Vices invisíveis: eleição em SP não dá vez a parceiros de Tarcísio e Haddad
Ao longo dos últimos seis mandatos, os paulistas viram cinco vice-governadores assumirem o Palácio Bandeirantes. Apesar dessa tradição, os candidatos a vice na eleição deste ano não tiveram espaço nas campanhas de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) na televisão.
Considerado todos os programas de Haddad e Tarcísio apresentados no horário eleitoral desde 26 de agosto, apenas a vice de Haddad, Lúcia França (PSB), apareceu na televisão —e isso aconteceu pela primeira vez no último sábado (22) e por apenas 24 segundos, e ainda sem protagonismo, durante um debate envolvendo o candidato e a esposa dele, Ana Estela Haddad, que já havia participado dos programas outras vezes.
Já Felício Ramuth (PSD), o candidato a vice de Tarcísio, não participou em nenhum momento dos programas. O curioso é que o único vice-governador desde 2001 que não assumiu o Palácio dos Bandeirantes apareceu na televisão. Guilherme Afif Domingos (PSD), que foi vice de Geraldo Alckmin (PSB) entre 2011 e 2014, é coordenador do programa de governo de Tarcísio.
Se os vices não tiveram vez na televisão, o mesmo não se pode dizer de outras figuras. O próprio Alckmin, ex-adversário do petista, aparece constantemente nos programas de Haddad. O mesmo acontece com a esposa do presidente Jair Bolsonaro (PL), Michelle Bolsonaro.
"O tempo em rádio e TV é muito escasso. Por isso, as campanhas priorizam figuras que possam trazer votos. Os candidatos a vice do Tarcísio e do Haddad não têm esse potencial de atrair novos eleitores. Por isso, é natural que as campanhas não invistam muito tempo na exposição deles", avalia o cientista político Cláudio Couto, professor do Departamento de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Para o cientista político Henrique Curi, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Lúcia e Ramuth cumprem outras funções em suas campanhas. "A Lúcia é uma professora e, com o Haddad, forma uma chapa temática voltada à educação. Já o vice de Tarcísio, que tem mais entrada na política eleitoral, vem com o intuito de angariar o apoio de prefeitos", explica.
O UOL Notícias procurou as assessorias de Tarcísio e Haddad para comentar o nível de exposição dos vices, mas nenhuma das duas retornou os contatos.
Quem são os candidatos a vice de Tarcísio e Haddad? O candidato a vice de Tarcísio é Felício Ramuth (PSD). Ex-prefeito de São José dos Campos, a quinta maior cidade do estado de SP, Ramuth tem 53 anos e é formado em administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).
O postulante a vice de Tarcísio entrou na política por meio do PSDB, partido pelo qual venceu as duas eleições em São José dos Campos, mas hoje está no PSD, legenda liderada pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.
Já Haddad tem como vice a professora Lúcia França (PSB). Aos 60 anos, nunca havia concorrido a um cargo eletivo até que seu nome prevaleceu na chapa de Haddad em meio a negociações que emplacaram Márcio França, marido de Lúcia, como candidato ao Senado pela aliança de esquerda. Lúcia trabalha com alfabetização e é dona de uma escola em Praia Grande, no litoral paulista.
Quem apareceu nas propagandas dos candidatos em SP? Haddad levou à tela nomes da política nacional, como a ex-ministra Marina Silva (Rede) e a ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL), e comunicadores, como o jornalista Chico Pinheiro, entre outros participantes.
Lúcia França apareceu em uma peça da campanha, exibida nos dias 22 e 23 de outubro. Ao lado de Haddad e da esposa dele, a professora universitária Ana Estela Haddad, Lúcia falou sobre propostas da chapa para as mulheres em áreas como renda, saúde e violência doméstica.
Ramuth, por sua vez, não fez nenhuma aparição nos vídeos de Tarcísio. A campanha do ex-ministro bolsonarista apostou em nomes como Cristiane Freitas, esposa de Tarcísio, e o cantor Zezé Di Camargo, um dos artistas sertanejos que apoiam Bolsonaro, além de Michelle e do próprio presidente.
Historicamente, como os vices se comportam em SP? Desde 2001, todos os candidatos a vice acabariam assumindo o governo posteriormente, após a morte ou a renúncia dos titulares. A única exceção foi Afif.
"Nos últimos anos tivemos vices que assumiram o governo em São Paulo, mas essa estratégia nem sempre dá certo. O Rodrigo Garcia [atual governador de São Paulo], por exemplo, foi eleito como vice do Doria, mas não conseguiu viabilizar o próprio nome nas urnas", observa o pesquisador Henrique Curi.
Desde o pleito de 1994, os vices eleitos em São Paulo foram:
- 1994 e 1998 - Geraldo Alckmin (vice de Mário Covas) - Assumiu o governo em 2001
- 2002 - Cláudio Lembo (vice de Geraldo Alckmin) - Assumiu o governo em 2006
- 2006 - Alberto Goldman (vice de José Serra) - Assumiu o governo em 2010
- 2010 - Afif Domingos (vice de Geraldo Alckmin) - Não assumiu o governo
- 2014 - Márcio França (vice de Geraldo Alckmin) - Assumiu o governo em 2018
- 2018 - Rodrigo Garcia (vice de João Doria) - Assumiu o governo em 2022
Com exceção de Alckmin, nenhum deles conseguiu continuar no cargo quando tentou a reeleição, casos de Garcia e de Márcio França (PSB). Lembo, Goldman e Afif não tentaram ser governador de São Paulo após o mandato de vice.
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