Antes do último debate, Lula muda estratégia e troca viagens por digital
A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu focar a última semana de campanha na estratégia digital e na preparação para o debate da Globo na sexta-feira (28). O petista não deverá ter viagens mais longas nem realizar grandes atos públicos com deslocamento.
Nesta semana, ele chegou a cancelar uma caminhada na Grande São Paulo para gravar programas e inserções de TV. Hoje (25), dará entrevista para uma rádio e participará de mais uma live.
Para viralizar. A estratégia digital foi um dos grandes desafios da equipe de Lula desde o começo da campanha. Com menos seguidores e publicações que o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pré-campanha, os petistas fizeram uma força-tarefa para aumentar a participação do ex-presidente crescer nas redes —e o engajamento em torno dele.
Embora os números tenham crescido expressivamente, ainda é discutido entre os aliados se a estratégia deu certo ou não. O que virou consenso é que as aparições online têm sido eficientes para levar o discurso do petista a outros públicos e, com dinheiro contado, também a um custo mais baixo.
Na última semana, Lula participou de:
- Dois podcasts: Flow, na terça (18), quando chegou a bater o recorde de audiência que havia sido registrado durante participação de Bolsonaro --e depois foi superado-- e o DL Show, no domingo (23);
- Uma live com o deputado André Janones (AV-MG), na sexta (21), para falar em especial de uma suposta proposta de desvinculação do salário mínimo da inflação, preparada pelo ministro Paulo Guedes;
- Um encontro com influencers digitais, no domingo (23), para tratar de estratégias e apoios.
A campanha entende que, para a reta final, escalar numericamente o discurso de Lula pode ser muito mais frutífero que atos presenciais, que costumam reunir apoiadores e quem já votou nele —e o ex-presidente precisa, agora, convencer indecisos e reduzir a abstenção.
Não é só para isso. Além das transmissões online ao vivo, que podem atingir milhares de pessoas, os programas destinados ao público da internet têm outras vantagens: os cortes e a viralização. É mais fácil para a equipe selecionar frases impactantes para distribuir nas redes.
A propaganda eleitoral gratuita do dia seguinte ao Flow, por exemplo, foi feita apenas com recortes da entrevista. Na mesma noite, pequenos trechos de menos de um minuto e montagens com músicas e memes já circulavam pelas redes sociais.
No caso das lives no Facebook, há um escalonamento. Como Janones defende desde que entrou para a campanha, em agosto, os vídeos dessas transmissões ao vivo seguem rodando pelas redes sociais e, diferente de outros que foram feitos para outra plataforma e depois anexados, os nativos da rede social têm maior possibilidade de compartilhamento, por causa do algoritmo.
O vídeo gravado com Janones e Lula continua a rodar entre os grupos. Até a noite de ontem, tinha ultrapassado 164 mil compartilhamentos.
Já rodou bastante. Apoiadores também avaliam que Lula investiu o tempo e energia devidos para rodar o país nos últimos meses. —há uma sensação de dever cumprido dentro da campanha petista.
Desde a pré-campanha, no início de junho, o ex-presidente foi a 17 estados de todas as regiões e ao Distrito Federal —com mais frequência ao Nordeste e ao Sudeste.
Nesta semana, tinha uma caminhada prevista para Osasco, na Grande São Paulo, e outras possíveis, como em Ribeirão Preto, no interior paulista, junto ao candidato ao governo Fernando Haddad (PT), ou Manaus junto ao candidato Eduardo Braga (MDB), mas nenhuma foi mantida.
Uma agenda dessa não é brincadeira, deixa qualquer um cansado. Achávamos que ele [Lula] tinha que ir pra rua e ele foi. Agora, estamos falando com outros públicos. As pessoas não precisam estar necessariamente lá, muita gente acompanha esses programas."
Márcio Macedo (PT-SE), deputado e tesoureiro da campanha
No segundo turno, a campanha trocou os grandes comícios pelo que chamam de caminhadas pelo país: foram 17 cortejos, em 15 cidades de oito estados, em uma janela de 15 dias. Neles, Lula passava pela multidão em cima de um carro e depois parava para discurso em trios elétricos.
A campanha alega que esse tipo de ato é mais barato, chega a um público mais variado —não só militantes— e cria um impacto imagético maior para ser usado em programas, inserções e posts na internet.
Tem debate. Por fim, a prioridade da semana é o debate da Rede Globo na sexta. Antes dos três últimos debates dos quais participou, Lula tirou dois dias para se preparar. Agora, a decisão foi aumentar o período de concentração. Aos 76 anos, Lula chegou a ficar rouco em diversas agendas, mas até pulou em comícios. O descanso é bem-vindo.
As agendas já cumpriram seu papel, teve um período muito intenso, fomos a todas as regiões do país, quase todos os estados. Agora, a prioridade é o debate. Ele precisa estar descansado e preparado."
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), senador e um dos coordenadores da campanha
A campanha avalia que o debate dificilmente vai mudar o resultado a apenas dois dias da eleição, mas pode, sim, ajudar a conquistar ou desperdiçar os votos indecisos que ainda restam.
Por isso, para esta semana, a agenda deverá ser mais tranquila. Ontem, ficou na capital para gravar as inserções conquistadas como direito de resposta contra Bolsonaro, deu uma entrevista coletiva e, à noite, participou de um ato na PUC-SP com apoio de diferentes lideranças partidárias e artistas, como Monica Iozzi e Denise Fraga. Chegou a discursar da janela para o público presente.
Na manhã de hoje, marcou entrevista para uma rádio e participa de uma live no final da tarde. Outras agendas ainda não foram divulgadas.
Se houver ato, deverá ser no Rio e em São Paulo, no sábado (29), véspera da eleição —para encerrar a campanha eleitoral.
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