Por voto de indecisos, Alckmin fica em SP e faz campanha para Lula e Haddad
O papel do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi reorganizado para este segundo turno. Em vez de rodar o país junto ao petista, ele tem priorizado ficar em São Paulo para reduzir a diferença entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado —de quebra, contribui com a candidatura de Fernando Haddad (PT) ao Palácio dos Bandeirantes.
São Paulo foi a grande surpresa negativa para a campanha no primeiro turno: ao contrário do que apontavam as pesquisas, Lula perdeu para Bolsonaro, Haddad acabou em segundo lugar —sete pontos atrás do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos)—, e o ex-governador Márcio França (PSB) não levou a vaga ao Senado, derrotado pelo bolsonarista Marcos Pontes (PL).
Governador por três mandatos e meio, o ex-tucano tem ajudado a compor uma força-tarefa para tentar melhorar o desempenho dos petistas em São Paulo, virar a eleição de Lula no âmbito estadual e, consequentemente, a de Haddad para o governo. Desde o primeiro turno, Alckmin só saiu do estado para ir a Porto Alegre na quarta-feira (19).
Paulista raiz. Na contramão da pequena vantagem indicada nas pesquisas, Lula acabou o primeiro turno sete pontos atrás de Bolsonaro no estado. O atual presidente teve 47,71% dos votos e o petista, 40,89%. Boa parte dos votos de Lula e Haddad vieram da região metropolitana de São Paulo. Crescer no interior e no litoral se tornou prioridade entre os petistas. Com isso, foi estabelecido o aumento de agendas da campanha com ou sem Lula —e é aí que Alckmin entra.
O ex-governador era, até então, tido como imbatível em São Paulo. Com ajuda da máquina, o então tucano foi eleito três vezes ao governo estadual —na última vez, em 2014, ganhou no primeiro turno, com vitória em 644 dos 645 municípios. Seu apelo entre o eleitorado mais conservador, avaliam os petistas, perdeu força frente ao bolsonarismo desde 2018, mas pode atrair indecisos.
O foco da campanha é tentar convencer o eleitor paulista que apertou o 45 do PSDB a vida inteira, nunca foi próximo do PT, mas também não abraça o bolsonarismo. Para este público, eles avaliam, o discurso de Alckmin somado ao passado de Lula é o combo perfeito.
Mira específica. Alckmin também tem sido o interlocutor para grupos específicos. Sob a avaliação de que nem sempre adianta estar junto de Lula, desde o fim da campanha do primeiro turno ele tem ido sozinho tentar angariar votos que não necessariamente seriam conquistados se o petista estivesse à frente da conversa.
Médico de formação, na última terça-feira (18) ele se reuniu com representantes da saúde, entre médicos, servidores e empresários, para receber propostas de melhoria do SUS (Sistema Único de Saúde) e conversar com o setor privado.
Também nesta semana, gravou um vídeo de pouco menos de um minuto em que explica sozinho algumas propostas da chapa para o agronegócio e por que a atual gestão é financeiramente danosa para o setor. Para estes públicos, a campanha aposta no jeito sério e didático de Alckmin como interlocução eficiente.
Esperança de Haddad. Embora a prioridade de Alckmin seja trabalhar pela eleição de Lula, a campanha de Haddad e o PT esperam que a participação do ex-governador em eventos por São Paulo ajude a atrair mais votos para o candidato ao governo. Haddad teve 35,7% dos votos no primeiro turno, contra 42,35% para Tarcísio.
Enquanto no primeiro turno Alckmin fez algumas viagens pelo interior junto de Haddad, agora no segundo turno os dois não fizeram nenhuma incursão juntos, sem Lula, fora da Grande São Paulo —mas o objetivo é que façam mais na última semana de campanha.
O entendimento petista é que Alckmin é a figura certa para agregar votos a Haddad. Já é tido para as campanhas que a maioria dos eleitores simpáticos a Lula sejam simpáticos a Haddad também. Já os que não gostam de Lula, mas aprovam as gestões do ex-tucano, podem dar uma segunda chance a Haddad.
Dobradinha. Juntos, Alckmin e Haddad participaram de evento da Frente Ampla Pela Democracia, em 6 de outubro, e da missa em homenagem à Nossa Senhora Aparecida, no dia 12. Os dois compromissos ocorreram em São Paulo e sem a presença de Lula.
No caso da missa, Haddad compareceu à paróquia do padre Rosalvino Viñayo, em Itaquera, zona leste da capital paulista, a convite de Alckmin. Rosalvino é próximo do pessebista e nutria laços fortes com o PSDB, especialmente com o ex-governador tucano Mário Covas — de quem Alckmin foi vice. O padre é acostumado a receber políticos e a falar em nome deles para os fiéis. É apontado como um homem de influência na região.
"Todo mundo que veio pedir bênçãos aqui foi eleito. Paulo Teixeira foi eleito, Suplicy foi eleito. E Haddad está na fila", declarou Rosalvino em 12 de outubro.
Só na última semana, Lula, Alckmin e Haddad foram juntos a eventos na capital, em São Bernardo do Campo, em Guarulhos e em Campinas.
Influência. A estratégia do segundo turno é a de distribuir os apoiadores de Lula e Haddad pelo estado para tentar conquistar o máximo de votos.
- Haddad saiu vitorioso em 91 das 645 cidades paulistas.
- Seu adversário no segundo turno, Tarcísio de Freitas (Republicanos) venceu em 500 municípios.
A pessoas próximas, Alckmin tem dito que sua expertise tem ajudado. Embora não trate disso publicamente, ele expõe que Lula venceu em mais municípios do que Haddad em 2018, incluindo redutos tucanos do interior, nas regiões de Araraquara e Marília.
Apesar da vantagem de 1,8 milhão de votos em Bolsonaro em relação a Lula, São Paulo foi um dos poucos estados em que o presidente teve uma votação menor se comparado ao PT em 2018: queda de 1,1%. O ex-governador atribui isso também a ele.
Bônus. Para a campanha petista, Alckmin circular em campanha pelo estado sem Haddad não é de todo ruim. Evita o desgaste da histórica rejeição ao PT no interior, mas, ao mesmo tempo, reforça a ligação entre o ex-governador e Haddad, similar ao que já havia sido planejado no primeiro turno.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.