Intercept: Segundo testemunhas, segurança de Tarcísio matou homem desarmado
Uma reportagem publicada pelo site The Intercept Brasil na noite desta quinta-feira (27) aponta que quatro testemunhas afirmam que policiais que atuavam na segurança de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo de São Paulo, mataram a tiros um homem desarmado em Paraisópolis, em São Paulo. O ex-ministro fazia um ato de campanha na comunidade na zona sul da capital paulista naquele momento.
As testemunhas, segundo o site, estavam na rua no momento dos disparos. As identidades delas não foram reveladas por segurança. Os relatos ao site foram feitos nesta quinta-feira em horários diferentes e "não apresentam contradições flagrantes", aponta o Intercept Brasil.
O UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa de Tarcísio, que afirmou que o candidato foi a Paraisópolis para inauguração do primeiro Polo Universitário a convite de Wallace Rodrigues, CEO e Fundador da Casa Belezinha, e Walter Becker, vice-presidente da Universidade Ítalo Brasileira. "Por mais de uma vez, Tarcísio relatou o que ocorreu em Paraisópolis, inclusive em uma coletiva de imprensa na tarde daquele mesmo dia. Informações sobre a situação criminosa devem ser apuradas junto à polícia, que é a quem cabe investigar o episódio. Para preservar a integridade do candidato e de toda equipe que o acompanha, informações sobre a segurança de Tarcísio não serão detalhadas".
A versão das testemunhas é diferente das declarações registradas em boletim de ocorrência registrado na 89ª DP (Delegacia de Polícia) do bairro do Campo Limpo. Segundo os policiais, eles visualizaram bandidos com armas longas andando em motos após ouvirem tiros de metralhadora.
O texto do The Intercept Brasil cita que vídeos que estão circulando na internet mostram o corpo da vítima, Felipe da Silva Lima, de 28 anos, no chão, com um tiro no peito rodeado de policiais militares fardados. "Não há sinal de qualquer arma perto dele. O boletim de ocorrência informa ainda que os agentes não entregaram nenhuma arma que estivesse em posse dele à Polícia Civil de São Paulo", aponta o site.
Um fuzil Imbel 5.56 e uma pistola .40 que seriam de policiais militares que atuam à paisana foram apreendidos. Eles estão entre os suspeitos de terem realizado os disparos.
Relato. De acordo com a reportagem, cerca de meia hora após Tarcísio chegar ao local do evento em Paraisópolis, Felipe Silva de Lima e um homem, identificado como Rafael, se aproximaram, de moto, de um segurança que era policial à paisana e afirmaram que "a comunidade não quer vocês aqui, vão embora".
Na sequência, os dois homens, que trabalhariam para o tráfico de drogas da região, se deslocaram para a esquina da rua. Após isso, uma rajada de tiros foi ouvido afastado de onde ocorria o evento. As testemunhas ouvidas pelo site disseram que nenhum disparo foi direcionado a equipe do ex-ministro.
Então, ainda de moto, Rafael e Felipe voltaram para falar com a equipe de Tarcísio, mas foram recebidos a tiros. Felipe foi atingido no peito enquanto Rafael correu e conseguiu fugir. Mesmo após Felipe ser atingido, os seguranças do ex-ministros continuaram atirando.
Marcas de bala foram visualizadas em carros e trailers que estavam na área em que Felipe foi alvejado, local a 100 metros da sede do projeto social onde Tarcísio estava.
Criminosos da região tentaram buscar o corpo de Felipe após o jovem ser alvejado. O tiroteio parou depois de alguns minutos ao mesmo tempo em que policiais militares chegaram no local. Os agentes colocaram o corpo de Felipe em uma viatura e levado para um posto de gasolina.
Apenas alguns minutos, os policiais militares deixaram o posto de gasolina e levaram o jovem, já sem vida, ao hospital. O boletim de ocorrência só foi realizado às 17h, horas depois do episódio, ocorrido por volta do meio-dia.
A versão dos policiais é de que Felipe e Rafael atiraram neles e outros suspeitos também teriam feito o mesmo. Ainda segundo os policiais, os dois apontados como suspeitos teriam filmado os policiais à paisana que trabalham na segurança de Tarcísio.
A contratação de força militar, especialmente disfarçada, foi criticada pelo oponente de Tarcísio nas urnas, o petista Fernando Haddad. O ex-prefeito apontou ser estranho tal nível de segurança. "Não tenho policial militar à minha disposição como ele tem. Não me foi colocado à disposição. Sou tão candidato quanto ele", disse para a rádio CBN.
Repórter se negou a apagar imagens. A ida de Tarcísio a Paraisópolis também causou um pedido de demissão na Jovem Pan. O repórter-cinematográfico Marcos Andrade pediu a rescisão do contrato dele com a emissora ontem, após relatar que a equipe do candidato ao governo de São Paulo o estaria pressionando para apagar imagens do tiroteio em Paraisópolis.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Marcos Andrade contou que um integrante da equipe de Tarcísio mandou que ele apagasse as imagens que fez do dia. Ele teria sido levado, junto dos demais profissionais de imprensa que acompanhavam o candidato, à sede da campanha, onde alguém perguntou o que ele havia gravado —o UOL confirmou que se tratava de Fabrício Cardoso de Paiva, servidor licenciado da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Ao UOL, Marcos Andrade contou que, após a reportagem da Folha de S.Paulo, ele foi chamado por seus superiores para conversar, e foi informado que a equipe de Tarcísio teria pedido a demissão dele. A emissora garantiu ao repórter que não faria isso, mas solicitou que ele fizesse um vídeo em apoio ao candidato.
Quando Andrade negou, o chefe dele disse que ele teria de fazer a gravação porque "jogou o nome da Jovem Pan na lama", relatou o repórter. Ele afirmou que não sabe o que vai fazer agora, mas que está tranquilo. "Espero que sejam suficientemente inteligentes para não fazer nada contra a minha vida", disse. "Se alguma coisa acontecer comigo, vai ter repercussão. Se alguém fez alguma coisa de errado, esse alguém não foi eu".
Questionada pela reportagem, a assessoria Jovem Pan disse apenas: "Ele pediu demissão. Este é o fato".
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