No RJ, Bolsonaro ignora 'RadioGate', mas apoiadores pedem prisão de Moraes
Um dia depois de afirmar que vai até as "últimas consequências" com denúncias —sem provas— sobre supostas inserções de rádio não veiculadas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) ignorou o assunto no primeiro comício de hoje. Durante passagem por São João do Meriti, na Baixada Fluminense, o candidato falou até da final da Copa Libertadores. Sobre as queixas feitas de forma estridente, silêncio.
Bolsonaro se calou a respeito das críticas ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, mas sua militância mostrou que absorveu o discurso. Antes de o comício começar, os apoiadores do presidente puxaram o coro de "Xandão ladrão, seu lugar é na prisão."
Radicalização é risco de perder votos. O presidente chegou sobre um carro de som e estacionou na praça matriz de São João do Meriti. Ele falou durante dez minutos, um período abaixo de seu padrão. O tom adotado por Bolsonaro foi muito mais ameno que o de ontem (26).
Em visita a Minas Gerais, ele sugeriu que existe um conluio entre o TSE e o PT, partido de Luiz Inácio Lula da Silva, para prejudicá-lo. Relatórios apontando supostas irregularidades nas inserções de rádio foram entregues à Justiça eleitoral por sua equipe. Os documentos foram classificados como superficiais e feitos por empresa não capacitada para auditorias. O caso não teve prosseguimento.
A campanha do presidente teme os efeitos desta postura de confronto adotada pelo presidente ao questionar o processo eleitoral. A avaliação é que serve para militância mais aguerrida xingar Alexandre de Moraes, mas afasta o eleitor moderado que prefere declarações serenas em direção ao centro. Em uma eleição tão acirrada, o tom pode custar a vitória.
Não teve briga, mas teve Libertadores. O presidente fez seu discurso padrão em São João do Meriti. Falou de pautas de valores, queda do preço da gasolina e inflação. A única novidade foi uma menção à final da Copa Libertadores no próximo sábado (29) entre Flamengo e Athletico Paranaense.
"No dia 29, vamos dar uma pausa e torcer para o Flamengo." Bolsonaro afirmou que vai ao aeroporto recepcionar a equipe e disse que vai torcer para o time no sábado.
Discursos inflamados em Minas Gerais. A visita de Bolsonaro a São João do Meriti ocorre no dia seguinte a uma passagem inflamada por Minas Gerais. Ontem, o presidente sugeriu a existência de um conluio entre o TSE e o PT para prejudicá-lo. Depois de pronunciamentos agressivos em solo mineiro, o candidato à reeleição convocou uma reunião que não estava na sua agenda.
A previsão era voar de Uberlândia (MG) para o Rio, mas Bolsonaro alterou a rota para Brasília e se encontrou com os ministros mais próximos e os comandantes das Forças Armadas.
Também fez um pronunciamento na frente do Palácio do Alvorada, afirmando que "vai até às últimas consequências" para fazer valer as acusações sobre ter menos inserções veiculadas nas rádios.
"Da nossa parte, iremos às últimas consequências, dentro das quatro linhas da Constituição, para fazer valer aquilo que as nossas auditorias constataram, que há realmente um enorme desequilíbrio no tocante às inserções."
Moraes remete caso ao inquérito das milícias digitais. Nesta semana, a campanha do presidente entrou com uma representação na Justiça Eleitoral reclamando que as rádios deixaram de transmitir 154.085 inserções suas ao longo do segundo turno.
O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, destacou a ausência de provas e disse que ela se baseava em levantamento de empresa "não especializada em auditoria".
Reportagem do UOL mostra que a campanha usou um software para fazer o monitoramento que pode não ter captado corretamente as informações.
Moraes não deu prosseguimento ao caso e encaminhou a queixa para o inquérito das milícias digitais, que é relatado por ele próprio.
A decisão irritou o presidente. Bolsonaro disse que o presidente do TSE "matou no peito" ao tomar uma decisão contrária a seus interesses.
PL recebe queixa e não faz nada. As alegações de Bolsonaro sobre as rádios aconteceram na sequência do ex-aliado Roberto Jefferson (PTB) atirar de fuzil e lançar granadas contra policiais federais. A queixa é baseada em levantamento de uma empresa que, conforme a Justiça Eleitoral, não teria capacidade técnica de fazer auditoria e chegar aos números citados pelo presidente.
Ocorre que muito antes de o caso vir à tona, uma rádio de Uberaba comunicou o PL, partido de Bolsonaro, que deixou de veicular 100 inserções entre os dias 7 de outubro e 10 de outubro. Mesmo alertado, nada foi feito. A campanha de Bolsonaro não tomou qualquer providência para colocar as peças no ar.
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