Haddad cola em Alckmin e prioriza municípios onde teve poucos votos em 2018
"Alguém aqui tem parentes no interior de São Paulo? Vamos ligar para essas pessoas, vamos falar com elas". A uma plateia de sindicalistas e integrantes de movimentos populares, Márcio França (PSB), candidato ao Senado, sinalizou a principal preocupação da campanha de Fernando Haddad (PT) para o governo paulista: conquistar votos entre um eleitorado que rejeita o PT.
Haddad lidera a última pesquisa Datafolha, publicada ontem (1º), com 35% dos votos —atrás dele estão o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 21%, e o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), com 15%. A avaliação do PT é de que o partido nunca começou tão bem uma campanha em São Paulo. "Nunca penetramos no interior paulista com tanta força como agora", disse ao UOL um interlocutor da campanha.
No entanto, durante o encontro com sindicalistas na semana passada, Haddad pediu cautela: "Não podemos sossegar e nem nos contentar com pesquisas. Pesquisas mudam".
Ainda de acordo com o levantamento divulgado ontem, a vantagem do petista em relação a Tarcísio caiu de 22 para 14 pontos na comparação com a penúltima pesquisa. E Haddad é também o candidato menos querido pelo eleitor paulista, com 36% de rejeição —Tarcísio é rejeitado por 24% e Rodrigo, por 16%.
O foco da campanha é fora da capital. Desde o início da campanha oficial, na segunda quinzena de agosto, a agenda de Haddad tem focado em cidades paulistas onde o petista teve baixo desempenho na disputa pela Presidência em 2018 —quando perdeu para Jair Bolsonaro (PL).
Ele já visitou ao menos 20 desses municípios (veja lista abaixo). Na última terça-feira (30), ele passou por Barretos, Catanduva e São José do Rio Preto, municípios onde não atingiu nem 27% do eleitorado há quatro anos. Na quarta (31), esteve em Cotia.
São Paulo é governada pelo PSDB há 27 anos. Foram sete eleições seguidas com vitória tucana, uma sequência iniciada por Mário Covas em 1995. O mais próximo que o PT chegou do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, foi em 2002, quando José Genoíno foi derrotado no segundo turno pelo então tucano Geraldo Alckmin (hoje no PSB).
Agora, é justamente em Alckmin, vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na chapa presidencial, que recaem as esperanças do PT para conquistar o interior paulista.
Super trunfo. Alckmin deixou o governo paulista em 2018 com 36% de aprovação, de acordo com o Datafolha —no interior, o índice foi maior, com 42% dos eleitores avaliando o governo como ótimo ou bom. Para a campanha petista, a presença de Alckmin na chapa —e nas agendas— é essencial para atrair votos.
"Haddad estudou muito sobre São Paulo e tem visitado o interior do estado. Além disso, ele tem sido acompanhado por dois ex-governadores populares, o França e o Alckmin", observa o deputado federal e candidato à reeleição Paulo Teixeira (PT-SP).
Recuperando o atraso. No entanto, Alckmin demorou 15 dias para comparecer a um evento oficial da campanha de Haddad fora da capital. Ainda assim, o encontro ocorreu em Cotia, na região metropolitana de São Paulo.
As campanhas alegam dificuldade de conciliar as agendas, já que o vice de Lula tem acompanhado o ex-presidente em viagens e entrevistas. Os únicos municípios que o ex-governador havia visitado junto de Haddad até então foram:
- Andradina, em 24 de junho
- São Vicente, no litoral, em 1º de agosto
Agora, a agenda de Alckmin prevê uma sequência de viagens ao lado de Haddad. Entre hoje e amanhã os dois devem visitar Assis, Avaré, Bauru, Botucatu, Jaú, Marília e Ourinhos.
Presença de Alckmin trava ida a Ribeirão Preto. Publicamente, Haddad afirma que "está dialogando com todo o estado". O partido tem monitorado as pesquisas eleitorais para decidir quais regiões carecem de maior atenção da campanha. Mas, na avaliação de alguns aliados, a prioridade deveria se voltar para a Grande Ribeirão Preto, polo tecnológico de grande densidade populacional —são 1,75 milhão de habitantes nos 34 municípios.
Em Ribeirão, em 2018, o petista teve 10% dos votos no primeiro turno e 27% no segundo.
A campanha ainda não bateu o martelo sobre quando visitará a área, mas entende que é fundamental que Haddad apareça junto de Alckmin.
Agenda mais intensa. O curto tempo de campanha nas ruas tem sido uma preocupação entre os petistas.
- Em 2022, o calendário eleitoral permitiu apenas 46 dias de campanha oficial (de 16 de agosto a 1º de outubro), o menor período desde 1994;
- Em 2018, foram 50 dias de campanha aberta;
- Em 2014 e 2010, 92 dias.
Uma mudança na lei eleitoral, já aplicada nas eleições passadas, reduziu o tempo de campanha para criar a pré-campanha. Na prática, os pré-candidatos podem discutir propostas e participar de eventos, mas não podem pedir votos.
As vantagens de ser conhecido. Apesar disso, aliados do petista entendem que o fato de Haddad vir de uma eleição presidencial, ter sido ministro da Educação (2005-2012) e prefeito de São Paulo (2013-2016) é uma vantagem em relação a Tarcísio e Rodrigo, seus principais adversários.
"Acho que há [uma vantagem], ele vem de uma disputa presidencial, foi ministro da Educação, e vem de uma gestão da Prefeitura de São Paulo que hoje já é avaliada de outra forma pelas pessoas", disse o deputado estadual e coordenador do plano de governo de Haddad, Emídio de Souza (PT-SP).
Enquanto Tarcísio e Rodrigo se apresentam para o eleitor, Haddad se sente mais livre para divulgar suas propostas. Ele, inclusive, alfinetou os outros candidatos em sua primeira propaganda na TV:
Nesse primeiro dia de programa, alguns candidatos tentarão te sensibilizar falando apenas de si, mostrando álbuns de família, fotos e histórias da infância. Como se no estado mais rico do país a gente não tivesse sete milhões de paulistas enfrentando a pobreza e a fome, e três milhões e meio sem emprego."
Fernando Haddad (PT) na propaganda eleitoral
Plano B. Com ou sem Alckmin, Márcio França também foi escalado para acompanhar Haddad nas agendas pelo estado. Ele lidera o último Datafolha para o Senado em SP, com 30% — atrás dele aparece o ex-ministro Marcos Pontes (PL), com 13%.
Enquanto governador de São Paulo (2018), França teve maior aprovação no interior (14%) do que na capital (12%). Além disso, a derrota para João Doria (PSDB) na disputa estadual de 2018 foi apertada: o tucano teve 51,75% dos votos contra 48,25% do pessebista.
França esteve com Haddad em agendas no litoral sul, seu reduto eleitoral, e mais recentemente em Barretos e Cotia.
Diferenças de lado. Internamente, o PT celebra o que considera uma proeza: mobilizar o campo de esquerda e centro-esquerda em torno de uma única candidatura.
França, hoje candidato ao Senado, e Guilherme Boulos (PSOL), candidato a deputado federal, eram dois que tinham a intenção de se candidatar ao governo. Agora, integram a chapa petista atuando diretamente nas campanhas de Haddad e Lula no estado.
O ex-governador chegou a figurar em segundo lugar em um dos cenários da pesquisa Datafolha de 30 de junho para o governo de São Paulo. Menos de dez dias depois, anunciou que deixaria a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes para apoiar Haddad e se candidatar ao Senado.
Na agenda citada no início da reportagem, o ex-governador citou indiretamente a mudança de planos nestas eleições em seu discurso: "Cada um abriu mão de alguma ambição, de seus sonhos, para voltar a sorrir".
Duas vezes França. Quase um mês após a desistência de França, a mulher dele, a educadora Lúcia França (PSB), foi anunciada como vice de Haddad. A composição agradou ao ex-governador e também ao PT, que buscava uma mulher na composição da chapa após a recusa da ex-ministra Marina Silva (Rede) em se candidatar a vice-governadora.
Mulheres e evangélicos. Candidata a deputada federal por SP, Marina Silva é vista pela campanha como outro nome de peso que complementa o leque de alianças no estado. Mulher, negra e evangélica, é apontada como figura essencial para atrair os votos femininos e cristãos —parcelas do eleitorado que também entram na mira de Bolsonaro.
Marina tem aparecido frequentemente em agendas de Haddad, incluindo a divulgação do plano de governo do petista, onde foi uma das poucas a subir no palco junto do candidato ao governo. Ali, recebeu mais destaque do que políticos tradicionais do PT, como o vereador Eduardo Suplicy, o secretário nacional de Comunicação do PT Jilmar Tatto e o deputado federal Alexandre Padilha.
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