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Leia a íntegra do segundo bloco do debate presidencial no UOL

Do UOL, em São Paulo, no Rio e em Brasília*

16/10/2022 21h14Atualizada em 16/10/2022 22h51

Aconteceu neste domingo (16) o primeiro debate do segundo turno das eleições 2022 entre os candidatos à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). A realização foi do UOL em parceria com a Band, a Folha de S.Paulo e a TV Cultura.

No segundo bloco, os candidatos responderam às perguntas dos jornalistas do pool de veículos que organizou o debate. Bolsonaro se comprometeu a não aumentar o número de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e citou a polêmica de pedofilia envolvendo seu nome, quando ele comentou, durante uma live, sobre um contato com meninas venezuelanas de 14 e 15 anos.

Leia aqui a íntegra do segundo bloco do debate no UOL:

[Adriana Araújo]: Estamos de volta ao vivo com o primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República neste segundo turno, um encontro realizado por um pool que reúne o Grupo Bandeirantes, a TV Cultura, Folha de São Paulo e o Portal UOL.

[Eduardo Oinegue]: O programa é exibido também no Bandnews TV e nas rádios Bandeirantes e Bandnews FM. Neste bloco, jornalistas das empresas que integram o pool fazem as perguntas para os candidatos.

[Adriana Araújo]: Cada jornalista faz uma pergunta, que será respondida pelos dois candidatos, e o tempo para resposta é de um minuto e meio.

[Eduardo Oinegue]: Lembro que a ordem de resposta foi definida em sorteio prévio e será intercalada a cada nova pergunta. O primeiro a responder será o candidato Lula, e quem faz a pergunta é a jornalista da TV Cultura Vera Magalhães.

[Vera Magalhães]: Boa noite, candidatos, boa noite a todos. A minha pergunta é sobre a relação entre os poderes. A separação e a independência entre os poderes da República é uma das cláusulas pétreas da Constituição. Ainda assim, tramitam no Congresso uma série de propostas que visam alterar a composição do Supremo Tribunal Federal, aumentando o número de ministros ou estabelecendo mandatos que acabariam com a vitaliciedade desses integrantes do Supremo. Essas medidas têm sido defendidas por alguns como uma forma de conter supostos abusos do Judiciário, mas são vistas também como ameaças à democracia por juristas e observadores de como essas práticas ocorreram em países como Venezuela ou Hungria. Eu queria saber se os senhores se comprometem, caso eleitos, a respeitar a separação dos poderes e a sua independência e descartar esse tipo de medida.

[Eduardo Oinegue]: Candidato Lula, um minuto e meio.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ô Vera, você vai ver que eu vou chegar perto da câmera que você falou, não vai ter nenhuma agressão minha a você. Primeiro porque nós já tivemos uma experiência no tempo da ditadura militar de mudar a composição da Suprema Corte. O Castelo Branco mudou. Mudou de 11 para 17, depois ele tirou cinco que ele não gostava e ficou só os que ele queria. Não é prudente, não é democrático um Presidente da República querer ter os ministros da Suprema Corte como amigos. Você não indica um ministro da Suprema Corte para ele votar favorável a você ou te beneficiar. Os ministros da Suprema Corte têm que ter currículo. As pessoas têm que ter história, têm que ter biografia, e essa gente tem que fazer o que precisa ser feito. E eu tenho orgulho, porque foi os ministros que eu indiquei que votaram célula tronco, votaram Raposa Serra do Sol, votaram a união civil, ou seja, foram pessoas que tiveram uma postura de dignidade. Eu, sinceramente, eu estou convencido que tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo, para colocar companheiro, para colocar partidário é um atraso, é um retrocesso que a República brasileira já conhece, já conhece muito bem, e eu sou contra. Eu acho que a gente pode discutir no futuro, se tiver uma nova constituinte, sabe, quem sabe ter mandato ou não, quem sabe as pessoas terem uma limitação maior. Mas eu acho que a Suprema Corte tem que ser escolhida por competência, por currículo, e não por amizade.

[Eduardo Oinegue]: Candidato Jair Bolsonaro, por favor, um minuto e meio.

[Jair Bolsonaro]: Prezada jornalista Vera, satisfação revê-la. Só que, para deixar bem claro, a proposta de emenda à Constituição ora em tramitação na Câmara é da Sra. Luiza Erundina. E tem 40 deputados do PT que deram o devido apoiamento. Ou seja, em 2013, a Sra. Dilma Rousseff, que exercia forte influência do Sr. Lula, tentou criar mais quatro vagas para o Supremo Tribunal Federal. Da minha parte, tá feito o compromisso: não terá nenhuma proposta, como nunca estudei isso com profundidade. Mas deixo claro: no momento, o PT tem sete ministros indicados pelo Supremo Tribunal Federal; eu tenho dois. Caso eu venha a ser reeleito, eu tenho mais dois: eu ficaria com quatro e o PT, com cinco. Está feito o equilíbrio. Agora, quanto a currículo, obviamente isso passa por cada presidente, que é uma indicação do mesmo e passa por uma sabatina no Senado Federal. Faltou só, Sr. Lula, o senhor dizer que o senhor só é candidato a Presidente da República por causa de um ministro que foi cabo eleitoral de Dilma Rousseff e depois por ela foi indicado para o Supremo Tribunal Federal, o Sr. Fachin. Então, o senhor só está disputando eleição aqui por obra e graça de um amigo indicado pelo PT.

[Adriana Araújo]: Bom, enquanto o candidato Jair Bolsonaro respondia, o Presidente Lula levantou a mão solicitando direito de resposta. Só um minutinho, por favor, candidato. Está sendo encaminhado à comissão, daqui a pouquinho a gente traz essa resposta se será concedido ou não. Bom, acabo de receber a resposta já, o pedido de direito de resposta não foi concedido. Vamos seguir então com o debate. A próxima pergunta a ser respondida, primeiro pelo candidato Jair Bolsonaro, quem faz é o jornalista do Grupo Bandeirantes, Rodolfo Schneider. Boa noite, Rodolfo.

[Rodolfo Schneider]: Boa noite. Boa noite, candidatos. Os senhores têm sido muito cobrados e até criticados por não entrarem, aprofundarem tanto em alguns setores, colocando mais propostas e ideias. Então, eu queria falar um pouco sobre economia. No primeiro turno, aqui nesse debate, perguntei aos dois sobre os 600 reais. De onde virão 600 reais para o auxílio tão fundamental para milhões e milhões de brasileiros? De onde viria, já que não está na previsão? Estouraria o teto? Tiraria de outros orçamentos? Isso não foi respondido pelos dois, é uma boa oportunidade. Mas queria pegar outro ponto na questão da economia. Privatização. O presidente Jair Bolsonaro recentemente defendeu, na questão de preço, a privatização da Petrobras. Queria saber se continua defendendo, qual seria a política de preços. E no caso também do Presidente Lula, o que seria a sua política com a Petrobras e também política de preços com relação aos combustíveis. Boa noite.

[Adriana Araújo]: Obrigada. Candidato Bolsonaro, um minuto e meio.

[Jair Bolsonaro]: Política de preços. A COVID, a pandemia, o fica em casa, uma guerra lá fora, explodiu o preço dos combustíveis no mundo todo. No Brasil não foi diferente. Agora nós tínhamos obrigação de buscar uma alternativa. Fomos ao Parlamento, à Câmara e ao Senado. Foi apresentada uma proposta, um projeto muito debatido. No final, o Congresso votou e eu sancionei — A redução do teto do ICMS para 17%, no máximo. E eu como presidente da República abri mão de todos os impostos federais dos combustíveis. Deixo claro que essa proposta, todos senadores do PT votaram contra. Obviamente, no Senado Federal. Isso puxou o preço das coisas lá para baixo. Estamos no terceiro mês com deflação. Segundo a ABRAS, do mês passado para agora, os produtos da cesta básica no supermercado caíram em média 20%. Temos hoje uma das gasolinas mais baratas do mundo. Trabalho de quem? Jair Bolsonaro e Congresso Nacional. O mundo todo com alta nos combustíveis, alta de inflação, e o Brasil no caminho certo com Paulo Guedes, orgulho do nosso governo. A economia e o povo em primeiro lugar.

[Adriana Araújo]: Candidato Lula, um minuto e meio.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Quando eu ouço o meu adversário falar, eu fico imaginando que mundo ele está. Primeiro porque esse país hoje só refina 80% da gasolina que usa. A gente refinava 100%. Refinada tudo que a gente consumia. Esse país parou de refinar, portanto, a gente tem hoje, com a privatização da BR, dizendo que a BR tinha monopólio, era preciso ter mais empresa concorrendo que iria baixar o preço. Vendeu-se a BR, ou seja, vendeu-se a BR e hoje nós temos 392 empresas importando gasolina do Estados Unidos sem pagar imposto e com preço dolarizado. Olha, na verdade, o preço não tem que ser dolarizado porque a gente faz a exploração em real, a gente paga o salário do pessoal em real, e a gente fazia as próprias plataformas e a sonda aqui, coisa que não faz mais. Eu acredito piamente que eu sou contra a privatização. Acho que privatizar a Petrobras é uma loucura, o governo dele acabou de privatizar os gasodutos e hoje a gente paga três bilhões de reais por ano de aluguel do gasoduto. Ou seja, em dez anos já se consumiu o dinheiro que pegou e mesmo assim a gente vai continuar pagando três milhão. Eu, sinceramente, acho que privatizar não é solução para nada.

[Eduardo Oinegue]: Quem pergunta é a jornalista da Folha de São Paulo, Patrícia Campos Mello.

[Patrícia Campos Mello]: Boa noite. O tema da minha pergunta é relações entre os poderes. As fake news divulgadas por autoridades eleitas e altos funcionários do Governo têm prejudicado a implementação de políticas públicas, e o debate eleitoral se transformou em uma guerra suja. Há uma avalanche de mentiras sobre as urnas e o sistema eleitoral, sobre religião, sobre vacinas, sobre Saúde Pública. Candidato Bolsonaro, o senhor já teve inúmeras declarações falsas removidas da internet. Candidato Lula, sua campanha já teve declarações falsas removidas da internet. Os senhores se comprometem a propor uma lei específica para que o judiciário imponha penas para autoridades eleitas, Presidente inclusive, e servidores que divulguem informações factualmente inverídicas que prejudiquem o bem-estar da população, como informações falsas sobre saúde e violência sexual, por exemplo, sim ou não?

[Eduardo Oinegue]: Candidato Lula, um minuto e meio.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, o meu adversário teve 36 processos, tirando... o programa dele, de mentira; 36 fake news a Suprema Corte tirou... O Superior Tribunal Eleitoral tirou dele, numa demonstração de que faz parte do cotidiano dele. A imprensa publica fartamente que pelo menos seis ou sete mentiras por dia são contadas. Brinca-se de contar mentira. Levanta de madrugada, tem vontade, vai e conta uma mentira, faz uma live e conta uma mentira, sabe? Levanta até uma hora da manhã para fazer live. Eu sinceramente acho? eu já participei de outras campanhas. Você sabe que eu já participei de campanha contra o Fernando Henrique Cardoso, contra o Collor, contra o Serra, e o nível era outro. Era um nível civilizado. Era um nível em que a verdade sempre prevalecia. A verdade sempre estava na Ordem do Dia. A gente debatia o futuro do país. a gente debatia a economia, debatia trabalho, debatia salário. Por exemplo, nós temos 36 milhões de pessoas que vivem com salário-mínimo, e faz quatro anos que não se aumenta salário-mínimo no país. Eu acho que a campanha tem que ser regulada, a Justiça tem que tomar decisão e toda vez que houver uma mentira, nós vamos entrar com processo para tirar as coisas que são mentirosas. Porque o povo, se votar num candidato passo que mente, sabe que o candidato não vai governar corretamente.

[Eduardo Oinegue]: Candidato Bolsonaro, um minuto e meio.

[Jair Bolsonaro]: Lula, se você não mentisse, não seria você. Você me chama o tempo todo de genocida, miliciano, canibal... E a última, o seu programa, influenciado por Gleisi Hoffmann, me acusou de pedofilia, tentando me atingir naquilo que tenho mais de sagrado: defesa da família brasileira, defesa das crianças. Ato contínuo o que aconteceu no dia de hoje. O Sr. Alexandre de Moraes dá uma sentença contrária a essas mentiras. Diz a sentença aqui: "A postagem realizada pela representada Gleisi Hoffmann (representa o PT), em 15 de outubro, agora, se descola da realidade por meio de inverdades, fazendo uso de recortes em encadeamentos inexistentes de falas gravemente descontextualizadas do representante Jair Bolsonaro, com o intuito de induzir o eleitorado negativamente. Tal contexto evidencia a divulgação de fato sabidamente inverídico, notadamente por se tratar de notícia falsa divulgada durante o segundo turno da eleição presidencial". Sem mentir. Aqui, de forma concreta, uma sentença do Ministro Alexandre de Moraes. Sem mentir. Você tem que falar do seu passado, que não tem nada que preste no seu passado. Tem que mentir para tentar denegrir a imagem dos outros.

[Adriana Araújo]: O próximo a perguntar é o jornalista do UOL, Josias de Sousa. Boa noite, Josias. Por favor.

[Josias de Sousa]: Boa noite, senhores candidatos. Eu vou perguntar sobre dois temas numa única pergunta. Os temas são relação entre poderes e governabilidade. O Governo Lula comprou o apoio do centrão com o Petrolão. O Governo Bolsonaro comprou o apoio do centrão com o orçamento secreto. A pergunta é muito singela: quem for eleito, em 30 de outubro, terá que se relacionar com o Congresso, há muitas reformas por aprovar. O que os senhores farão para que esse relacionamento se dê sem a necessidade de comprar apoio Legislativo?

[Adriana Araújo]: O primeiro a responder agora é o candidato Bolsonaro, por favor.

[Jair Bolsonaro]: Prezado Josias, por favor. Eu comprei com orçamento secreto? Eu vetei; derrubaram o veto. Agora, se eu comprei, eu tenho voto. Vamos supor que o senhor seja deputado. Se o senhor recebeu um dinheiro do orçamento secreto, o senhor vai votar comigo. É lógico ou não é? É lógico. Eu tenho aqui uma lista preliminar. 13 deputados do PT que receberam recurso desse tal orçamento secreto. Eu não tenho nada a ver com esse orçamento secreto. Posso até entender que o Parlamento trabalha melhor na distribuição de renda do que nós para o lado de cá, o meu Ministério da Economia e o Presidente. Agora, por favor, Josias, falar que eu comprei com orçamento secreto? Eu posso te trazer, em uma outra oportunidade, mais nomes que receberam fortunas desse dito orçamento secreto. Então, se eu tivesse esse poder, primeiro que eu tenho caráter, não faria isso. E só para controle: esse orçamento foi criado por Rodrigo Maia, sabidamente uma pessoa que queria tirar poderes de mim. Eu queria, na verdade, Josias, que fosse verdade, que o orçamento estivesse nas minhas mãos. Eu faria melhor uso dele, pode ter certeza disso, como o Tarcísio tem feito nas suas obras, o Rogério Marinho, entre outros. Agora, por favor, Josias, você é jornalista, você é uma pessoa inteligente: eu jamais daria dinheiro para essa turma toda aqui se não estivessem votando comigo, não é? Se bem que eu nunca comprei voto de ninguém.

[Adriana Araújo]: Por favor, candidato Lula, um minuto e meio.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ô Josias, a primeira coisa que você tem que aprender é que um Presidente da República, quando ele é eleito, ele vai governar e lidar com o Congresso que foi eleito. E quem elegeu o Congresso foi o povo brasileiro. Se os deputados são bons ou não, o povo brasileiro tem responsabilidade porque indicou, e é com quem tem mandato que o governo se relaciona. O suplente não vale, os que ficaram em segundo lugar não valem; é exatamente com as pessoas que foram eleitas. Isso vale para todos os presidentes da República. Vale para você, se fosse eleito presidente. Vou tentar confrontar essa história do orçamento secreto, eu vou tentar criar um orçamento participativo, que foi uma coisa que nós criamos nos estados brasileiros. Todo mundo se lembra que o sucesso do orçamento secreto nas prefeituras do PT foi— a ONU pediu para que a gente, sabe, fosse para o mundo divulgar o orçamento participativo. Agora, com a internet, nós vamos tentar fazer um orçamento participativo: nós vamos fazer— pegar o orçamento, nós vamos— O orçamento, no ano que vem, já está pronto. Eu vou ganhar as eleições, vou tomar posse, o orçamento estará pronto. Eu não sei se eu vou mudar o orçamento ou não, mas nós vamos pegar o orçamento e vamos mandar para o povo dar opinião para saber o que ele quer efetivamente que seja feito para ver se a gente consegue diminuir o poder de sequestro que o Centrão fez no Presidente Bolsonaro.

[Adriana Araújo]: Obrigada, candidatos. E assim chegamos ao final de mais este bloco do debate histórico que reúne os dois candidatos à Presidência no segundo turno, realizado aqui nos estúdios da Band em São Paulo, uma parceria do Grupo Bandeirantes com o UOL, TV Cultura e Folha de São Paulo. E eu aproveito para trazer uma informação para vocês de agora: neste momento, o debate já bateu recorde de maior live jornalística do YouTube da história!

[Eduardo Oinegue]: E depois do intervalo, um novo embate direto entre os candidatos; eu e a Adriana Araújo nos despedimos, porque o próximo bloco terá mediação de Leão Serva, da TV Cultura, e Fabíola Cidral, do UOL.

[Adriana Araújo]: Olho no voto, eleições 2022.

*Participaram desta cobertura:
Em São Paulo: Ana Paula Bimbati, Beatriz Gomes, Caê Vasconcelos, Felipe Pereira, Herculano Barreto Filho, Isabela Aleixo, Juliana Arreguy, Letícia Mutchnik, Lucas Borges Teixeira, Stella Borges, Saulo Pereira Guimarães e Wanderley Preite Sobrinho.
No Rio de Janeiro: Lola Ferreira.
Em Brasília: Camila Turtelli, Leonardo Martins e Paulo Roberto Netto.
Colaboração para o UOL: Amanda Araújo e Pedro Villas Boas.