Má gestão do tempo, bloco errado: campanhas veem erros de Tarcísio e Haddad
As equipes de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) viram alguns erros de seus candidatos no último debate antes da eleição para o governo de São Paulo, de acordo com integrantes das campanhas ouvidos pelo UOL Notícias. O encontro foi promovido ontem pela TV Globo.
Do lado da campanha de Haddad, houve a reclamação de que o candidato tenha utilizado o bloco errado para citar o caso do tiroteio em Paraisópolis durante agenda de Tarcísio em 17 de outubro. Nesta semana, foram publicados áudios de um integrante da campanha de Tarcísio ordenando a um cinegrafista que apagasse os registros feitos durante o tiroteio. O tema só foi mencionado no último bloco, quase no final do debate, que terminou por volta da meia-noite.
Já membros da equipe de Tarcísio criticaram o fato de o candidato não ter gerido bem o tempo para responder sobre o assunto. O candidato do Republicanos teve 1 minuto e 41 segundos para responder a Haddad. Após gastá-lo por completo naquela interação, pediu que os espectadores fossem às redes sociais para ver o que ele já havia dito sobre o ocorrido. Na sequência, Haddad teve espaço para falar a respeito do caso sem ser mais interrompido.
Apesar de pontos como esses, o debate acabou agradando as equipes em razão de os candidatos terem recorrido mais a ataques do que ao tom cordial que marcou o primeiro embate do segundo turno, em 10 de outubro, na TV Bandeirantes.
Caso Paraisópolis
A equipe de Haddad elogiou a forma como o petista abordou o assunto, enquanto aliados do candidato do Republicanos veem com preocupação a postura dele ao rebater o adversário.
O tema foi o mais polêmico da corrida estadual nos últimos dias não só pelo áudio revelado pela Folha, mas também pela informação, divulgada na quarta (26) pelo site The Intercept Brasil, que o integrante da equipe de Tarcísio que ordenou que as imagens fossem deletadas é um agente licenciado da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Já ontem o site informou que ao menos quatro testemunhas viram um segurança da equipe de Tarcísio atirar em um homem desarmado.
Para aliados do petista, Haddad soube explorar o episódio corretamente, usar bem o seu tempo e apontar as contradições de Tarcísio ao falar sobre o caso. A única crítica foi com relação ao momento escolhido —apesar de enxergarem que Haddad soube introduzir bem o assunto, aliados temem que a audiência do quarto bloco não tenha sido tão grande quanto a do primeiro.
O candidato do PT trouxe Paraisópolis para o debate enquanto questionava Tarcísio sobre violência contra a mulher. Assim que conseguiu encontrar uma deixa, o petista introduziu o assunto perguntando ao adversário se ele era a favor da transparência policial —desta forma, também cutucou Tarcísio sobre as câmeras nos uniformes dos policiais, que ele diz que pretende rever caso eleito.
A volta ao tema. Alguns membros também consideraram um erro Tarcísio retomar o caso de Paraisópolis no questionamento seguinte —sobre emprego formal, tema definido pelo próprio Tarcísio.
Antes de fazer a pergunta, só [quero] lamentar o sensacionalismo barato que você está fazendo, Haddad, que papelão! Porque é muito fácil julgar uma pessoa que está lá sob forte emoção, que agiu de boa-fé
Tarcísio a Haddad no 4º bloco
Embora tenham visto um Tarcísio "desestabilizado" quando, ainda no início do debate, Haddad citou as reportagens do Intercept e da Folha, os estrategistas acreditam que o estrago "poderia ter sido pior" porque só foi abordado de forma concreta no fim.
Ajuda a Bolsonaro
Na primeira resposta, Tarcísio ignorou a primeira pergunta de Haddad sobre as propostas em relação à frequência escolar e à vacinação infantil, e acabou nacionalizando o debate em sua primeira fala.
Ele negou que seu aliado na disputa pelo Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL), não irá aumentar o salário mínimo acima da inflação em um eventual segundo mandato. "Falso, mentira. O salário mínimo vai ter aumento acima da inflação", disse. O tema tem sido explorado pela campanha do adversário de Bolsonaro na disputa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para seus aliados, a decisão beneficia mais Bolsonaro, que está atrás de Lula nas pesquisas na disputa pelo Planalto, do que o próprio Tarcísio.
No entanto, eles consideraram importante que Tarcísio tenha conseguido desmentir a informação de irá aumentar a conta de água quando fala em discutir a privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), questão que tem sido amplamente explorada por Haddad. Ele também afastou eventuais mudanças na Secretaria de Segurança Pública, tema que preocupa os paulistas.
Decoreba
Aliados elogiaram Tarcísio por ter demonstrado amplo conhecimento sobre o estado e sobre obras de infraestrutura, assunto que ele domina.
A campanha de Haddad entendeu que o petista soube rebater bem ao indicar que Tarcísio, nascido no Rio de Janeiro, decorou nomes de cidades e de obras para disputar as eleições por São Paulo.
Tarcísio, você não colocou um centavo no Estado de São Paulo. Você está falando de uma quantidade enorme de obras que você decorou, mas que você não fez. Eu sei que você está dedicado a decorar nome de cidade, nome de obra, você é uma pessoa disciplinada para decorar, mas acontece que você não conhece as coisas que você está falando, você não fez
Haddad a Tarcísio no 3º bloco
Caminhando e falando
Para a campanha de Haddad, o modelo de debate no qual o candidato pode caminhar pelo estúdio é um trunfo para o petista.
Interlocutores disseram que Haddad se sente mais à vontade falando e andando, como se estivesse em uma sala de aula, do que estático atrás de um púlpito, e por isso demonstrou mais confiança.
Embora também tenha se movimentado pelo estúdio, Tarcísio se atrapalhou no fim do debate —segundo a campanha— e ficou preso ao púlpito por alguns minutos, consultando a "colinha" que havia levado.
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