Bolsonaro investe em nova narrativa para contestar eleição
Na reta final da campanha, o presidente Jair Bolsonaro (PL) investe em uma nova narrativa para eventualmente contestar o resultado das urnas, caso perca a reeleição no domingo (30): que sua candidatura foi prejudicada. O argumento dele é de que emissoras de rádio teriam omitido transmissões de inserções da propaganda eleitoral e, por consequência, estariam favorecendo o adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O discurso, que está sendo construído desde segunda (24), ganhou força nesta quarta (26) e passou a substituir a narrativa anterior, que questionava a confiabilidade da urna eletrônica.
As informações citadas pela campanha são contestadas por ao menos seis das oito rádios mencionadas pela equipe de Bolsonaro. Mas, na manhã de quarta, a exoneração de um servidor do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aumentou a dimensão do caso. Ele disse ter sido demitido após alertar superiores sobre irregularidades na transmissão de uma rádio mineira.
O episódio causou tumulto ao longo do dia e ocupou espaço nas redes sociais e na televisão, tirando totalmente o foco do ataque a policiais feito pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB), aliado de Bolsonaro, no domingo. A campanha do presidente divulgou a ação sobre rádios 25 horas após a prisão do aliado.
Mudança de rota
A temperatura ainda estava alta na noite de quarta. Bolsonaro estava no avião quando decidiu mudar a agenda para voltar a Brasília e se reunir com aliados. Ele passou o dia cumprindo agenda em Minas Gerais e, à distância, acompanhou a confusão que envolveu as rádios, o tribunal e o núcleo de sua campanha.
O presidente chegou à capital e foi ao Palácio da Alvorada, onde recebeu os ministros Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), além dos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica, entre outros.
A Presidência convocou jornalistas para cobrir um pronunciamento de Bolsonaro que durou menos de dez minutos. Em seu discurso, ele criticou o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, por barrar uma ação de sua campanha questionando as inserções de propaganda nas rádios. A decisão do magistrado saiu pouco antes de o presidente anunciar o pronunciamento.
Quatro linhas da Constituição
"Nosso jurídico deve entrar com recurso, já que foi para o STF (Supremo Tribunal Federal). Da nossa parte, iremos às últimas consequências dentro da Constituição para fazer valer o que nossas auditorias constataram: enorme desequilíbrio das inserções [de rádios]. Isso interfere na quantidade de votos no final da linha", disse Bolsonaro.
Bolsonaro voltou a atacar Moraes e o inquérito que apura o uso da máquina do governo para disseminar notícias falsas. E insinuou que há um complô para prejudicar a sua candidatura.
"Sabemos que está em cima, as eleições estão aí, mas meu lado foi muito prejudicado e não foi de agora. Quem tiver mais voto na urna deve assumir o cargo na data adequada", afirmou.
Ao longo do dia, bolsonaristas levantaram a possibilidade de a crise envolvendo as rádios ser determinante para adiar o segundo turno da eleição.
No entanto, como mostrou a colunista do UOL Notícias, Carolina Brígido, o "Radiogate" não tem força suficiente para adiar ou anular o pleito marcado para domingo.
Radiogate
Na noite de segunda (24), o ministro das Comunicações, Fabio Faria, disse que a campanha teria um relatório de auditoria que apontava que Lula foi beneficiado com 154.085 inserções de rádio a mais do que a de Bolsonaro.
Logo depois, o presidente do TSE determinou que a equipe de Bolsonaro entregasse as provas em 24 horas. A campanha do presidente apresentou um material que o magistrado considerou incompleto por não fornecer datas e horários específicos.
Na manhã de quarta, o Diário Oficial publicou a exoneração do servidor Alexandre Gomes Machado, que atuava no TSE justamente no setor que lida com veículos de imprensa e é responsável pela distribuição das inserções de rádio para as emissoras de rádio e televisão do país.
Machado registrou boletim de ocorrência na Polícia Federal acusando o tribunal: disse que foi dispensado da função depois de alertar superiores de que havia irregularidade na transmissão de uma rádio mineira que não havia veiculado inserções de Bolsonaro.
A demissão de Machado deu munição para a equipe do presidente. Nos bastidores, aliados dizem que o fato foi criado e vai gerar uma "batalha de narrativas" sobre a lisura do processo eleitoral.
O TSE informou que a exoneração foi motivada por "reiteradas práticas de assédio moral, inclusive por motivação política".
A rádio mineira disse que as inserções não foram transmitidas porque o PL, partido de Bolsonaro, não enviou o material a tempo.
Apesar de ter convocado jornalistas de noite, Bolsonaro não respondeu perguntas.
Como mostrou o UOL Notícias, uma das controvérsias em relação à auditoria é que o monitoramento de rádios via software é realizado por webcast —transmissão ao vivo de áudio e vídeo utilizando a tecnologia de streaming público dos sinais abertos de retransmissão das rádios. A veiculação das inserções dos candidatos não é obrigatória no webcast.
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