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TSE: Moraes manda Lula apagar publicação que associa Bolsonaro a pedofilia

Lula e Bolsonaro, candidatos à Presidência em 2022 - Nelson Almeida e Evaristo Sá/AFP
Lula e Bolsonaro, candidatos à Presidência em 2022 Imagem: Nelson Almeida e Evaristo Sá/AFP

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

16/10/2022 18h36Atualizada em 16/10/2022 19h26

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, acolheu hoje (16) um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL) para que Lula (PT) se abstenha de explorar durante a propaganda eleitoral gratuita e em suas redes sociais vídeos que associem o candidato à reeleição ao crime de pedofilia.

"O contexto evidencia a divulgação de fato inverídico e descontextualizado. Não pode ser tolerada pelo TSE, notadamente por se tratar de notícia falsa divulgada no segundo turno da eleição presidencial. A divulgação tem aparente finalidade de vincular a figura de Bolsonaro ao cometimento de crime sexual", disse o magistrado.

Além do petista, sua esposa, Rosângela da Silva, e a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) também são alvos da decisão do ministro, que prevê multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento.

A decisão ocorre depois de, em entrevista ao canal Paparazzo Rubro-Negro, no YouTube, Bolsonaro ter usado a expressão "pintou um clima" ao se referir a adolescentes venezuelanas que estavam em uma casa visitada pelo presidente no Distrito Federal, em 2021.

"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na tua casa?' Entrei", falou Bolsonaro na entrevista.

"Tinha umas 15, 20 meninas, num sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora. E como chegou neste ponto? Escolhas erradas", seguiu o presidente.

Ao UOL, uma das venezuelanas que estava na casa visitada por Bolsonaro afirmou que, naquele dia, o local servia de espaço para uma ação social de corte de cabelo e design de sobrancelhas.

Desde a tarde de ontem, a declaração de Bolsonaro sobre as jovens repercute nas redes sociais. O assunto chegou a ser um dos mais comentados no Twitter, com os termos "Bolsonaro pedófilo" e "Bolsonaro pervertido" ultrapassando a marca de 100 mil citações.

"Com foco em público com baixa escolaridade (que teria natural dificuldade de checagem do contexto real dos fatos) e na criação de engajamento nas redes sociais (através de reprovação moral do Representante) busca-se, repita-se, transmitir a falsa e absurda ideia de que o candidato seria um pedófilo, tal como indica a postagem formulada pela esposa de Lula", diz o advogado Tarcísio Vieira, que representa Bolsonaro no TSE.

A ação faz faz parte de um conjunto de medidas tomadas pela campanha de Bolsonaro contra a campanha do adversário. Em outra frente, congressistas apoiadores do mandatário deverão reforçar a estratégia de resgatar frases controversas do petista sobre aborto e outros temas da chamada pauta de costumes, cara ao eleitorado de Bolsonaro.

No mesmo sentido, a equipe do presidente tem feito anúncios pagos com a frase "Bolsonaro NÃO é pedófilo" na internet.

"Ainda é cedo para calcular os danos que essa distorção covarde da fala do presidente pode provocar. Estamos focados em nivelar o jogo", disse um membro da campanha bolsonarista ao UOL. Afirmou ainda que a expectativa é o que tema seja abordado por Lula no debate, realizado hoje, às 20h, em parceria com Folha de S.Paulo, TV Bandeirantes e TV Cultura.

Bolsonaro se defende de críticas

Na madrugada deste domingo (16), o presidente usou suas redes sociais para se defender das críticas de que tem sido alvo por causa das declarações sobre meninas venezuelanas.

"Fiz uma live de dentro de uma casa de umas meninas venezuelanas. Devia ter umas 12, 13, 14 meninas. Eu mostrei a minha indignação, estava na região periférica de Brasília, quando eu parei e vi umas meninas de 14, 15 anos, arrumadas, meninas humildes, e eu pedi para entrar na casa delas", disse.

Sem explicar o que quis dizer com a expressão "pintou um clima" nem se informou a alguma autoridade sobre a suposta situação de exploração sexual, Bolsonaro afirmou que o PT tenta explorar as falas sobre o encontro de maneira deturpada.

"O PT recorta pedaços [da entrevista ao podcast] como se eu estivesse atrás de programas. Fiz uma live, foi demonstrado o que estava acontecendo. O PT pega pedaço e fala 'pintou um clima'? Que vergonha é essa? Sempre combati a pedofilia. Se fosse algo escondido, tudo bem, mas não foi nada escondido. Abri uma live por indignação sobre o que estava acontecendo."

Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também usou seus perfis nas redes sociais para defender o pai.

"É completamente abominável a mais nova mentira da esquerda! Pegou uma fala mal colocada do presidente para lhe imputar uma fake news nojenta! Um pai com uma filha e duas netas! Bolsonaro sempre foi um ferrenho combatente da pedofilia", afirmou o congressista.