mandou a proposta para o Parlamento, e nós juntos permitimos a anistia de até 99% da dívida dessa garotada. Nós tiramos essa garotada da inadimplência. Do SPC. Do Serasa. O senhor mais endividou a garotada do que deu ensino de qualidade.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu já percebi que ele não quer dizer que vergonhosamente ele fez uma universidade em Tocantins, que a Presidenta Dilma é que tinha aprovado. Porque nós fizemos 18 universidades novas, 178 campus, além do Prouni e do Fies. O Fies a pessoa não tinha que pagar enquanto estava estudando. Eu não vou perguntar de universidade, porque parece que o senhor não sabe. Parece que não sabe que não fez nenhuma. Mas vou perguntar de pandemia. O Brasil tem 3% da população mundial. E o Brasil teve 11% das mortes da pandemia no mundo. Por que que houve tanta demora para se comprar vacina? O senhor não se sente responsável? O senhor não carrega nas costas um pouco do sofrimento dos brasileiros de ser responsável pelo menos por 400 mil mortes nesse país?
[Jair Bolsonaro]: Primeiramente, Sr. Lula, falam que atrasei a vacina em 2020. Não existia vacina à venda em 2020. A primeira vacina no mundo foi aplicada em dezembro de 2020. Em janeiro do ano seguinte, um mês depois, o Brasil começou a vacinar. Nós compramos mais de 500 milhões de doses de vacina. E todos aqueles que quiseram tomar vacina, tomaram. E o Brasil foi um dos países que mais vacinou no mundo e em tempo mais rápido. Então o senhor se informe antes de fazer acusações levianas e mentirosas. Porque, afinal de contas, se o senhor não mentir o senhor deixa de...
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu não faço acusações mentirosas. São dados científicos. O senhor atrasou a vacina, depois tendo um processo inclusive de corrupção definido e denunciado pela CPI. E o fato concreto é que a sua negligência fez com que 680 mil pessoas morressem quando mais da metade poderia ter sido salva. A verdade é que o senhor não cuidou, debochou, riu, dizia que quem tomava vacina virava jacaré, virava homossexual, que não podia tomar vacina. O senhor gozou das pessoas, imitou as pessoas morrendo afogada por falta de oxigênio em Manaus. Ou seja, não tem na história de nenhum governo do mundo alguém que brincou com a pandemia e com a morte como você brincou. Brincou. É só mostrar na televisão. Não vai dizer que é fake news, não. Porque você aparece na televisão rindo, imitando pessoas sem ar. Você aparece dizendo que quem tomar vacina vai pegar... virou remédio, você virou vendedor de um remédio que não servia para nada. Você divulgou um remédio que a ciência negou o tempo inteiro. Você não respeitou o Butantan, você não respeitou a Fiocruz que são laboratórios de excelência nesse país que poderia ter lhe ajudado. Se tivesse humildade, você poderia ter resolvido parte do problema. Mas certamente você não quis resolver porque você não quis entender o sofrimento do povo.
[Jair Bolsonaro]: Seu Lula, tem um vídeo do senhor, o senhor dando graças a Deus que a natureza criou o covid. Seu Lula, o que eu fui contra foi o protocolo do seu Mandetta que mandava a pessoa infectada ir para casa até sentir falta de ar. E eu fiquei indignado com isso. A vacina, seu Lula, não é para quem está contaminado, a vacina é para quem ainda não foi contaminado. A questão do tratamento precoce, tendo ou não comprovação científica, que era algo inédito no mundo todo, tirou-se a autonomia do médico. A tal da receita off label. Isso que foi castrado no Brasil.
A história mostrará quem está com razão. Isso que o senhor fala, de vídeo no YouTube, eu zombando, é só ver as imagens, é exatamente ao contrário. Eu falo como uma pessoa insiste em casa, e depois, daquela maneira, ir para o hospital. Agora, deixar bem claro, quando se fala em corrupção, corrupção fez o seu partido na covid. Quando chegou na CPI a notícia de 50 milhões de reais desviados do Sr. Carlos Gabas, ex-Ministro de Dilma Rousseff, que passeava de bicicleta com ela, a CPI, dos seus amigos Renan Calheiros e Omar Aziz, não quis investigar; 50 milhões torrados em uma casa de maconha, não chegou nenhum respirador, e daí sim irmãos nordestinos morreram por falta de ar, por corrupção do Sr. Carlos Gabas, deixar bem claro, e, em especial, o seu Governador da Bahia, Rui Costa. Então, o consórcio do Nordeste, ao qual o senhor tinha amplo conhecimento e domínio, praticou corrupção e matou, sim, irmãos nordestinos sufocados em hospitais.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Se você tivesse o mínimo de responsabilidade para cuidar da CPI, você teria primeiro ouvido os governadores dos estados. Eles criaram um consórcio, eles tentaram comprar vacinas. O Ministério da Saúde não permitiu. E quando o Brasil começou a dar vacina, em janeiro de 2007, São Paulo começou a dar vacina, 57 países já tinham dado a vacina. A verdade, Bolsonaro, é que você colocou um Ministro da Saúde que não entendia. O único que parece que entendia um pouco era o Mandetta, que o senhor tirou logo. Depois colocou outro que não entendia, até chegar no Pazuello. O Pazuello era visível que não entendia nada de Saúde. Era visível que tinha sido montada uma turma lá para comprar vacina. Ou seja, tinha denúncia de que a CPI provou e está no processo, eu espero que o Procurador vá investigar, de que tinha gente reivindicando um dólar por cada dose de vacina vendida. Isso está no relatório da CPI. O Brasil inteiro viu, e obviamente que o povo espera que um dia a Procuradoria-Geral da República investigue para saber o fundo de verdade ou não.
[Jair Bolsonaro]: Segundo a CPI, a Covaxin não vendeu nenhuma vacina no Brasil. Então para de mentir. Não teve corrupção porque não teve vacina no Brasil. Agora, o senhor falou uma coisa importante, eu poderia ter conversado com governadores do consórcio do nordeste. Então, digo uma coisa, Sr. Lula, eu poderia ter acabado com a CPI da covid rapidamente. Sabe como? Se eu acolhesse uma emenda do Sr. Omar Aziz, teu amigo, Senador lá do Amazonas, e do irmão do Senador Renan Calheiros, Renildo Calheiros. Porque queriam, nessa emenda, a uma Medida Provisória nossa, que qualquer Governador e Prefeito que pese grande maioria serem honestos, pudessem comprar vacina em qualquer lugar do mundo sem a certificação da Anvisa e sem a licitação. Seria a festa, a roubalheira maior. E quem pagaria a conta? O Governo Federal. Então, não aceitamos a continuidade da roubalheira do consórcio do nordeste, depois de 50 milhões, queria continuar comprando vacina em qualquer lugar do mundo sem certificação e sem licitação. Uma vergonha se tivesse sido aprovado. Não aceitei isso ser aprovado, e a CPI foi embora e não achou nada sobre mim ou sobre o senhor Pazuello porque nada nós devemos.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: É uma vergonha, na verdade, você carregar nas costas a morte de 400 pessoas, que poderia ter sido evitada, se tivesse comprado a vacina no tempo certo, no tempo correto. A ciência fala isso todo dia. O senhor recebeu propostas de vacina muito cedo e não quis comprar porque não acreditava. É visível. O povo brasileiro sabe que você começou não acreditando na pandemia. Era uma gripezinha. Era uma coisa que ia matar um ou outro velhinho. Era assim que você tratava a questão da pandemia. O Mandetta foi mandado embora porque o Mandetta dizia que a pandemia era grave, que era preciso cuidar. Mas você não, você resolveu dizer que era uma gripezinha, brincava de não tomar vacina, colocou em sigilo o seu cartão de vacina para ninguém saber que você tomou ou não tomou. Ou seja, numa atitude que afrontava a fé do povo brasileiro, que queria um Presidente que cuidasse com carinho, que evitasse a quantidade de mortes que houve. Isso não foi feito pelo Presidente Bolsonaro.
[Jair Bolsonaro]: Em fevereiro de 2020, nós decretamos estado de emergência no Brasil. A TV Globo, com todo o seu conglomerado, o Sr. Drauzio Varella, começaram a falar exatamente o contrário. "O Brasil é um clima quente, não tenham medo da covid". E quem falou em gripezinha foi lá. Porque eu sempre disse que as pessoas saudáveis não tinham o que temer ao tocante à covid. Não poderiam abusar, obviamente. E nós recomendamos aos mais idosos e aos com comorbidade que realmente tomassem cuidado. Foi o papel do Governo, que em primeiro lugar talvez no mundo decretou estado de emergência, que foi ignorado por aqueles que queriam o carnaval a qualquer preço.
Então, Sr. Lula, não continue mentindo, pega mal até para a sua idade; pelo seu passado não vou dizer, porque seu passado é lamentável.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ah, mentindo é você! Mentindo é você, porque os números estão ali na imprensa todo dia. Os números... e você é o rei das fake news, é o rei da estupidez de mentir para a sociedade brasileira, que você mentiu sobre a vacina o tempo inteiro, negligenciou a vacina, e o Brasil hoje carrega a pecha de ser o país, sabe, que tem mais morte pelo covid. É lamentável. E mais ainda ... mais ainda... o senhor não se dignou a visitar uma família que teve alguém que morreu de covid, e depois, para mostrar que é bonzinho, tentou ir no enterro da Rainha da Inglaterra, quando poderia ter visitado centenas de pessoas que morreram do covid aqui... diz que não morreu nenhuma criança; morreu duas mil crianças de covid. Mas diz que não morreu, porque o senhor não queria acreditar na covid. Era preciso continuar mentindo sobre a covid, era preciso continuar desacreditando, e eu sei o que é que pensa o povo que perdeu algum ente querido. Eu mesmo perdi uma sogra, sabe, por causa do covid.
[Jair Bolsonaro]: Fez discurso em cima do caixão da esposa e está se comovendo pela sogra. Sr. Lula, entenda uma coisa, Sr. Lula? entenda uma coisa, por favor: os enterros eram com caixão lacrado; ninguém podia ir ao enterro, nem familiares. E eu visitei hospitais, sim, e o senhor não tem conhecimento. Só que eu não preciso fazer propaganda do que faço. Me comovi. Me? preocupei com cada morte no Brasil. Repito, o Brasil é o país...
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você se preocupou como?
[Jair Bolsonaro]: Me interrompendo.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você ria o tempo inteiro! Agora que você está candidato, você está mostrando uma seriedade que deveria ter mostrado lá. É isso.
[Jair Bolsonaro]: O rio...
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Simples assim. Você não foi num hospital, não foi visitar uma pessoa, não foi visitar um parente.
[Jair Bolsonaro]: O rio é mais uma mentira tua, basta ver o vídeo quando aconteceu a questão da falta de ar. Vocês são especialistas em pegar vídeos, filmes, e cortar o pedaço que interessa para vocês.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você sabe quem é especialista nisso?
[Eduardo Oinegue]: Candidato Lula?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você sabe quem é o rei das fake news.
[Jair Bolsonaro]: Então é o seguinte: se o Haddad...
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você sabe...
[Eduardo Oinegue]: Candidato Lula, deixa o presidente... candidato Bolsonaro terminar o raciocínio.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ah, tá bom.
[Jair Bolsonaro]: Repito: nós compramos 500 milhões de doses de vacina, entregamos, com a logística nossa, para Estados e municípios. O Brasil foi um exemplo para o mundo no tocante à vacinação. Menos de um mês depois da primeira dose aplicada no mundo, o Brasil começou a aplicar, e todas vacinas foram compradas pelo Governo Federal. Nos orgulhamos desse trabalho. Salvamos milhões de vidas. Se fosse com alguém do teu Governo, alguém do Consórcio Nordeste, vocês tinham roubado tudo e teria morrido muita gente cujas mortes poderiam ter sido...
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou lhe contar como é que se vacina. Em 2010, teve a gripe H1N1. Em três meses, nós vacinamos 80 milhões de pessoas. Em três meses. Porque o Brasil é um país que tem expertise em vacinação. Aliás, o Brasil é exemplo para o mundo em vacinação. O Brasil vacilou quando teve um presidente que não cuidou e que não foi responsável, que brincava e que não acreditava na vacina. E a verdade é essa. A verdade é essa, sabe? O senhor carrega nas costas um peso de pelo menos 400 mil pessoas que morreu por conta do negligenciamento e o negacionismo da vacina.
[Jair Bolsonaro]: Chega de mentira, vamos passar para outro assunto aqui. Em 2006, 59 policiais foram executados aqui no Estado de São Paulo. E por que isso? Porque teriam que transferir o Marcola para um presídio de segurança máxima. Ele não podia mais ficar aqui comandando o crime. O seu governo não transferiu o Marcola. Pelo que tudo indica, fez um acordo com o Marcola e com seu Alckmin, que era Governador de São Paulo naquele tempo. Repito: 2006, 59 policiais assassinados em São Paulo. Teve que eu chegar, em 2009... em 2019, juntamente com o Ministro Sergio Moro, para que nós então tirássemos o Marcola de presídio estadual aqui em São Paulo e mandasse para um presídio federal, em um regime todo especial, sem qualquer comunicação com o mundo exterior. Isso rapidamente começou a cair o número de mortes violentas em nosso país. Por que você não transferiu o Marcola em 2006, já que tinha um pedido do MP estadual para fazer isso? Era simpatia, amizade ou um grande acordo, naquele momento, juntamente com o seu vice, atualmente, Geraldo Alckmin?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: O candidato sabe que quem cuida de crime organizado não sou eu. Quem tem relação com miliciano e crime organizado, ele sabe que não sou eu, e sabe quem tem. Sabe inclusive da culpabilidade que foi o crime organizado que matou a Marielle no Rio de Janeiro. Eu se tivesse pedido pra transferir, a gente transferia porque fui eu que fiz prisão de segurança máxima. Cinco prisões. Cinco. Cinco prisões de segurança máxima feito no meu governo. Se o Alckmin governador não quis transferir, é porque ele tinha razão para não transferir. Quem sabe a segurança dele tinha razão para transferir. Mas o dado concreto é o seguinte: você está falando com o cara que fez cinco presídios de segurança máxima nesse país. Quantos você fez? Nenhum. Nenhum. Então, eu acho que a mentira aqui não é minha. A mentira aqui é de um presidente que não pode mentir, porque o presidente tem que respeitar o cargo, não é possível.
[Jair Bolsonaro]: Seu Lula, amizade com bandido. Eu conheço o Rio de Janeiro, o senhor esteve atualmente no Complexo do Salgueiro. Não tinha nenhum policial ao seu lado. Só traficante. Tanto é verdade, a sua afinidade com traficantes, com bandidos, que nos presídios do Brasil, cada cinco votos, o senhor teve quatro votos. E quando a gente volta para o Marcola, o Marcola foi flagrado. Teve ligação telefônica grampeado. E ele diz ali, chama o senhor de um palavrão, que eu não vou falar aqui, e diz que prefere o senhor do que a mim. Essa é a verdade. Fazer presídio e deixar os amigos soltos em outro presídio comandando o crime isso é um crime, seu Lula.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Sabe o que eu tenho orgulho? É que eu sou o único candidato à Presidente da República que tenho coragem de entrar numa favela. Sem colete de segurança. E já não é agora, quando eu era Presidente, eu entrava no Rio de Janeiro, as pessoas falavam "vai com cuidado porque o Bolsonaro é amigo dos milicianos. Você vai com cuidado". Eu ia. Eu ia sabe por quê? Eu acredito no povo. E eu fui numa comunidade no Complexo do Alemão, povo extraordinário, trabalhador, fizemos uma passeata extraordinária e exuberante, e ali não tinha bandido na passeata. Ali tinha mulheres e homens que trabalham, que levantam cinco horas da manhã para trabalhar. Os bandidos o senhor sabe onde estão. Os bandidos... tinha um vizinho seu que tinha cem armas dentro de casa. O senhor sabe. Esse não era da favela do Complexo do Alemão. Esse morava no apartamento na Avenida Copacabana. É achar que bandido tá só no lugar dos pobres? Os grandes bandidos estão no lugar dos ricos. Os pobres são trabalhadores, e eu vou voltar no Complexo do Alemão, porque não foram os presos que votaram em mim. Foi o povo brasileiro. Tive seis milhões de votos a mais do que você, com toda essa gastança que você fez. Se pegar todos os presidentes, desde Marechal Deodoro até agora, ninguém colocou 10% do dinheiro que o senhor colocou nessa coisa. Só eu falar uma coisa, o senhor vai lá e faz. Falei do preço da gasolina, vai lá e reduz o preço da gasolina. Ele reduziu, mas vai aumentar outra vez. Diz que não manda na Petrobras, que é o presidente que aumenta. Então, Bolsonaro, se tem um mentiroso aqui, esse mentiroso chama-se Jair Messias Bolsonaro, que tem mentido diariamente ao povo brasileiro. Inclusive levar água para o Nordeste. Todo mundo sabe que quem fez a transposição do São Francisco foi esse que vos fala, porque sou nordestino, já tive experiência de carregar pau d'água e lata d'água na cabeça. Portanto, não minta.
[Jair Bolsonaro]: Transposição do São Francisco. Era pra ter acabado em 2010, no seu governo. Passou para 2012, Governo Dilma. Só que o Brasil vivia uma explosão de corrupção. O senhor negou água para seus irmãos nordestinos. Eu fui lá, com o Rogério Marinho, que agora se elegeu senador pelo Rio Grande do Norte. O povo reconheceu o trabalho dele. O senhor fez, na verdade, uma obra que não chegava a lugar nenhum. Pegamos uma obra parada há quase dez anos. É pior do que começar uma obra. O senhor desviou sim foi muito dinheiro para corrupção. Tudo tinha corrupção no seu governo. Tudo. O senhor negou água para nordestino. Eu levei água com a transposição e com Rogério Marinho. E mais ainda, o Exército tem trabalhado muito no Nordeste para cavar poços para essas pessoas que eram longe desses córregos enormes que a água do São Francisco. Então, o senhor realmente maltratou. Tinha que ser prioridade total sua. Prioridade número um e não zero. E não fez isso. Negou água para o povo nordestino. O senhor realmente é uma pessoa fantástica em falar em vergonha nacional.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, eu vou contar uma coisa para você: se tem uma coisa que é cara de pau é o cara de pau desse cara. Porque eu fiz 88% das obras do São Francisco. Ele fez 3,5%. 3,5%. Da mesma forma que ele fala que fez ferrovia. Da mesma forma que fala que fez a 163. Tudo feito pelo Governo do PT. Mais de 80% das obras feitas. E ele vai lá, termina. Quando tomei posse em 2003, o Fernando Henrique Cardoso estava fazendo uma ponte lá na divisa Minas com Mato Grosso, eu fui lá inaugurar e fiz justiça ao Fernando Henrique Cardoso, disse que era dele. Você poderia pelo menos ter sensatez de quando inaugurar, falar: gente, quero dizer que essa obra aqui é do Presidente Lula. Ele foi mais competente que eu. Ele fez a obra. Sabe? Eu só vou aqui dar um empurrãozinho para acabar esse pedacinho que tá faltando. Mas dizer que foi sua? Você acha que alguém acredita? Acha que o nordestino que está vendo a gente na televisão acredita que foi você que levou água? Que você fez ferrovia? Cadê um projeto seu?
[Jair Bolsonaro]: E o senhor fez 86% das obras no seu Governo?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: 88.
[Jair Bolsonaro]: Parabéns, 88. Dilma ficou mais meia dúzia/anos. Não terminou os doze que faltavam. Se o senhor mandava no Governo Dilma, quem está mentindo? Por que em seis anos não concluiu já que faltavam apenas 12%? Quando fala em BR-163, não inventa. Faltavam 50 quilômetros, essa BR que passa pelo Pará. Quando assumimos, o Tarcísio em seis meses, com Exército Brasileiro, fez essa obra, que passou pelo seu Governo, por Dilma, 14 anos, e esses 50 quilômetros foram esquecidos. Ou seja, não fale em infraestrutura e não fale água para o Nordeste sem ter o mínimo de conhecimento. O senhor deve se lembrar muito bem é dos desviados, em dinheiro, e não em água para o Nordeste.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: O Tarcísio aprendeu trabalhando com a Dilma, porque o Tarcísio foi do PAC, com a Dilma, com quem aprendeu a fazer essas obras. Ele trabalhou com a Dilma. Não sei se você sabe. Ele foi do PAC quando Dilma era Presidente da República. O dado concreto, Bolsonaro, é o seguinte: o dado concreto é que, no nosso Governo, nós fizemos a maior política de infraestrutura que esse país já conheceu. Maior. Maior. Talvez eu tenha perdido do Geisel, quando ele fez o Proálcool, nos anos 75. Porque nós fizemos a maior quantidade de obras de infraestrutura que esse país já conheceu. Geramos muito emprego, muito, mas muito emprego de carteira profissional assinada, coisa que vossa excelência não faz.
[Jair Bolsonaro]: O senhor fala muito. Na verdade, nada fez. O Tarcísio, sim, trabalhou, mas ele não era dono da caneta, não era dono do recurso. Fez o possível. E quando foi trabalhar comigo, ele sentiu-se como a pessoa mais útil do mundo, o que foi verdade. Concluiu obras por todo o Brasil. Se invés de ter ministros, como o senhor teve no passado, quase todos presos, tivesse pessoas da linha do Tarcísio na frente, muitas obras seriam feitas, sim. Então, a grande verdade, o senhor não fez nada pelo Brasil, a não ser transpor dinheiro público para o seu bolso e dos seus amigos.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olhe, ainda bem que você está assistindo, e eu quero até parabenizar a Bandeirantes porque o horário do debate é nobre: oito horas. Porque um cidadão ter a cara de pau e desfaçatez que tem, o Presidente, de dizer que nós não fizemos nada para o país? Ele era deputado, ele nunca fez um discurso contra o Governo Lula. Nunca fez um discurso. Procurei nos anais do Congresso Nacional, esse cara tem raiva do Lula, ele tem feito discurso contra o Lula. Não! Não, ele não fez. Sabe por quê? Porque no fundo, no fundo, ele sabe que eu fui o Presidente que mais investi nesse país, e mais ainda, foi o que mais cuidei das Forças Armadas. A Aeronáutica não tinha avião, não tinha navio, o Exército não tinha nem coturno, e eu dei.
[Jair Bolsonaro]: Na verdade, nas Forças Armadas não tinha ministro. Você botou gente incompetente na frente do Ministério da Defesa. Gente que não tinha conhecimento de nada. Uma vergonha na frente! Agora falar que não fiz nenhum discurso contra você, Lula, oito anos de Governo? Eu não vou nem rebater isso aí. Pelo menos, dois por semana eu fazia, mostrando as mentiras e inverdades e corrupção do seu Governo.
[Eduardo Oinegue]: Obrigado, candidatos. Você está acompanhando o primeiro debate entre candidatos à Presidência da República, no segundo turno, realizado por um pool que reúne o Grupo Bandeirantes, o jornal Folha de São Paulo, a TV Cultura e o UOL.
[Adriana Araújo]: Logo após o intervalo é a vez dos jornalistas fazerem as perguntas aos candidatos.
[Eduardo Oinegue]: Olho no voto. Eleições 2022.
*Participaram desta cobertura:
Em São Paulo: Ana Paula Bimbati, Beatriz Gomes, Caê Vasconcelos, Felipe Pereira, Herculano Barreto Filho, Isabela Aleixo, Juliana Arreguy, Letícia Mutchnik, Lucas Borges Teixeira, Stella Borges, Saulo Pereira Guimarães e Wanderley Preite Sobrinho.
No Rio de Janeiro: Lola Ferreira.
Em Brasília: Camila Turtelli, Leonardo Martins e Paulo Roberto Netto.
Colaboração para o UOL: Amanda Araújo e Pedro Villas Boas.
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