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'Stuckinha, você não sabe p* nenhuma': Quem é Stuckert, fotógrafo de Lula?

Ricardo Stuckert, o fotógrafo de Lula - Diego Bresani/UOL
Ricardo Stuckert, o fotógrafo de Lula Imagem: Diego Bresani/UOL

Do UOL, em São Paulo

17/10/2022 12h01

Viralizou na madrugada de hoje um vídeo com o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, supostamente destratando seu fotógrafo pessoal, Ricardo Stuckert, durante debate de ontem organizado pelo UOL, Folha de S.Paulo, TV Cultura e TV Bandeirantes.

A polêmica surgiu nos bastidores do debate, enquanto o fotógrafo e membros da campanha petista orientavam Lula sobre como ele deveria se comportar diante das câmeras.

Quando o fotógrafo sugeriu a altura do banco em que o ex-presidente iria se sentar, Lula se levanta e diz o seguinte enquanto caminha pelo estúdio: "Stuckinha, você não sabe porra nenhuma".

De novo? Essa não é a primeira vez que a relação dos dois vai parar nas redes sociais. Em junho, Stucker tentou tirar uma garrafa de água das mãos do petista durante um ato de campanha, quando ouviu outro desaforo em tom de brincadeira: "Você é fotógrafo ou tomador da minha água?", questionou Lula.

Após a repercussão negativa, o ex-presidente tocou no assunto durante um evento de campanha. Ele disse que escreveram "num blog qualquer que dei um esporro com o fotógrafo, que eu fui grosseiro".

"Na verdade acho que ele está querendo dizer 'o Lula é igual ao Bolsonaro: ele grita com fotógrafo'", afirmou. "Essas coisas não pegam em mim."

O UOL procurou Stuckert, mas não recebeu resposta. A campanha da presidência preferiu não se manifestar, mas lembrou que "eles trabalham juntos há 20 anos".

Responsável pelo vídeo, a apresentadora do UOL New, Fabíola Cidral, afirmou em uma rede social que "não parecia agressão e sim brincadeira".

"Stuckert explicava sobre as câmeras e o uso da cadeira. E Lula brinca: 'Stuckinha, você não sabe porra nenhuma'", disse.

Mas afinal, quem é o Stuckinha?

Ricardo Stuckert, 52, é o fotógrafo oficial de Lula desde 2003, quando o petista foi presidente pela primeira vez. Brasiliense, canhoto e sempre de barba, Stuckert é o terceiro fotógrafo da família a acompanhar chefes de Estado.

O pai, Roberto Stuckert —morto no ano passado ao 78 anos—, acompanhava o general João Batista Figueiredo, o último presidente do Regime Militar. O irmão mais velho, Roberto Stuckert Filho, foi o fotógrafo de Dilma Rousseff (PT).

"Meu pai foi fotógrafo do último presidente militar; eu, do primeiro presidente operário; meu irmão, da primeira presidenta. São três momentos-chave da história do Brasil", afirmou Stuckert ao UOL no ano passado. "Meu pai é o Stuckão, eu sou o Stuckinha."

Os Stuckerts contam quatro gerações de fotógrafos. Entre vivos e mortos, são mais de 33 profissionais na família, desde os tempos do bisavô, um viajante alemão-suíço de Lausanne que desembarcou na Paraíba na década de 1930 com cartas náuticas e câmeras fotográficas na bagagem.

Na reportagem especial do UOL, Stuckert é descrito como alguém que "anda pra lá e pra cá com três smartphones no bolso, uma máquina fotográfica a postos na mão direita e uma filmadora na mão esquerda".

'Você faz fotografia ou ideologia?', você pode me perguntar. Eu faço fotografia, mas minhas ideias estão ali, minha visão de mundo está ali. As fotos devem falar por si."
Ricardo Stuckert, fotógrafo

O encontro com Lula. Casado com Cristina e pai de duas crianças, Stuckert estreou no jornalismo em O Globo, quando tinha entre 18 e 19 anos. Depois, passou por IstoÉ, Veja, Caras e IstoÉ de novo antes de conhecer o petista.

Depois de cobrir um debate na TV Globo na campanha presidencial de 2002, Stuckert foi ao hotel em que Lula estava hospedado para tentar uma foto exclusiva, quando foi surpreendido por um convite de Ricardo Kotscho, à época assessor de Lula e atualmente colunista do UOL.

"Lula pediu para te convidar para ser fotógrafo oficial dele, caso ele vença", disse Kotscho, segundo quem Stuckert "conquistou o presidente" durante um ensaio pré-eleições para a IstoÉ, ainda em 2002.

Pego de surpresa, o fotógrafo demorou a digerir a proposta e começou a divagar sobre com quem poderia conversar sobre o assunto. A conversa teria sido assim:

- Caramba, Kotscho, não sei o que dizer. Não posso contar pra ninguém, nem meu pai, nem meu irmão, nem...
- Não importa pra quem você vai contar. Quero saber se você aceitou.
- Mas sou muito novo, não sei se...
- Não entendi, você aceitou?
- Mas estou na revista e vou precisar...
- Desculpa, você aceitou?
- Deixa rolar, vamos ver o que acontece, mas não vamos falar nada pra ninguém ainda.
- Ô Stuckinha, você aceitou ou não?
- Aceito.

Recomeço. Ele continuou na revista IstoÉ até o final de 2002. Após a vitória de Lula no 2º turno, pediu demissão e finalmente contou a notícia ao pai. Desde então, Stuckert é um dos homens de confiança do ex-presidente.

Logo no início de mandato, Kotscho incumbiu o fotógrafo de modernizar o departamento de imagem da secretaria de comunicação do governo federal.

"Stuckinha estava presente o tempo todo. Lula deu acesso total: Granja do Torto, Palácio do Alvorada, jogo de futebol ou baralho no fim de semana — e ele sempre com a máquina pendurada no pescoço, até nos dias de folga. Hoje, deve ter um arquivo monumental da história recente da política brasileira", disse na época o colunista do UOL.

Mundo afora. Entre 2003 e 2011, o fotógrafo acompanhou o presidente em suas mais de 50 viagens pelo mundo. Depois do governo, a parceria se manteve: passou pelo impeachment de Dilma, pela prisão de Lula, Lula livre e, hoje, pela terceira candidatura presidencial do petista no século.

Stuckert se manteve leal durante os 580 dias em que o ex-presidente ficou preso na sede da Polícia Federal em Curitiba e esteve presente quando o petista deixou a cela em novembro de 2019.

Até hoje é ele quem grava as lives de Lula e registra os encontros que vez e outra viralizam na internet, como uma foto do ano passado do ex-presidente de sunga com a então namorada e hoje esposa, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja.

Clique viralizou nas redes sociais após Lula aparecer de sunga com Janja no ano passado - Reprodução/Twitter/@JanjaLula - Reprodução/Twitter/@JanjaLula
Clique viralizou nas redes sociais após Lula aparecer de sunga com a entãonamorada, Janja, no ano passado
Imagem: Reprodução/Twitter/@JanjaLula
No Oscar. Em fevereiro de 2020, o fotógrafo viajou para Los Angeles: ele foi indicado ao Oscar junto com a equipe da diretora Petra Costa pelo documentário "Democracia em Vertigem", quando foi diretor de fotografia.

Ele se viu "entre DiCaprios, Brad Pitts e Scarlett Johanssons", mas, ao UOL, disse que se emocionou mesmo ao ver um teaser do filme brasileiro no telão do Teatro Dolby, na Hollywood Boulevard.

Projeto pessoal. Desde 2015, Stuckert toca um projeto pessoal: fotografar os povos originários do Brasil. Os primeiros cliques foram ainda em 1997, quando foi pautado para cobrir os ianomâmis em uma edição especial da Veja.

Viajou para Nazaré, no interior do Amazonas, onde conheceu Penha Goés, uma jovem na casa dos 20 anos, "de olhos esverdeados e fortes como os de uma onça". Depois, visitou outras aldeias nos anos seguintes, quando nasceu a ideia do projeto autoral.

Ele já havia registrado ao menos 12 etnias indígenas. O projeto, no entanto, foi temporariamente engavetado em razão da campanha eleitoral deste ano. Se Lula for eleito, o trabalho deve esperar mais um pouco.

Imagina? Depois de tanto tempo e tudo o que aconteceu? O mundo não dá voltas, ele capota."
Ricardo Stuckert, fotógrafo de Lula