Governo de SP: leia a íntegra do debate entre Tarcísio e Haddad na Globo
O último debate do segundo turno das eleições de 2022 entre candidatos ao governo de São Paulo aconteceu nesta quinta-feira (27) e foi realizado pela TV Globo. Participaram do debate Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT).
Segundo a mais recente pesquisa do Ipec, divulgada na última terça (25), os candidatos estão empatados tecnicamente. Tarcísio aparece com 46% dos votos válidos contra 43% do petista. Brancos e nulos somam 7%. Não sabem ou não responderam são 4%, segundo a pesquisa, que tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
No primeiro bloco, Tarcísio defendeu o presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre salário e auxílio ao ser questionado por Haddad sobre a frequência escolar e vacinação de crianças. Quando a pauta era habitação, Haddad procovou Tarcísio questionando se o candidato votaria em Lula no domingo.
O segundo bloco foi marcado por temas escolhidos pelos candidatos. O primeiro tema foi pessoas em situação de rua, em que os candidatos falaram, principalmente, sobre o centro da cidade de São Paulo, e o segundo tema foi a falta de médicos no SUS (Sistema Único de Saúde).
No terceiro bloco, cada candidato contou com mais quinze minutos livres para debater. Tarcísio atacou Lula e elencou os petistas presos durante os governos do PT. Haddad rebateu citando Roberto Jefferson, aliado do governo Bolsonaro, que é apoiado por Tarcísio.
No bloco final, mais duas rodadas de perguntas sobre temas escolhidos pelos candidatos. Haddad escolheu o tema "violência contra a mulher" para falar sobre o caso de Paraisópolis, questionando Tarcísio sobre o pedido para o cinegrafista apagar o vídeo da ação. Tarcísio respondeu que Haddad faz sensacionalismo.
Leia aqui a íntegra do debate na Globo:
- Primeiro bloco:
[César Tralli]: Olá, boa noite! São dez horas, e começa agora o último debate entre os candidatos ao Governo de São Paulo neste segundo turno. Tenho o prazer de receber aqui, no estúdio da TV Globo em São Paulo, Fernando Haddad, do PT, e Tarcísio de Freitas, do Republicanos. Teremos, portanto, o embate direto entre os dois candidatos, e a dinâmica vai ser a seguinte: primeiro e terceiro blocos com perguntas de temas livres, segundo e quarto blocos com temas escolhidos pelos candidatos. Lembrando aqui aos senhores que os senhores poderão usar esse tempo da maneira como bem quiserem, entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas, e aí o candidato que estiver com a palavra não poderá ser interrompido.
E quando terminar o quarto bloco, cada um dos senhores fará suas considerações finais. Antes de a gente começar, uma rápida observação aqui: se algum candidato se sentir moralmente ofendido, pode pedir o direito de resposta. Se o pedido for considerado procedente, pertinente, o candidato, então, vai ter um minuto para se defender. Pelo sorteio que nós fizemos previamente, o candidato que abre, portanto, o nosso debate e o primeiro bloco é Fernando Haddad, do PT. Cada candidato tem, a partir de agora, 15 minutos para administrar como quiser. Candidato Haddad, por favor, o senhor pode começar o debate, o tema é livre, 15 minutos.
[Fernando Haddad]: Boa noite, Tralli, boa noite a todos que nos acompanham neste momento importante da história do Brasil. Boa noite, candidato Tarcísio. Eu queria, nesse debate, Tralli, trazer à consideração do eleitor, da eleitora as propostas que eu venho defendendo ao longo de toda essa campanha. Eu estou preocupado com o seu orçamento doméstico e propus zerar o ICMS da carne e da cesta básica e aumentar o salário mínimo de São Paulo para 1.580 reais. Estou preocupado com a fila do SUS: um milhão e 200 mil procedimentos aguardando agendamento, e vou levar a experiência da capital para o interior: 70 hospitais-dia na região metropolitana, no interior e no litoral, onde terão três centros cirúrgicos e médicos especialistas para fazer a fila do SUS andar. Estou preocupado com o seu transporte.
Vou concluir as linhas do metrô prometidas e não entregues, vou criar o Bilhete Único Metropolitano em todas as metrópoles, não só na capital — Campinas, São José dos campos, Sorocaba —, e vou fazer o trem intercidades, começando pela interligação de Campinas com a capital. Eu estou muito preocupado com a educação da nossa juventude, e vou criar o Instituto Federal que vai garantir ao seu filho, durante o ensino médio, um certificado profissional.
São essas algumas das ideias que eu quero trazer à sua consideração, e eu entendo que essas ideias vão ao encontro dos seus anseios mais nobres de tornar o nosso estado ainda mais forte, ainda mais potente para enfrentar os desafios que estão colocados. Cumprimento mais uma vez o candidato Tarcísio com a seguinte pergunta: hoje, há um problema grave, no Brasil todo e no Estado de São Paulo, em relação à frequência escolar e vacinação de crianças. Estou falando de crianças, frequência escolar e vacinação. Quais são as suas propostas para atender esse anseio dos pais do nosso Estado de São Paulo?
[Tarcísio de Freitas]: Boa noite, Tralli, boa noite a você que nos acompanha, boa noite, Haddad, parabéns à Rede Globo pela organização desse debate, um importante espaço para a gente apresentar as nossas ideias, nos apresentar para os eleitores. Eu, primeiro, queria agradecer os quase dez milhões de votos que eu tive no primeiro turno que trazem para nós o senso de responsabilidade, senso de gratidão. Muito obrigado ao Estado de São Paulo. Meu compromisso é cada vez maior. E, Haddad, eu queria responder sua pergunta, mas, antes, eu julgo necessário restabelecer a verdade. É minha primeira campanha eleitoral, e a gente está sendo bombardeado por fake news, por notícias falsas, por desinformação, e eu preciso aproveitar esse espaço para restabelecer a verdade.
A primeira delas: "Tarcísio vai aumentar a conta de água. Mentira, não vou". Quando eu discuto privatização da Sabesp, eu estou querendo aumentar a eficiência, eu estou querendo fazer com que a gente invista mais em reuso, que a gente invista mais em diminuição das perdas, em recuperação dos mananciais e em ligação de esgoto. Eu quero fazer um milhão e 200 mil novas ligações nos próximos dois anos para melhorar a qualidade do Tietê, para melhorar a qualidade do Pinheiros e diminuir a conta de água. A Sabesp já tem quase metade do seu capital privado, 49.7%, e se a gente olhar o que aconteceu nas privatizações do sistema de saneamento no Brasil, a gente vai ver que a tarifa média das empresas privadas é ligeiramente inferior à tarifa média das companhias estaduais. Portanto, nós vamos modelar, nós vamos estudar a privatização da Sabesp. Vamos seguir com ela? Apenas se for melhor para o cidadão.
Se a gente conseguir trazer investimento, se a gente conseguir diminuir o tempo de universalização do serviço de saneamento e se a gente conseguir abaixar a tarifa. Então, esse é o primeiro esclarecimento que eu tenho que fazer. Segundo: "O Governo Federal, o governo do presidente Bolsonaro vai, Bolsonaro reeleito, não vai dar aumento real sobre o salário mínimo". Falso, mentira. O salário mínimo vai ter aumento acima da inflação. "Aposentadorias, pensões não vão ter aumento real." Mentira. Aposentadorias e pensões vão ter aumento acima da inflação. "Funcionários públicos não vão ter aumento acima da inflação." Mentira. Terão aumento acima da inflação também, porque suportaram uma barra pesada durante a pandemia e agora terão aumento acima da inflação.
"Tarcísio vai trazer para São Paulo o modelo de Segurança Pública do Rio de Janeiro". Falso. Mentira. Vamos manter a Secretaria de Segurança Pública, que já é secular, tem mais de cem anos. Então, o modelo de São Paulo nós vamos manter, no entanto, nós vamos acabar o níveis intermediários para ter o comando geral da Polícia Militar, para ter a direção geral da Polícia Civil mais próximas do governador, para aumentar a integração entre as polícias. "O Presidente Bolsonaro não vai dar o Auxílio Emergencial no próximo mandato". Falso, mentira. O Auxílio Emergencial vai ser garantido.
"Ah, o Presidente Bolsonaro vai acabar com o décimo terceiro". Falso. Também é mentira. Foi tanta fake news, Haddad, que pessoas ligadas até a você, me refiro ao Márcio França, disseram que o Bruno, goleiro Bruno, que foi condenado por assassinato, ia ser meu secretário. Aí já começa a entrar na área do deboche com o cidadão. Deboche com o eleitor. Isso aí não faz o menor sentido, gente.
E aí, por causa dessa questão, houve a oitava condenação da sua campanha por fake news. Isso é desrespeito. E o deboche do goleiro Bruno, tudo bem. Mas falar que, por exemplo, eu concorri para atrasar o envio de oxigênio para Manaus, aí não, aí não. Com base em quê? Eu não sei, Haddad, se você viu o seu material de campanha. Se você autorizou aquele material a ir para a rua, mas o que eu queria perguntar é o seguinte: por que você acha que atrasou? Por que você acha que a minha escolha foi equivocada? E detalhe, eu era Ministro da Infraestrutura, estava lá para contribuir. Por que você acha que se eu tivesse outro caminho a gente ia levar menos tempo? E qual seria esse caminho? Isso que eu te pergunto.
[Fernando Haddad]: Você não respondeu à minha pergunta, mas já que você está falando uma porção de coisas, eu queria que você respondesse por que não está observando as condicionalidades da transferência de renda. Quando você transfere renda, a lei determina que a vacinação e a frequência sejam acompanhadas pelo governo. Isso é desde o Fernando Henrique Cardoso, passando pelo Bolsa Família, pelo Auxílio Emergencial e, agora, pelo Auxílio Brasil. Está na lei! Você tem que acompanhar a vacinação de crianças, Tarcísio. Você tem que acompanhar a frequência escolar. Eu te perguntei para saber por que você não acompanha a vacinação de crianças. Outro dia, você estava na televisão, dizendo que as crianças vão ser mais obrigadas a se vacinar. Você vai dizer que é mentira? Você estava na Rede Globo dizendo isso!
Obrigou o Burnier a pegar o Estatuto da Criança e do Adolescente e ler para você porque você não conhecia o Estatuto da Criança do Adolescente, e você vai cuidar de quantas crianças aqui no Estado de São Paulo? O Burnier também estava mentindo? Era fake news do Burnier? Você não conhecia o estatuto. É mentira que o Bolsonaro deu um real de aumento real de salário-mínimo? Em quatro anos não deu nada de aumento real. A inflação comendo solta. Os alimentos explodindo o preço, ninguém consegue fazer mercado neste país. Você vem dizer para o cidadão que é mentira? Que ele deu aumento real de salário-mínimo? Onde? Em que planeta você vive? Não deu um real de aumento real de salário-mínimo. Zero. Você vem dizer?
As coisas que você diz aqui é um absurdo. Sim, você tem responsabilidade sobre o atraso. O governo Bolsonaro atrasou a remessa de oxigênio para Manaus, um absurdo o que aconteceu! Você tem as imagens de TV, aquelas imagens de gente sufocada em Manaus, é mentira? O atraso da compra de vacina da Pfizer? É mentira? Os e-mails todos que foram para o Tribunal de Contas da união, é mentira? Tudo isso é mentira? Então a imprensa está mentindo para todo mundo? Porque tudo o que eu falo na televisão é baseado em reportagem de jornal.
Em reportagem da TV Globo, da Bandeirantes, do The Intercept. Hoje se as pessoas forem no The Intercept vão ter uma série de coisas que daqui a pouco vão estar na minha boca, e você vai falar que é mentira. Estou me baseando em reportagem da Folha de São Paulo. A Folha de São Paulo está mentindo? O The Intercept está mentindo? O SP1 e o SP2 estão mentindo? É tudo mentira? Desse jeito, não vai. Eu vou comprovar tudo o que você falou aqui. Você vendeu a Cedae no Rio, você participou da privatização da Cedae, você sabe que o preço da água aumentou.
Você sabe que 226 empresas privatizadas no mundo de água foram reestatizadas porque deu tudo errado. Não se vende água, água é bem essencial, o mundo todo já percebeu isso. Você está querendo estudar. Como você está querendo estudar as câmeras. Não funciona assim. Já que de vacina de criança você não vai falar. Qual é a sua opinião sobre o salário-mínimo? O Bolsonaro agiu corretamente? O Dória agiu corretamente? Qual é a sua proposta sobre o salário-mínimo?
[Tarcísio de Freitas]: Haddad, você não me respondeu a minha pergunta.
[Fernando Haddad]: Você não me perguntou nada.
[Tarcísio de Freitas]: Perguntei. Perguntei qual era o caminho que eu deveria ter usado em Manaus. Para você afirmar que eu escolhi um caminho que levou mais tempo...
[Fernando Haddad]: Você não pode escolher uma estrada que tem 900 km de terra.
[César Tralli]: Candidato Haddad, pelas regras.
[Fernando Haddad]: Ele falou que eu não respondi, estou respondendo.
[César Tralli]: Deixe o candidato Tarcísio concluir o raciocínio dele.
[Fernando Haddad]: É que a gente tem que interagir.
[César Tralli]: Pega na deixa dele.
[Fernando Haddad]: A gente tem que interagir.
[Tarcísio de Freitas]: Vamos lá, Haddad. A estrada não tem 900 km de terra, tem 455 km de terra. Segundo, se você levasse o oxigênio para Porto Velho e levasse de balsa até Manaus, você gastaria seis dias. Se você levasse para Belém e levasse de balsa para Manaus, você gastaria sete dias, oito dias. Você levando nos 455 não pavimentados, você levou quatro, economizou dois dias em relação ao outro percurso, e três dias, quatro dias em relação a outro percurso.
[Fernando Haddad]: Por que está em sigilo a decisão? Está em sigilo de 100 anos.
[Tarcísio de Freitas]: Essa decisão não está em sigilo.
[Fernando Haddad]: A decisão do Bolsonaro não disponibilizar avião. Só tem barco e caminhão para levar oxigênio para Manaus? Por que está em sigilo a decisão do Bolsonaro? Você foi conivente com a decisão do Bolsonaro.
[César Tralli]: Candidato Haddad, queria pedir só para o senhor mais uma vez, pelas regras que os senhores assinaram, eu pediria que o senhor deixasse o candidato Tarcísio concluir, e aí o senhor faz a sua intervenção. Por favor. Senão o senhor fica interrompendo ele o tempo todo, e vice-versa, e a discussão não caminha do ponto de vista propositivo que é a intenção aqui. Então, por favor, candidato Tarcísio, continue o seu raciocínio.
[Tarcísio de Freitas]: Bom, primeiro, para você ter ideia do volume a ser transportado de oxigênio, não dá para transportar em avião. Aliás, transportar oxigênio no avião é um risco, então, você faz uma exceção para transportar pequenas quantidades para atender as pessoas emergencialmente. Então o volume que estava sendo transportado, e eram algumas carretas, precisavam ou ir de balsa ou ir de estrada. E não tem nada de sigilo com relação a essa decisão. E foi uma decisão correta que proporcionou o encurtamento de tempo.
Eu sou estou te falando isso para você ter ideia que está saindo coisa na sua propaganda que não sei nem se você sabe, mas que não corresponde à verdade. E a gente tem que trabalhar com a verdade. Com relação a questão da vacinação, eu vou trabalhar incessantemente para que a vacinação seja um sucesso. O Brasil tem uma tradição de vacinação. Tenho certeza que você vacinou seus filhos, eu vacinei meus filhos, e é muito fácil convencer cada pai, cada mãe a vacinar seus filhos. E nós vamos levar a vacina onde os pais estiverem.
Nós vamos trabalhar para que o Plano Nacional de Imunização continue sendo um sucesso. Investindo em propaganda, investindo em comunicação, investindo em convencimento. E a gente não precisa obrigar um pai e a mãe a vacinar seu filho, ele sabe que tem que vacinar, ele sabe que aquilo é saúde. Com relação a frequência, tem uma coisa muito interessante, o que nós vamos fazer nas escolas de ensino médio para combater a evasão escolar? Nós vamos aumentar o Bolsa do Povo, direcionado aos estudantes. Hoje nós temos uma bolsa de 100 reais por estudante, que é paga ao longo de dez meses. Nós vamos ampliar, nós não vamos pagar essa bolsa só para 300 mil estudantes como é hoje, nós vamos pagar essa bolsa para um milhão e 200 mil estudantes. Ou seja, para todos os alunos do ensino médio. E não vamos pagar essa bolsa por dez meses, vamos pagar por doze meses.
Essa bolsa vai ser de 120 reais, de forma a monitorar a frequência dos alunos, que é algo superimportante. Nós vamos ter transferência de renda, nós vamos ajudar os pais que estão desempregados, hoje são 20 mil famílias ajudadas com 500 reais. Nós vamos ampliar isso para 100 mil famílias, de maneira a garantir a permanência dos alunos na escola, que o melhor combate à evasão escolar é política de transferência de renda. Então é isso que nós vamos fazer aqui em São Paulo. E aí, queria mudar de assunto, Haddad, te perguntar sobre agronegócio. É muito comum a gente ouvir suas declarações sobre MST. Recentemente, você num evento falou sobre desapropriação de terras improdutivas. Eu te pergunto, Haddad, tem terras improdutivas em São Paulo? E você vai trabalhar ao lado do MST? Qual o papel que o MST terá no seu governo, e o que você está pensando e propõe para o agronegócio?
[Fernando Haddad]: Queria voltar a temas que não foram respondidos pelo meu adversário, e vou depois passar a responder sobre a questão do agronegócio. Em primeiro lugar, ninguém pode acreditar que não é possível levar para Manaus uma coisa para salvar uma vida. É impossível alguém acreditar que você não possa levar um avião. As pessoas estavam sufocando em Manaus. E o que o Tarcísio está dizendo aqui é que só tinha dois jeitos de levar: por terra ou por água— ou fluvial, ou terrestre, e não é verdade. Pergunte para um especialista. Está em sigilo a decisão do Bolsonaro. Bolsonaro tomou muitas decisões equivocadas na pandemia. Ele prejudicou esse país. Ele prejudicou a moral desse país. Ele prejudicou a imagem desse país. E nós aqui em São Paulo, nós não vamos admitir jamais esse tipo de prática. Nós vamos vacinar as pessoas.
Nós não vamos desdenhar do Butantan. O Butantan é um patrimônio paulista que foi debochado pelo governo. Vocês, vocês debocharam do Butantan, que é uma instituição centenária, Tarcísio. Não se faz isso. Nós deixamos as pessoas à mercê de uma pandemia, sem tomar as medidas necessárias, e o governo de braços cruzados, fazendo pouco caso da tragédia que estava acontecendo. Condicionalidade de transferência de renda você conhece: Bolsa Escola, Bolsa Família. Sempre a gente exigiu condicionalidade, e nunca ninguém reclamou. Cadernetinha do seu filho de vacinação, levar na escola para matricular a criança, isso é uma coisa usual, e tem décadas, e que agora o Tarcísio propõe acabar, não vai ter mais a carteira de vacinação porque o pai cuida. Mas não é a escola contra o pai, é a escola de mãos dadas com a família. Isso não é vergonha para ninguém ter uma caderneta para levar para a escola e demonstrar que está tudo ok, até para receber orientação, muitas vezes.
Às vezes a caderneta não é para obrigar no sentido clássico, de? não! É para receber a transferência de renda, leva a caderneta e você está quite com teu filho. A maior joia que você tem na vida é seus filhos. Nós vamos descuidar disso? O agronegócio tem uma lei, uma lei no país que terras improdutivas, elas têm que ser destinadas à produção de alimentos. Eu te fiz a pergunta do salário mínimo, até agora você não me respondeu. As pessoas, Tarcísio, não estão conseguindo comprar alimento. Não dá! Não dá para comprar alimento sabe por quê? Vocês não cuidaram do Plano de Aquisição de Alimentos.
Vocês acabaram com o programa de merenda solar. Vocês congelaram por cinco anos o per capita da merenda. Hoje é suco e bolacha. Agora— Biscoito, como vocês gostam de falar. É isso que está sendo servido para as crianças: merenda congelada, e o Programa de Aquisição de Alimento destruído, não tem mais estoques reguladores. Você vai no mercado, você vê os preços subindo. Nós temos que aumentar a produção de alimentos em São Paulo e no Brasil. A produção per capita de arroz, feijão, mandioca está caindo no Brasil.
É por isso que você vai ao mercado e está cada vez mais caro. Qual é a sua política para o salário mínimo? Vamos voltar a um tema que interessa a mais de 40 milhões de brasileiros: qual é a sua proposta para o salário mínimo paulista e qual é a sua proposta, como liderança, para o salário mínimo nacional?
[Tarcísio de Freitas]: Vamos lá, Haddad, primeira coisa: vamos esclarecer que eu falei da balsa ou da rodovia em função do volume. Volume, várias carretas iam ser transportadas para Manaus, por isso que a opção não foi aérea, a opção foi terrestre. Ou ela era terrestre, ou fluvial. Eu queria ver você colocar várias carretas em um avião. Não seria possível. Com relação ao salário mínimo, como eu disse aqui, o ministro Paulo Guedes já colocou isso de maneira muito clara, muito enfática, e o presidente Bolsonaro também: salário mínimo vai ter aumento real. Salário mínimo ano que vem vai aumentar mais do que a inflação. Se você parar para pensar, na Lei Orçamentária do ano que vem, a gente tem uma inflação prevista de 7,5%; nós vamos acabar esse ano com a inflação de 5,5%.
A inflação está em queda graças à coragem de enfrentar, por exemplo, a questão dos combustíveis, a redução do ICMS dos combustíveis. O preço dos alimentos está caindo, e o Brasil vai terminar esse ano com uma inflação menor do que vários países da Europa, do que o Reino Unido, do que os Estados Unidos. A gente está vendo o Banco Central Europeu elevando taxa de juro, e a gente vai ser o primeiro país a diminuir taxa de juros graças à eficácia da política monetária de um Banco Central independente, um Banco Central autônomo, uma das muitas reformas que o governo Bolsonaro promoveu que vão fazer o Brasil impulsionar. Com relação ao salário mínimo paulista, uma criação de Guilherme Afif Domingos quando foi secretário do trabalho do governo Serra. E a gente percebe que não tem impacto orçamentário direto porque, no final das, contas, é um custo arcado pela iniciativa privada, não há vinculações, não há indexações, então a gente poderia aumentar o salário mínimo.
Agora, qual é a grande questão? É promover o emprego. E nós vamos promover bastante o emprego movendo as alavancas corretas. Então, a nossa ideia, e nós estamos estudando isso, é elevar o salário mínimo paulista na casa de 1.550, 1.600 reais. Agora, nós vamos fazer isso com responsabilidade, que não se resolve os problemas econômicos na canetada. Não se resolve os problemas econômicos na base da marretada, como foi feito lá atrás, no governo Dilma, por exemplo, com o setor elétrico, que acabou gerando um passivo muito grande. Então, nós vamos ver como que a gente vai gerar emprego, porque não adianta também asfixiar o produtor. Mas a gente tem condição de aumentar o salário mínimo paulista pela grandeza do Estado de São Paulo e pelos empregos que nós vamos gerar, pela produtividade, pela competitividade que nós vamos produzir.
E com relação ao agronegócio, nosso agro tecnificado, nosso agro diversificado, nós vamos investir muito, nós vamos auxiliar o produtor rural com credito rural, com seguro agrícola, com a regularização fundiária, que é uma coisa fundamental. Então, o produtor rural, que está lá no interior de São Paulo, nos assistindo, investindo em pesquisa, recuperando o sistema de pesquisa paulista, porque vai ser fundamental, e tendo um programa paulista de agricultura, de interesse social, onde a gente conecte o pequeno produtor rural ao mercado consumidor justamente na questão da merenda escolar. E aí eu queria saber, e o MST? Qual a participação que o MST vai ter no seu governo?
[Fernando Haddad]: Produzir, como ele está produzindo. Sabia que eu, aqui em São Paulo, comprei merenda escolar orgânica do MST? Todo o arroz orgânico servido aqui na Cidade de São Paulo veio do MST. A banana veio do MST. Eu comprei de todos os produtores. Eu fui o prefeito e o ministro que mais comprou da agricultura familiar, e não foi só do MST como você quer fazer crer, Tarcísio. Eu comprei de todos os agricultores familiares a produção que tinha, e a nossa política de produzir alimentos gerava um mercado barato, gerava alimentos baratos. Eu repito: vocês destruíram o programa de aquisição de alimentos. Tecnologia brasileira exportada para ONU, ganhadora do Prêmio Nobel, programa mundial de alimentos, dois anos atrás, Prêmio Nobel da paz! Tecnologia nossa! Que nós desenvolvemos aqui, e vocês acabaram. Premiado internacionalmente. O juro dos implementos agrícolas, pergunte para o produtor, era de 2% ao ano para você comprar um trator, para você comprar um caminhão.
Hoje é 18. Eles estão dizendo que estão favorecendo o agro? Favorecendo coisa nenhuma! Quem multiplicou por cinco as exportações fomos nós, por cinco as exportações agrícolas brasileiras no nosso período. Hoje está todo mundo reclamando do preço do crédito. Ninguém consegue pagar o banco pelos juros que vocês estão cobrando. O Banco do Brasil... Aliás, eu queria fazer uma pergunta para você, vocês estão espoliando, a palavra só pode ser essa, o beneficiário do Auxílio Brasil.
Esse consignado que vocês estão fazendo. Nós fizemos um consignado para quem recebia salário, contracheque no banco, com as taxas mais baixas de juros já praticadas. Vocês agora, no período eleitoral, estão fazendo um consignado para arrancar o couro do beneficiário do Auxílio Brasil. O juro do Auxílio Brasil, o juro do consignado do Auxílio Brasil está chegando na casa do cheque especial. A quem vocês estão pensando em favorecer: o trabalhador que não consegue terminar o mês ou o banco que faz o desconto do Auxílio Brasil e endivida as famílias? Queria te perguntar sobre isso, se você concorda com a taxa de juro cobrada no Auxílio Brasil consignado.
[Tarcísio de Freitas]: O Governo Federal promoveu um dos maiores planos Safras da história, e o que a gente viu no Brasil nos últimos anos foi o aumento da oferta de crédito, uma revolução silenciosa do sistema financeiro. Quando a gente aumenta a oferta de crédito, no final das contas, a gente diminui o spread bancário; e isso que aconteceu, mais gente tendo acesso ao crédito. Se o consignado do Auxílio Brasil fosse tão ruim, ia ter gente que não ia judicializar, que não ia se contrapor, que não ia reclamar que o consignado do Auxílio Brasil está acontecendo.
Aliás, o Auxílio Brasil, que foi um grande alívio. Observe que no momento que as pessoas mais precisaram de dinheiro, que foi o momento da pandemia, onde muitos informais ficaram sem trabalho, o governo veio com o Auxílio Emergencial: 600 reais. As chefes de família recebiam o dobro, 1.200 reais. Um dinheiro que, no primeiro momento, virou poupança. As pessoas não tinham segurança do que iam que fazer, mas no segundo momento virou consumo, isso impulsionou a nossa economia, isso ajudou a preservar empregos. Fez com que muitas famílias pudessem fazer sua reforma, muitas famílias tivessem a sua sobrevivência.
O Auxílio Brasil que é algumas vezes maior do que o Bolsa Família antigo. Observem que um ano de Auxílio Emergencial correspondeu a mais de dez anos de auxílio de Bolsa Família. Então, no final das contas, a mão assistencial do governo. Então a gente teve esse cuidado, esse carinho com as pessoas. A gente não está deixando ninguém na mão. O Governo Federal criou o Pix, para aumentar a velocidade, a facilidade de transações, bancarizou todo mundo, diminuiu as taxas, perdoou dívidas. Olha as dívidas do Fies, quantos estudantes estavam endividados e iam passar anos, e receberam perdão de até 99% das suas dívidas? Alívio promovido pelo governo. Então, é isso que foi feito ao longo desse tempo todo. Muito cuidado com o social. É o cuidado que nós vamos ter aqui em São Paulo. Por exemplo, promovendo o microcrédito para os nossos empreendedores. Eu queria saber, Haddad, o que você está prevendo para os pequenos empreendedores paulistas?
[Fernando Haddad]: Olha, eu queria nesses três minutos que restam, pontuar discordâncias que são muito importantes para que a gente entenda quais dois projetos estão em debate hoje aqui. Não é verdade que o oxigênio não possa ser transportado. O volume não justifica. Você tem uma frota de aviões da FAB para transportar ministro, para transportar militar, por que você não pode usar a frota da FAB para transportar oxigênio? Qual é a dificuldade? São quatro horas de voo. Qual é a dificuldade? Ir e voltar, ir e voltar quantas vezes fossem necessárias para suprir de oxigênio quem estava morrendo. Botaram o oxigênio na estrada, 96 horas para o oxigênio chegar, as pessoas... o oxigênio encontrou as pessoas sem vida. Isso é descaso, isso é falta de logística, é falta de raciocínio, não se deixa as pessoas assim. Você não pode fazer transferência de renda sem condicionalidade, sem contrapartidas, as contrapartidas não são coisas de outro mundo. Manter o filho na escola e vacinar, será que isso ofende tanto o meu adversário? Qual é a dificuldade?
Tudo o que a gente quer é o filho educado e com saúde. Isso é parte da família paulista. É do nosso... é o nosso sonho ter a família saudável e sendo educada. Tarcísio, nós promovemos o maior avanço da agricultura familiar e do agronegócio da nossa história. Basta pegar os indicadores. Foi o momento em que a gente mais exportou. Nunca o salto de exportação foi tão grande quanto naquele período. Só que tinha uma diferença: a gente olhava para o alimento. Eu perguntei pra você da merenda, você fala do agricultor familiar, eu perguntei pra você da merenda. Por que acabaram com o programa de aquisição de alimentos? Por que não deu o reajuste da merenda desde a posse? Vocês não dão. Os mesmos 36 centavos por dia. Você se alimenta com 36 centavos por dia? Os seus filhos se alimentam com 36 centavos por dia? Por que você acha que o filho de uma pessoa que está numa escola pública vai se alimentar com esse valor? E a disparada de preços.
Agora, o Desenvolve São Paulo, ele vai atuar para fomentar a pequena empresa. Hoje você tem dois milhões de empresas em São Paulo endividadas. E nós vamos fazer um programa de três bilhões de reais, já o ano que vem, para zerar a dívida dessas empresas, e elas voltarem a produzir com dignidade. Nós vamos fazer o empréstimo. Agora, nós não vamos cobrar o juros que vocês estão cobrando dos pobres do Auxílio Brasil, não. Nós vamos emprestar para os pobres do Auxílio Brasil, se precisar consignar, com juro baixo, e para o produtor com juro baixo também. É isso que eu vou fazer.
[Tarcísio de Freitas]: Também, Haddad, nós vamos incentivar o micro e pequeno produtor, porque são eles que geram a maior quantidade de empregos. Vamos usar o Desenvolve São Paulo para, em articulação com o sistema financeiro e o BNDES, trazer mais recursos, ou seja, nós vamos aportar recursos para contrapor o superávit financeiro de maneira que a gente mais estoque e possa fazer empréstimos com maiores prazos e menores taxas, vamos alongar o prazo de pagamento, dar carência e diminuir as taxas. E uma coisa muito importante que nós vamos fazer, muitas vezes o crédito não chega na ponta, não chega no pequeno por falta de capacidade de aportar garantia. E como é que nós vamos aportar garantia? Dando aval estatal. Ou seja, o garantidor da operação de crédito vai ser o Governo do Estado. E esses créditos serão orientados a bons projetos, e o Sebrae vai entrar na assistência técnica para ajudar esses pequenos empreendedores a prosperar.
[Fernando Haddad]: Olha, nós não podemos abrir mão do que São Paulo tem de melhor, nós não podemos abrir mão da modernidade do Estado de São Paulo. Essas políticas públicas de alimentação escolar, de apoio ao pequeno produtor, essas políticas que estão sendo desmanteladas, a condicionalidade do Bolsa Família, no meu governo, elas vão voltar e vão voltar com força. Independentemente do que aconteça com o país. Aqui vai ter controle de gastos, e as famílias mais... que precisam mais do Estado, vão ter o Estado a seu dispor.
[Tarcísio de Freitas]: No meu governo vai ter controle de gastos porque a gente sempre foi guiado pela esteira da responsabilidade fiscal. A gente faz conta para tudo, por exemplo, para zerar o ICMS da carne, que nós vamos zerar, a gente já sabe quanto custa e de onde vai tirar. Se você quiser, eu te falo quanto é que custa. Nós vamos trabalhar dentro da responsabilidade fiscal, fazendo a diferença na vida do cidadão.
[César Tralli]: Candidatos, muito obrigado, os senhores falaram cada um por 15 minutos. Nós vamos fazer agora um rápido intervalo. E no próximo bloco, os candidatos farão perguntas com temas determinados. Fica aí, nós voltamos já, já. É para você que esse debate é feito. É a Globo nas eleições.
- Segunda bloco:
[César Tralli]: 10h35, estamos de volta ao vivo com você aqui no último debate entre os candidatos ao Governo do Estado de São Paulo. Muito obrigado pela sua companhia, falamos ao vivo do estúdio da TV Globo aqui na capital paulista. Vamos lá, neste segundo bloco, as perguntas são com temas determinados, e aí cada candidato faz uma pergunta e cada candidato vai ter também cinco minutos para administrar esse tempo como quiser. Pela ordem sorteada anteriormente, quem abre este bloco é Tarcísio de Freitas, do Republicanos. Candidato, aí no nosso telão o senhor vai observar seis temas. Eu peço que o senhor escolha um deles e que, portanto, faça uma pergunta para o seu adversário obviamente dentro do tema escolhido pelo senhor. Por favor, candidato.
[Tarcísio de Freitas]: Tralli, eu vou escolher famílias em situação de rua.
[César Tralli]: Sua pergunta?
[Tarcísio de Freitas]: Haddad, acho que basta andar pelas ruas de São Paulo para a gente perceber o quão grave é a situação das famílias que vivem nas ruas hoje e como há mudança de perfil. Antigamente, você tinha pessoas em situação de rua, hoje você tem famílias inteiras em situação de rua, não é? E é uma situação que realmente chama nossa atenção, nós temos que fazer alguma coisa. E a minha pergunta é: como que você pretende, caso eleito governador, resolver o problema das pessoas em situação de rua?
[Fernando Haddad]: Bom, hoje nós temos estimadas 40 mil pessoas em situação de rua, e de fato nós temos um perfil de morador em situação de rua muito diferente de alguns anos atrás. No meu tempo de prefeito eram 15 mil pessoas em situação de rua, 12 mil das quais nós conseguíamos abrigar em vários equipamentos da cidade de São Paulo. Hoje nós temos 40 mil pessoas em situação de rua e apenas 16 mil em abrigo, portanto, 24 mil pessoas ficam ao relento. Primeira providência que eu tomei quando me lancei candidato a governador foi procurar o cardeal Dom Odilo, o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral da População em Situação de Rua, e começar a desenhar uma política de atendimento a essa população. E nós vamos oferecer para essa população todas as possibilidades possíveis e necessárias para que ela encontre um caminho. Portanto, a solução não será única.
Existem pessoas, famílias que vão receber um auxílio aluguel. Existem famílias que vão receber a renda básica. Existem pessoas — indivíduos, não é? —, homens solteiros, às vezes egressos do sistema prisional, que não têm nenhum tipo de dependência química; nós vamos abrir uma frente de trabalho. Existem pessoas que têm dependência química e estão colocando em risco a sua vida ou a vida de terceiros, aí nós vamos pedir para um médico fazer um laudo e fazer a internação dessa pessoa. Muitos não precisam de internação — a grande maioria —, precisam de tratamento, teto e frente de trabalho, programa que nós vamos recuperar e que reduziu em 2/3 o consumo de crack, por exemplo, na região da Luz. Então, é um conjunto de medidas que nós vamos fazer com os prefeitos, porque, quando eu for governador, eu não vou empurrar para o colo do prefeito uma solução que tem que ser compartilhada com o Governo do Estado, que nunca se envolveu com esse assunto tão grave, que traz tanta preocupação para os paulistas.
[Tarcísio de Freitas]: Haddad, você lembra de João Carlos Justino? É o nome de uma pessoa que morreu de frio quando você era prefeito. Você recolheu, mandou recolher, e foi criticado por isso, cobertores, papelões, até objetos pessoais por uma questão estética. Você, quando foi prefeito, prometeu entregar 55 mil habitações; entregou pouco mais de 11. E você paralisou obras de urbanização da favela— de favelas e 16 mil habitações que estavam em construção. Então, se você não conseguiu naquela época, como prefeito, resolver— ah, e mais um detalhe: a população de rua aumentou. As invasões do MTST triplicaram. Então, se você não conseguiu resolver o problema da habitação quando foi prefeito, o que te leva a crer que você vai conseguir resolver agora como governador do Estado?
[Fernando Haddad]: Tarcísio, você falar de habitação é uma covardia, porque vocês acabaram com o Minha Casa Minha Vida. Como é que você vai fazer uma habitação sem o Minha Casa Minha Vida. Você vai votar no Lula, então, domingo. Porque a única maneira de a gente voltar a fazer habitação para a população de zero a três é elegendo o Presidente Lula. Vocês acabaram com o maior programa habitacional da história do Brasil. Você não tem um pouco de constrangimento de falar disso?
[Tarcísio de Freitas]: Haddad, a gente criou o Casa Verde e Amarela e promoveu a construção de muitas habitações em um período crítico para nossa história. Um período de crise. Um período de pandemia. Recentemente, nós entregamos mais de 350 mil unidades. Só em São Paulo, mais de 150 mil unidades. E vamos lembrar que a produção própria do Estado de São Paulo foi de 70 mil unidades nos últimos dez anos, ou seja, 7 mil unidades por ano, absolutamente insuficiente para dar conta do déficit habitacional. No meu governo, nós vamos trabalhar em várias frentes.
Uma frente, provisão direta, via CDHU, e nós temos um recurso vinculado com a habitação, mas ele é insuficiente. Nós temos hoje cerca de 1.7, 1.8 bi por ano para aplicar na habitação de interesse social. Nós vamos triplicar esse valor, porque eu entendo que a gente tem que aumentar a velocidade da produção habitacional. Segundo, vamos trabalhar com a iniciativa privada em parcerias público-privadas. Temos algumas experiências mais modestas. Nós produzimos pouco mais de 10 mil habitações em PPPs no Estado de São Paulo. Podemos fazer muito mais, até porque nós temos áreas nas cidades que comportam esse tipo de habitação.
Áreas onde a gente já tem infraestrutura de saneamento, infraestrutura de transporte, e a gente pode conjugar habitação de interesse social com habitação de médio padrão e empreendimentos comerciais, onde as duas últimas financiam a habitação de interesse social. Terceiro, nós vamos promover um amplo programa de aluguel social para ajudar as pessoas a se estruturarem. Nós vamos trabalhar com a assistência social viva, que é aquela onde a gente apresenta o caminho de saída, constrói um plano de desenvolvimento individual para que a pessoa possa dar os seus passos em direção à prosperidade, para que a gente possa requalificar. A pessoa fica no aluguel social antes de ter a propriedade, depois que ela já está pronta, inserida no mercado de trabalho.
Então, é assim que a gente vai trabalhar, e nós vamos aumentar muito a produção habitacional. Além disso, vamos trabalhar na regularização fundiária nas favelas, porque o que as pessoas querem é um CEP, as pessoas querem um endereço, e a gente vai requalificar. O patrimônio dessas pessoas que, com muito sacrifício, elas conseguiram construir.
[Fernando Haddad]: Tarcísio, quando eu fui prefeito, eu regularizei 200 mil imóveis na Cidade de São Paulo, 200 mil imóveis, foi o recorde de regularização fundiária da história. Você tem o apoio do Kassab. Quanto que o Kassab fez? Você tem o apoio do Ricardo Nunes, atual prefeito de São Paulo. Você não conhece São Paulo. Você não conhece nem a capital, nem o interior, nem o litoral. Você mudou seis meses para cá. Você fala desse número, essa quantidade de moradias? Está no orçamento do ano que vem, que vocês mandaram para o congresso? Cadê a rubrica? Onde está escrito?
Não tem para o salário-mínimo, não tem para o Minha Casa Minha Vida, não tem para o Farmácia Popular. Não tem para nada. Vocês não deixaram dinheiro para nada. Só não mão do relator, o orçamento secreto. É disso que vocês entendem: orçamento secreto. Para onde vai o dinheiro ninguém sabe, mas para remédio, para casa e para merenda não vai. Eu pergunto a você que me ouve, tem remédio no posto de saúde? Tem merenda na escola? Tem casa para morar? As pessoas estão na fila da moradia? Vocês estão vendo a fila andar?
Tarcísio, o mundo que você? você está falando de um mundo que não existe. O mundo do Bolsonaro não existe nem em São Paulo, nem no Brasil. As pessoas estão passando necessidade! Nós temos que falar seriamente com elas. Por isso que eu quero aumentar o orçamento familiar, e eu fui o único que fiz a proposta de reajustar o salário-mínimo paulista. Agora você está chegando aí, faltando 40 horas, "Não, eu também vou aumentar o salário-mínimo, vou baixar o ICMS da carne". Você não falou uma única vez desses dois assuntos ao longo de 90 dias de campanha, e agora quer colar nas minhas propostas? Para parecer que conhece São Paulo. Você não conhece São Paulo, Tarcísio.
[Tarcísio de Freitas]: Às vezes, eu tenho impressão que nem você, Haddad, porque no final das contas você promete, promete, e você não entregou nada. Olha só os resultados quando foi prefeito. Por isso que você ganhou o rótulo de pior prefeito da história. Não conseguiu entregar. Prometeu 20 Céus, entregou um; prometeu o hospital da Brasilândia, não entregou. O hospital foi entregue em 2019. Prometeu uma série de obras, entregou 31 obras inacabadas. Disse que ia trazer nove bilhões de reais do Governo Federal para fazer investimentos, só conseguiu trazer dois, e a presidente era alinhada com você. Ou seja, quantas coisas você deixou a desejar? Disse que ia construir 55 mil habitações, construiu 11. O prefeito Ricardo está investindo agora 8 bilhões de reais em habitação de interesse social, um grande programa de habitação. Então, é muita promessa, mas quando você teve com a mão na massa mesmo, não fez. Por que você não fez? Faltou o quê? Criatividade? Vontade?
[Fernando Haddad]: Tarcísio, você não fez nada para São Paulo, passou quatro anos lá, asfaltou 18 km de rodovia, não dá para asfaltar uma avenida em São Paulo. Conhece a avenida Sapopemba? Já passou por lá? Não deve ter passado nunca por lá. É a maior avenida de São Paulo. Você sabe quantos quilômetros tem a avenida de Sapopemba? São 40 km. Você não... Tarcísio, todas as obras que eu comecei, eu deixei dinheiro para terminar. Todas. Sabe por quê? Porque a Dilma deu um desconto de 50 bilhões. Eu entrei na Justiça para conseguir, mas consegui um abatimento de 50 bi da dívida de São Paulo.
[Tarcísio de Freitas]: Haddad, segundo relato do secretário de Fazenda que o sucedeu, você entregou a Prefeitura com um déficit de sete bi e meio, sete bi e meio a menos no caixa. Só para falar, 18 km, sabe qual é a malha administrada pelo DNIT de São Paulo? 53 km.
[César Tralli]: Tempo esgotado, candidato Tarcísio. A gente vai para mais uma rodada agora, e peço ao senhor, candidato Fernando Haddad, que escolha um dos temas do nosso telão e faça a pergunta para o seu adversário, obviamente, dentro do tema também. Então peço ao senhor que olhe aí para o nosso telão, escolha um desses cinco temas que ainda faltam a ser abordados aqui pelo senhor.
[Fernando Haddad]: Falta de médicos.
[César Tralli]: Por favor, a sua pergunta. Lembrando que cada um tem cinco minutos novamente.
[Fernando Haddad]: Nós temos um problema grave no Brasil de falta de médicos, sobretudo médicos especialistas. Queria saber a sua proposta para corrigir esse grave problema do nosso SUS.
[Tarcísio de Freitas]: Primeira coisa que nós temos que fazer é verificar o que nós temos no nosso Estado de São Paulo. Nós temos cidades aqui como Santos, Ribeirão Preto, São José do Rio preto, onde nós temos seis médicos para cada mil habitantes. Então, no final das contas, uma quantidade de médicos que é maior do que aquilo que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde. No entanto, nós temos outras regiões como Vale do Ribeira, que nós temos apenas um médico para cada mil habitantes. Então a gente percebe que tem um problema de distribuição espacial.
A primeira coisa é resolver esse problema de distribuição espacial. E como é que a gente pode resolver esse problema? Com o plano de cargos e salários. A gente está há muito tempo com os nossos quadros médicos, o quadro da área médica em São Paulo na mão de organizações sociais, que prestam importante serviço, também na mão de fundações que também prestam importantes serviços. Mas o quadro de médicos, de enfermeiros, de auxiliares de enfermagem do Governo do Estado foi diminuindo ao longo do tempo. A gente vem suprindo as necessidades com as OSs e com as fundações.
Nós precisamos fazer mais concursos, e elevar a carreira de médico para a carreira de estado, para que a gente posso ter um plano de carreira que permita fixar esses médicos em regiões onde hoje faltam os médicos, faltam os enfermeiros, faltam os auxiliares de enfermagem, ou seja, faltam os profissionais de saúde. E dando a mobilidade, ou seja, ele vai ter um prazo para ficar ali, vai ter um incentivo financeiro, e depois a gente vai... ele vai poder escolher um outro local para trabalhar, e assim a gente vai reequilibrar. Nós estamos formando médicos em quantidades suficientes, nós temos médicos sobrando em determinadas regiões, mas nós temos médicos faltando em outras regiões, então é nessa linha que nós vamos trabalhar: Plano de cargos e salários, médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem como carreira de estado, e a redistribuição espacial desse efetivo.
[Fernando Haddad]: O meu adversário de novo fantasia soluções para as quais o governo a que ele pertence não dá uma arquitetura possível. Pegue o orçamento do SUS dos últimos quatro anos. Tabela SUS congelada há quatro anos. Sem nenhum reajuste. As santas casas daqui de São Paulo, boa parte com dificuldade financeira. Falta de reajuste da tabela SUS. Os hospitais gerais, falta de reajuste da tabela SUS. Comissão tripartite — município, estado e união —, falta de reajuste da tabela SUS. Ano que vem, Tarcísio, vocês cortaram 42% do orçamento da saúde, está lá no orçamento. Corte de 42%. Eu quero saber com que dinheiro o sistema de saúde vai contratar, porque é uma regra federativa, não é só dinheiro estadual, é dinheiro municipal e estadual e federal. O SUS é um sistema único, como o próprio nome diz.
Essas soluções que ele apresenta deveria ter um presidente lá que reajustasse a tabela periodicamente, a cada dois, três anos, dar um reajuste. Quatro anos sem reajuste. O ano que vem 42% de queda do orçamento da saúde. Quero só pedir para você dar um Google, me perdoe pedir isso. Mas ele falou uma impropriedade, falou que eu deixei um rombo de sete bilhões. Todas as agências de risco, todas as agências de checagem de dados, já fizeram essa checagem. Basta você perguntar.
O Haddad deixou rombo nas contas quando deixou a Prefeitura? Deixei cinco bi e meio em caixa, e um fluxo de dez bi pela redução da dívida. Foi isso que permitiu a conclusão de todas as obras que você citou. Todas as obras estão entregues por causa do caixa que eu deixei. E você que está vindo com fake news aqui, e o espectador vai poder checar no Google quantas mentiras foram contadas a esse respeito e quantas agências de risco já esclareceram para o eleitor a verdade desses fatos. Como você vai resolver o problema de médicos com a tabela do SUS congelada e com 42% de queda do orçamento da saúde o ano que vem?
[Tarcísio de Freitas]: Você tem uma fixação de falar do Governo Federal, Haddad, falar do presidente Bolsonaro, que eu acho que você devia disputar de novo a Presidência da República. Você disputou em 2018, não foi bem sucedido, perdeu para o presidente Bolsonaro, mas me parece que não se acostumou com a ideia. Então, de candidato para candidato ao Governo de São Paulo: supera, Haddad. Supera.
Vamos discutir São Paulo, que eu acho que é importante. No final das contas, o governo do presidente Bolsonaro, por exemplo, fez a maior redução de dívida da história da Prefeitura de São Paulo na negociação que envolveu o Campo de Marte: aliviou mais de 20 bilhões de dívida. E o que isso significa? 280 milhões de reais a mais por mês para investimento. Olha quanto recapeamento vai ser feito na Cidade de São Paulo agora em função da redução de dívida que o Governo Federal promoveu. Então, realmente, vamos discutir o problema da saúde.
A tabela SUS não está congelada há quatro anos, está congelada há bem mais tempo que isso, e a tabela SUS não é a única fonte de receita para a saúde. Então, a gente tem que entender, por exemplo, quais são as outras fontes. Sabe quanto é que vem de subsidio para as Santas Casas em São Paulo? 20% de todo o subsidio de Santa Casa do Brasil vem para o Estado de São Paulo. O Governo Federal colocou um monte de dinheiro na saúdo para a pandemia sem exigir contrapartida em troca, sem exigir cumprimento de meta. E aí a gente precisa ter criatividade.
De onde a gente vai tirar dinheiro? Do aumento de eficiência. Vamos investir muito em telemedicina. Telemedicina é uma coisa fundamental, porque a telemedicina vai fazer com que a gente aumente a eficácia da atenção primária, então a gente vai ter um médico de saúde— um médico da família lá na ponta, contando com a assistência remota, e, no final das contas, esse aumento de eficácia, que hoje é baixo e a gente pode chegar a 85% de eficácia, vai ajudar a economizar recurso, isso vai ajudar a descomprimir as urgências, vai ajudar a descomprimir as emergências, a investir dinheiro na Santa Casa.
O alinhamento com o Governo Federal vai ser fundamental para a gente aliviar as dívidas das Santas Casas. A maioria das Santas Casas têm dívidas pequenas, e o maior credor são bancos federais, como a Caixa Econômica. As Santas Casas foram ajudadas, têm mais um pacote de dois bilhões aí em tela para ajudar as Santas Casas, e nós vamos, com a influência política de São Paulo, ajudar a aliviar a saúde financeira das Santas Casas, que são tão importantes e, muitas vezes, é a única referência que o cidadão tem no município. Por exemplo, Alta Paulista tem 11 Santas Casas lá; não tem um hospital regional, mas tem 11 Santas Casas.
[Fernando Haddad]: Nós pretendemos atuar de forma diferente nesse particular. O Programa BOM, criado dez, pouco mais de dez anos atrás, Nota Fiscal Paulista. Ela ajudava o setor de saúde a receber uma parte do ICMS devolvido a pedido do próprio contribuinte. Esse programa foi cortado em 90% no Estado de São Paulo. Eu vou recuperar a Nota Fiscal Paulista, e você, contribuinte, vai poder destinar a verba de ICMS da devolução para as entidades que hoje recebem ou para outras entidades do setor de saúde que hoje precisam, e isso vai dar conta da contratação no setor privado e vai— nós vamos corrigir a tabela SUS o ano que vem.
Há necessidade imperiosa de uma correção. Nós vamos restabelecer, no plano federal, com a força de São Paulo, o orçamento da saúde. Nós vamos reunir os governadores e vamos pedir para o relator do orçamento a reposição da verba que foi retirada pelo governo do setor da saúde. São Paulo tem muita força, e São Paulo tem força suficiente inclusive para brigar, no Congresso Nacional, pelos seus direitos. Meu adversário fala que nós recebemos 20% dos recursos do SUS, mas nós somos 22% da população.
Não somos menos do que isso, nós somos o estado mais populoso do país. Você não destinou absolutamente nada para a infraestrutura do Estado, de nada! Você não fez escola técnica, você não fez hospital, você não fez um quilômetro de ferrovia para passageiro, trem intercidades, não botou um centavo no metrô, e está dizendo agora que o Governo Federal põe muito dinheiro em São Paulo? Não põe nada, não tem colocado nenhum dinheiro em São Paulo. Então, nós vamos ter que brigar com o Governo Federal, fazer o trabalho, fazer a lição de casa e restabelecer programas que foram agora recentemente descontinuados.
[Tarcísio de Freitas]: Haddad, vamos lá, para quem diz que a gente não bota dinheiro no Estado de São Paulo, em capital privado, 7,5 bi de investimento na Dutra. Duplicação de Itirapina para Santos, contorno ferroviário de Catanduva, contorno ferroviário de Rio Preto, recuperação do ramal de Colômbia, recuperação do ramal de Panorama, eliminação do conflito ferrovia-cidade, que entra na Cidade de São Paulo, conflito CPTM, carga-passageiros, de Perus até Manoel Feio, privatização do porto de Santos, que vai sair. Só nisso aí 50 bi.
[Fernando Haddad]: 50 bi em 30 anos, e nada por enquanto. Repito. 50 bi em 30 anos, e nada até agora. Eu, como prefeito, em quatro anos, prefeito de uma cidade, não é o Governo do Estado, nem Governo Federal, prefeito de uma cidade, investi 26 bilhões de reais na Cidade de São Paulo em quatro anos. Ele está falando de 50 bi em 30 anos. É um bilhão e meio, um pouco mais de um bilhão e meio por ano. Não é nada para São Paulo. Não significa uma gota no oceano. O orçamento de São Paulo, sozinho, é de 300 bilhões de reais. Você está falando de 50 bi em 30 anos, Tarcísio. A gente tem que falar com seriedade para quem está nos ouvindo.
[César Tralli]: Candidatos, muito obrigado. Nós encerramos aqui o nosso segundo bloco. Vamos a um rápido intervalo e, daqui a pouco, o tema volta a ser livre, com mais confronto direto entre os dois candidatos que disputam o comando do Estado de São Paulo. Fique aí, nós voltamos já, já. É a Globo nas eleições!
- Terceiro bloco:
[César Tralli]: Onze horas agora, voltamos ao vivo, aqui do estúdio da TV Globo, em São Paulo. Quero agradecer muito a sua companhia, sua presença. E estamos de volta o último debate entre os dois candidatos que disputam o comando do Governo do Estado de São Paulo. Votação que acontece agora, no próximo domingo. Novamente, nós voltamos aqui nesse terceiro bloco com perguntas de tema livre. Como o candidato Fernando Haddad abriu o primeiro bloco, tema livre, agora quem começa é o candidato Tarcísio de Freitas. Ambos terão 15 minutos, que podem usar como bem quiserem. Candidato Tarcísio, por favor, tema livre, e a sua pergunta.
[Tarcísio de Freitas]: Só queria retomar um tema do bloco passado, dessa conta, um bilhão e meio. Não é assim, Haddad, quem entende de modelagem sabe que sempre tem uma concentração de investimento nos primeiros anos, eles são os mais importantes. E no final das contas, quando você faz o investimento, você passa a administrar o investimento. Então o final do período de concessão é aquele período onde você tem manutenção, operação, mas o investimento mesmo se concentra nos sete, oito primeiros anos. Vou dar o exemplo da Dutra, todo investimento da Dutra vai acontecer nos sete primeiros anos do contrato, ou seja, ali é que está a carga dos 15 bilhões de reais que vão ser investidos, isso vai fazer muita diferença.
Mas vamos lá, uma das grandes falhas do PT, na minha opinião, é a mistura de ideologia com aritmética, e isso foi a causa, por exemplo, do fracasso de todas as concessões que o PT fez aí há um tempo atrás, concessões todas deram errado. A grande questão que eu me coloco é o seguinte: com quem o PT vai governar? Até agora a gente não tem nenhum cheiro, nada a respeito, por exemplo, da equipe do candidato Lula. A gente não sabe quem vai ser, por exemplo, o ministro da Economia, da Fazenda. E a gente não sabe quem vai estar ao lado dele. Eu queria saber, Haddad, qual vai ser o perfil do seu secretariado? Quem você vai trazer para o seu lado? Por exemplo, Jilmar Tatto vai ser seu secretário de transportes? É a pergunta que eu lhe faço.
[Fernando Haddad]: Tarcísio, eu tenho visto você nomeando secretário antes de se eleger. Você é bem-vindo a São Paulo, você mudou há seis meses, fez um contrato de aluguel com o seu cunhado, já foi acusado pelo seu vice de nunca ter vivido em São José dos Campos, é público e notório isso, ele disse isso numa entrevista. Eu não nomeio secretário antes de ganhar a eleição porque eu acho isso um desrespeito com o eleitor. Acho um desrespeito muito grande com o eleitor, ele que vai dar o seu veredito final de quem deve governar o Estado de São Paulo, se você que é recém-chegado aqui, e tem ideias abstratas sobre a Sabesp, sobre câmera nos uniformes que você quer tirar, você quer vender o nosso patrimônio.
Nosso principal patrimônio você quer vender. Você quer tirar a câmera do policial. Você quer desobrigar a vacinação, você não quer controlar a frequência escolar. Eu fico me perguntando: Que tipo de secretário você vai ter? Qual o tipo que vai concordar com uma agenda dessa? Eu posso te garantir que nenhum dos meus secretários vai concordar com esses absurdos que você está propondo aqui. Eu vou contratar gente séria. Eu vou te dar só um dado. Sabe o que é grau de investimento, Tarcísio? Grau de investimento é quando uma prefeitura, um estado ou um país, atinge o ápice da boa gestão financeira. O ápice.
E a Prefeitura de São Paulo, na minha gestão, conseguiu exatamente o grau de investimento de uma agência de risco. O que eu posso te dizer é que o ministro da Economia do Lula não será o Guedes. Por uma razão. Eu não conheci ninguém mais cruel com os pobres do que o Guedes. Nenhum real de reajuste do salário mínimo acima da inflação, está estudando agora desvincular, e não adianta você mentir que é matéria da Folha, não é o Fernando Haddad inventando fake news, matéria da Folha dizendo que vazou um estudo do Ministério da Economia de desvinculação do salário mínimo e da aposentadoria da inflação.
Você sabe quem vai pagar a conta. É você. São os milhões, dezenas de milhões de brasileiros que ganham um salário mínimo e que não viram a cor do reajuste, que não estão conseguindo fazer um mercado, porque a inflação de alimentos foi muito superior à inflação oficial. Então eu diria que você deveria ter um pouco mais de parcimônia em atacar os outros.
Pessoas que você nem conhece. Nem conhece. E ter um pouco de humildade em relação ao soberano de uma eleição democrática que é o eleitor, que nem sempre vocês respeitam. Fico vendo vocês até agora afrontando a urna eletrônica, afrontando as eleições, fazendo pirraça com a igreja católica, fazendo balbúrdia com Roberto Jefferson, tentando causar uma confusão no país para questionar o resultado eleitoral.
Nem sei se você vai aceitar o resultado eleitoral, sendo que você vai ser votado na mesma urna eletrônica que o Bolsonaro. Eu acho que você deveria ter um pouco mais de calma. Eu ganhei um prêmio internacional da principal ONG de Nova York, de mobilidade urbana. Mobilidade urbana. Você conhece o transporte da madrugada que foi feito por mim? Você conhece o Bilhete Único que eu criei, que eu ajudei a criar na gestão da Marta? E que foi criado por essa pessoa que você citou? Você é a favor do bilhete único metropolitano que eu estou propondo como um avanço em relação às políticas públicas, que nós próprios implementamos em São Paulo?
Quem fez o bilhete único, o bilhete mensal, o ônibus noturno, os corredores de ônibus, foi o PT, foram as pessoas que você está tentando agredir. E que estão propondo agora fazer o bilhete único metropolitano. Queria saber se você é a favor, porque uma pessoa que mora numa cidade e trabalha na outra chega a gastar 30 reais por dia de transporte. E você não tem uma única proposta para essa pessoa. Qual é a sua proposta para essa pessoa, já que você está tocando na questão do transporte, qual é a sua proposta? Você já tem secretário? O que ele pensa?
[Tarcísio de Freitas]: Haddad, vamos lá: eu sou a favor do Bilhete Único, Bilhete Único que foi criado para os ônibus na gestão da Marta e que depois foi expandido para Metrô e CPTM na gestão do Serra. E, aliás, naquela época, eles já queriam expandir o Bilhete Único para a EMTU. Ou seja, essa proposta de expansão do Bilhete Único para a região metropolitana, ela é antiga, e não foi para frente porque, na época, o Alckmin, que é candidato a vice do Lula hoje, não topou. Não topou.
E nós vamos fazer, nós vamos implementar. Já sabemos inclusive quanto é que custa, qual é o valor do subsídio que a gente vai ter que dar para implantar o Bilhete Único metropolitano. Eu fico vendo, assim, "ah, você vai vender o principal patrimônio de São Paulo, que ideia antiquada!". Imagina se a gente não tivesse feito a privatização das teles ou a concessão dos aeroportos, que tipo de prestação de serviço nós teríamos?
E aí fica claro o confronto de ideias, fica claro os caminhos diferentes para atingir o objetivo: o caminho da livre iniciativa, o caminho do investimento privado, o caminho da autonomia do orçamento público versus o caminho do Estado. Na questão Sabesp, por exemplo, o que a gente quer? Aumentar a eficiência da empresa, fazer com que a gente faça mais investimento e mais rápido, que a gente faça mais ligações, mais coleta, tratamento de esgoto, mais rede interceptora, coletora, estações de tratamento de esgoto para diminuir a mancha do Tietê e do Pinheiros, que não é questão de estética, é uma questão de necessidade, porque se nós não fizermos isso, nós vamos sofrer com a falta de água lá na frente, e eu quero água chegando na torneira, água de qualidade. Eu quero diminuir a perda técnica, a perda de água nas tubulações, eu quero investir em sensorização, investir em reuso, e a iniciativa privada pode trazer uma avalanche de investimento, então é um caminho.
Agora, esse caminho só vai ser adotado se a gente tiver, no final das contas, a redução de tarifa, porque a gente vai olhar o usuário. Eu quero água na torneira e água barata; água de qualidade e água barata. É assim que a gente vai trabalhar. Mas isso mostra uma coisa, isso é revelador, porque as ideias ficaram velhas. Eu tenho dito muito que se o Lula tivesse sido um bom Presidente da República lá atrás, hoje já seria ruim ele voltar, porque as ideias ficaram velhas, ultrapassadas.
O mundo mudou muito nesses últimos tempos. Mas não houve, da parte do PT, a reinvenção, um mea-culpa, a formação de lideranças. O tempo passou e a turma ficou. Ficou para trás, ficou ultrapassada. Na época que ele foi presidente, com o vento soprando a favor, com todo o vento soprando a favor, com o boom de commodities, nenhuma mudança estrutural foi feita. Não se aprovou o Marco do Saneamento, autonomia do Banco Central, Lei da Liberdade Econômica, Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista, nada. Nada.
Ou seja, nos condenaram ao subdesenvolvimento, nos condenaram à pobreza. Deixamos de aproveitar uma oportunidade. E agora, com todo o vento soprando contra, e você falou do Paulo Guedes, nós aprovamos uma série de reformas estruturais. Nós fizemos a privatização da Eletrobras, que, além de botar dinheiro em caixa e foi a segunda maior operação financeira de 2022, ajudou a reduzir a tarifa de energia, porque teve competência no modelo e o dinheiro da prorrogação dos contratos de concessão de geração de energia está entrando na conta do desenvolvimento energético, vai abaixar a conta do consumidor, o consumidor vai pagar mais barato. Isso é competência; o resto é conversa. Isso é resultado. Soubemos fazer.
E aí o Brasil hoje está gerando emprego, 16.7 milhões de postos de trabalho. 16.7 milhões em um momento de crise, em um momento onde o mundo está encolhendo, e o Brasil crescendo, gerando emprego, gerando oportunidade, criando empresa; nunca se abriu tanta empresa no Brasil. Graças à Lei da Liberdade Econômica, graças às reformas que foram feitas. O Brasil, esse ano, vai crescer 3.1, 3.2%.
Estamos dando salto. E uma coisa interessante: com a inflação baixando. E sabe o que aconteceu? Houve formação de líderes. O secretário da pesca, Jorge Seif, virou senador da República; a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, virou senadora da República; Damares Alves, a ministra de Direitos Humanos, senadora da República; Rogério Marinho, o cara que acabou as obras do São Francisco, senador da República. Então, lideranças nasceram.
E a gente vê um partido que está preso há 40 anos na mesma. E quando a gente vai pegar quem fez parte, quem foram as lideranças nesses últimos anos, a gente vai ver lá José Dirceu, preso; Vaccari, preso; Palocci, preso; o próprio candidato a presidente, preso. Essa é a diferença. Essa é a diferença de uma linha que foi bem sucedida contra uma linha que foi mal sucedida. É por isso que eu acredito, Haddad, na linha do progresso, na linha da prosperidade, na linha da livre iniciativa, na linha do trabalho, na linha do capital privado, na linha que vai gerar emprego e renda para as pessoas.
[Fernando Haddad]: Vamos fazer um parênteses aqui. Não quero falar disso, porque a gente está aqui para tratar de propostas, não para fazer esse tipo de coisa contra pessoas que não estão aqui para se defender. Você também escolheu Roberto Jefferson, Waldemar da Costa Neto, você fez as suas escolhas. Vamos com calma aí que você está falando com uma pessoa que tem história e é honrada. Queria dizer para você que velha é a ideia do meu adversário. Se você procurar, esta semana, uma reportagem no jornal Folha de São Paulo você vai verificar que houve a reestatização de 226 companhias de fornecimento de água no mundo.
Porque o mundo moderno concluiu que essa ideia é uma ideia que deu errado. Você lembra, você vai lembrar, quando te prometeram a privatização da energia elétrica com o mesmo papo do meu adversário, mesmo papo, para baixar a tarifa, você sabe quanto você paga de energia elétrica. Verifique quanto custa a tarifa de energia elétrica no Brasil comparativamente ao resto do mundo. Comparem. Comparem quanto custa a tarifa pública de outros serviços públicos privatizados. Qualquer outro. Você vai ver que o Brasil está perto do centésimo lugar, do mais barato para o mais caro. Nós estamos muito mal do ponto de vista de tarifas de serviço público. Privatizações malfeitas. Como é o caso das que estão sendo feitas no Brasil. Água é um bem essencial. Se vender a Sabesp, como quer o meu adversário? não adianta ele dizer, "não?", porque ele não vai estar nem aqui para responder. Está falando de contrato de 20, 30 anos. A tarifa vai subir.
Porque o empresário está atrás de lucro. Está atrás de lucro. E você pode buscar eficiência fazendo parceria com o setor privado, em determinados pontos, sem ter que vender o controle acionário da companhia, que é o que ele prometeu. Agora, veja você, você leu o programa do meu adversário? Nenhuma dessas propostas que ele falou aqui está no programa. Ele está dizendo que é a favor do Bilhete Único Metropolitano, não está no programa dele. É a favor do reajuste do salário-mínimo paulista, não está no programa dele. Baixar, zerar o ICMS da carne não está no programa dele, e não está no programa eleitoral da televisão. Não foi para o horário eleitoral, não está no programa registrado no TRE. Como ele não conhece o nosso estado, ele vai se apropriando do que dá. Não é assim que se disputa uma eleição. A gente tem que ter mais transparência. Eu não estou aqui defendendo a ideia dos outros.
Eu estou defendendo a ideia de 500 técnicos que durante um ano e meio se dedicaram a São Paulo, a visitar mais de 200 cidades, a visitar todas virtualmente; e você não conhece o estado, Tarcísio. Por isso que você vai pegando as coisas no ar. Então quando falo qual é? tirando o Bilhete Único Metropolitano, que é uma ideia que está no meu plano de governo e dos contratos já assinados que vão ser concluídos de Metrô, CPTM, o que é novo no teu programa na área de transporte? Novo, teu? O que é tua contribuição para São Paulo? Bilhete Único Metropolitano é uma ideia nossa, os contratos assinados são licitações feitas de obras ainda não concluídas, todo mundo vai concluir as obras, quer concluir as obras. O que é novo, teu? O que é teu no teu programa para a área de transportes?
[Tarcísio de Freitas]: Vamos lá, Haddad, primeira coisa, vamos aproveitar, por exemplo, potencial ferroviário do Estado de São Paulo. São Paulo é um estado que cresceu na margem das linhas dos trens e morreu na margem... a São Paulo industrial, a São Paulo agrícola nasceu na margem das linhas de trens, a cidade cresceu nas margens das linhas dos trens, mas essas linhas dos trens morreram. A gente tem muito potencial ferroviário que pode ser resgatado, via prorrogação das concessões e via autorização.
A primeira autorização de São Paulo vai nascer agora, graças à mudança do marco regulatório que nós fizemos, que vai ser a autorização de Lençóis Paulista para Pederneiras. Nós vamos ter a logística de celulose de Lençóis Paulista até o Porto de Santos completamente ferroviária. Essa é uma medida superimportante. Você está falando do trem intercidades, Campinas/São Paulo. Nós vamos fazer. E nós tirar do papel, sabe por quê? Porque a gente sabe. Essa é a diferença, eu sei tirar do papel o projeto, tirei vários. Fiz mais de uma centena de leilões de concessão, todos bem-sucedidos. Trouxemos mais de cem bi de capital estrangeiro, e nós vamos fazer o trem intercidades.
Sabe por que ele vai sair e por que ele está fácil de sair? Porque a gente já fez a preparação, já fizemos a prorrogação da malha paulista, já melhoramos a faixa de domínio, para diminuir o investimento, já fizemos a prorrogação da linha da MRS. Nós vamos tirar do papel. Vamos começar a projetizar a ligação de São Paulo/São José dos Campos, que já preparamos também porque fizemos a prorrogação da MRS, e estamos liberando faixa de domínio. Vamos fazer a ligação São Paulo/Sorocaba e a ligação São Paulo/Santos, aproveitando a linha do funicular, que está hoje abandonada, e que tem potencial para fazer o transporte de passageiros da Baixada Santista.
A gente vai fazer o projeto de uma nova descida da serra, uma nova descida para a Baixada Santista a partir de Suzano, que é superimportante. Nós vamos estudar, por exemplo, como eliminar as restrições de fluxo, aproveitando os contratos de concessão de rodovias existentes, por exemplo, o contrato da Raposo. Porque a concessão termina em Cotia, não chega a São Paulo, e a gente pode fazer um mergulhão e acabar com uma restrição grande jogando o trânsito direto da marginal. Então tem muita coisa que a gente está estudando na área de transportes, na área da mobilidade, que vai fazer a diferença. Não preciso falar que a gente vai fazer com que as obras da linha 2 do Metrô, de Vila Prudente com a Penha, de Penha até Guarulhos, que elas vão sair do papel, que a gente vai levar o trem para atender o Bairro dos Pimentas, em Guarulhos, que a gente vai levar o Metrô da linha 4, Vila Sônia, até Taboão. Que a gente vai terminar a linha 6 até Brasilândia, a linha 15 até Cidade Tiradentes, que a gente vai terminar a malfadada obra da linha 17.
Ou seja, a gente vai investir muito no transporte metroferroviário. O Bilhete Único, não só a gente está estruturando como a gente já fez até as contas e sabe o valor do subsídio. Estamos estudando mais coisas, que a gente está esperando, por responsabilidade e ver se cabe na conta para colocar para a sociedade. Então a gente tem um projeto muito interessante para a Cidade de São Paulo, para o Estado de São Paulo, para as pessoas. Um plano que tem, no final das contas, um braço social grande, um braço que vai cuidar das pessoas, dos moradores em situação de rua, das pessoas que estão na fila para o atendimento médico. Por exemplo, nós nos comprometemos na construção de um novo hospital em Itapetininga.
Outro dia eu vi você em Campinas, você disse nós "vamos construir aqui três hospitais dia", mas a gente tem que fazer um hospital no circuito das águas, porque as pessoas de lá vão para Campinas. E aí, você tem o problema de restrição. Você tem o problema de compressão de demanda. Ou seja, a gente, fora isso, nós temos que fazer outro ambulatório médico de especialidades e fazer o investimento no HC da Unicamp, nós temos que terminar o investimento no HC de Ribeirão Preto, nós temos que botar dinheiro no Hospital de Esperança, em Presidente Prudente, para que as pessoas possam lá ter um atendimento de qualidade, e não precisar ir para Jaú, ou ir para Barretos, para fazer quimioterapia. Mas eu queria conversar com você sobre Cracolândia. Como é que você pretende acabar com a Cracolândia? E por que, como prefeito, você não conseguiu?
[Fernando Haddad]: Tarcísio, você não colocou um centavo no Estado de São Paulo. Você está falando de uma quantidade enorme de obras que você decorou, mas que você não fez. Eu sei que você está dedicado a decorar nome de cidade, nome de obra, você é uma pessoa disciplinada para decorar, mas acontece que você não conhece as coisas que você está falando, você não fez. Você teve três anos e meio para fazer. Você sabe quantos quilômetros de asfalto você fez nos três primeiros anos do seu governo no Sudeste inteiro? Um, dois, três, dez metros de asfalto. No Sudeste inteiro, Tarcísio. Estou falando de São Paulo, Minas, Espírito Santo e Rio de Janeiro. E você conclui quatro anos de mandato com 18 km de asfalto. Você não botou um centavo do BNDES nas obras que você citou de trilhos. Trilhos aqui em São Paulo ficaram a Deus dará. Nós investimos, nós emprestávamos para o Estado de São Paulo recursos subsidiados, empréstimos do Tesouro a juros muito baixos, a perder de vista o pagamento para São Paulo tocar as obras de trilhos. Parou tudo.
Não vem dinheiro para São Paulo, que é o estado que mais arrecada da Federação. E são dados do Tribunal de Contas. Daqui a pouco vai falar de novo que é fake news, dados do Tribunal de Contas da união, relatórios do Tribunal de Contas. É público, basta verificar. Não tem investimento em São Paulo do Governo Federal. Eu estava falando da transposição, nosso governo fez mais de 80% da obra da transposição, o governo Temer fez mais sete, vocês concluíram a última milha ali e estão tentando se apropriar de uma obra que vocês jamais imaginariam fazer. Você fala da economia brasileira, nós deixamos 350 bilhões de dólares em caixa, nós somos credores internacionais. Até hoje o Brasil está vivendo das reservas cambiais e do pré-sal que foi descoberto. Por falar em pré-sal, São Paulo tem uma grande oportunidade, São Paulo quintuplicou a produção de petróleo no nosso litoral pela descoberta do pré-sal, é uma fonte importante de investimentos. Nós podemos usar isso para educação e tecnologia.
Nós podemos reindustrializar o Estado com o apoio das nossas universidades estaduais que estão mantidas pelo Tesouro Municipal, que não estão sendo destruídas como as universidades federais. Comparação é grande. As estaduais — USP, Unesp, Unicamp —, estão preservadas por um decreto da época do Quércia, que é respeitado até hoje. Vejam o que o Governo Federal está fazendo com as universidades federais. Destruindo. O Hospital São Paulo, patrimônio de São Paulo, sendo destruído pelo Governo Federal. Se não fosse o governo estadual, o Hospital São Paulo, um dos maiores do país, estaria fechado hoje. O curso de medicina está afetado pela falta de investimento. E você vem falando... você disse que não vai fazer o hospital de Franca, prometido pelo atual governo. Nós precisamos fazer o hospital de Franca, a Santa Casa não dá conta da demanda. Então nós temos que ir para o concreto.
Não basta desfiar a roseira de centenas de obras que nem estudo tem, às vezes nem projeto executivo tem. Tem que fazer, falar o caso concreto, do que não foi feito durante esses quatro anos. Sobre Cracolândia, para te dizer, eu fiz um programa que foi descontinuado pelo Dória que reduziu em 2/3 o consumo de drogas na região. E se você der um Google, dois em três beneficiários do programa do Haddad reduziram o consumo de drogas. Foi esse o programa que foi descontinuado. Está na internet disponível, um estudo de uma agência internacional que veio para o Brasil, programa que foi inspirado nas melhores práticas do mundo, Lisboa, Amsterdã e Vancouver, e aprovado por professores da Columbia University, neurologistas especializados em redução de danos. Qual o seu projeto para a Cracolândia? Que aliás se espalhou para o Brasil inteiro sem que o Governo Federal fizesse nada a respeito.
[Tarcísio de Freitas]: Bom, nós vamos trabalhar com a Cracolândia, primeiro, aliando várias políticas públicas. A política de saúde. A gente vai ampliar a quantidade de centros de referência de álcool e droga para acolher essas pessoas e encaminhar para as comunidades terapêuticas. Vamos tratar o dependente químico e dar para ele uma porta de saída, uma porta que é a porta do emprego, a porta da requalificação. Vamos empregar essas pessoas inclusive em ações ambientais, ou seja, mudando o ambiente, dando emprego, dando trabalho e renda para que essas pessoas possam se recuperar.
A segunda política é de assistência social, uma assistência social onde a gente vai identificar a raiz do problema, construir um plano de desenvolvimento individual e fazer com que essas pessoas possam ser reabilitadas para o mercado de trabalho. A terceira política é da segurança, para impedir o livre fluxo de drogas no Centro da cidade. A quarta política, no final das contas, é a revitalização do Centro, porque você não recupera uma Cracolândia sem revitalizar o Centro, sem recuperar o Centro da cidade. Então, a revitalização do Centro vai ser um projeto em parceria com a Prefeitura, vai ser fundamental para acabar, para afastar a Cracolândia.
Então, a aliança de políticas públicas vai promover essa recuperação da Cracolândia. Você falou tanto em Google, se a gente procurar no Google, a gente vai ver lá Bolsa Crack. Bolsa Crack foi o que resultou o seu programa de combate à Cracolândia. No final das contas, você acabou dando um dinheiro que incentivou as pessoas a consumir mais drogas, e talvez por isso você tenha fracassado na questão do enfrentamento da Cracolândia, que não percebeu a complexidade de aliar várias políticas públicas, entre elas a de habitação, porque ninguém está indo para rua para consumir drogas, as pessoas estão consumindo droga porque estão na rua, e se você não tiver uma política de habitação consistente, você não vai resolver o problema. E como é que você vai ter uma política de habitação consistente se você prometeu 55 mil casas, entregou 11, se você descontinuou 16 mil que estavam em andamento?
Outra coisa: os 350 bi de reservas cambiais foram construídos não a partir de superávits, mas a partir de endividamento. Então é por isso que a gente tem que tomar muito cuidado quando a gente resolve dispor de reservas. Nós temos aí, no campo da infraestrutura, o que o PT nos deixou de legado foi um cemitério de obras paralisadas: 14 mil obras do PAC inacabadas. Metade delas nós concluímos no último período. Mas seria uma injustiça eu dizer que o PT é ruim de obra. O PT é bom de obra, afinal de contas, terminou o Porto de Mariel. Só que ele fica em Cuba.
Não fez o metrô de Belo Horizonte, mas fez o metrô de Caracas. Então, vocês são bons de obras, só não fizeram obras aqui, fizeram obras para os companheiros ditadores da Venezuela, de Cuba. Se a gente pegar os modelos que foram feitos, o 63 do Mato Grosso? Fracasso. Galeão? Fracasso; Via Bahia, 116 e 324? Fracasso. 100% de fracasso. Sabe por quê? Mistura de ideologia com aritmética.
[Fernando Haddad]: Tarcísio, quem não entende de aritmética é você, e para a minha surpresa, porque você se diz engenheiro. Dá para entender muita coisa da tua passagem pelo Ministério da Infraestrutura. Você está falando que nós acumulamos reserva nos endividando? A dívida pública brasileira caiu à metade, a dívida interna caiu à metade no mesmo período em que a gente acumulou 350 bilhões de dólares de reservas, você está redondamente enganado. Como é que você me fala uma coisa dessa aqui? É mentira! Não tem como chamar de outro nome, é mentira o que você está falando. Eu estou falando que tem um estudo que a Folha de São Paulo publicou: dois em três beneficiários do programa do Haddad reduziram.
Eu estou dizendo que a pessoa que entrou em uma frente de trabalho, ela passou a ver a vida de outra maneira, ela se reconciliou com a família, ela se dedicou mais ao trabalho e menos à droga, ela foi se recuperando. É uma política de redução de dano internacionalmente reconhecida, e você vem com essa coisa que foi até objeto de inquérito. Foi até objeto de inquérito, que foi arquivado, uma mentira dessa! Sabe, fazendo pouco caso das pessoas que se recuperaram. Você conhece um único beneficiário do programa Braços Abertos? Um único? Você teve a decência de procurar um único beneficiário e perguntar para ele se a vida dele mudou para melhor ou não? Não pode chegar na casa dos outros dessa maneira.
Chega na casa dos outros falando mal de tudo o que foi feito aqui? São Paulo não presta, está tudo errado, São Paulo não... O metrô de São Paulo foi feito com financiamento federal, o metrô da Bahia foi feito com financiamento federal, os aeroportos, toda a expansão aeroportuária brasileira foi feita com recurso federal. Tarcísio, um pouco mais de respeito pela nossa terra. Você está chegando agora! Você já está nomeando secretário, você acusa todo mundo, por favor!
[Tarcísio de Freitas]: Bom, Haddad, eu não estou nomeando secretário, primeira coisa. Disse que o meu secretário vai ser técnico, eu disse que tem pessoas técnicas muito competentes que estão trabalhando no meu time de governo. Então, não nomeei secretário nenhum. Segundo, não estou desrespeitando a terra, porque São Paulo é uma terra maravilhosa, é uma terra de gente que trabalha, que arregaça a manga, que faz a diferença. O que estou criticando são as gestões que passaram por aqui, porque no final das contas a gente poderia estar melhor. Você foi prefeito, teve a oportunidade de resolver Cracolândia, não conseguiu, essa é a verdade, e agora você está querendo de novo...
[Fernando Haddad]: O Ricardo Nunes que conseguiu, né? O Dória que conseguiu? Que são seus apoiadores. Seis anos que eu deixei a Prefeitura. O que vocês fizeram pela Cracolândia? Você teve compaixão por alguém de São Paulo? Veio aqui estender a mão para alguém? Você veio aqui para ser governador, e se não for eleito vai voltar para casa, porque não tem raízes aqui, por favor, vamos ser justos com a verdade. Você tem um apart hotel alugado por seis meses: ganhou, fica; não ganhou, vai embora. Isso já deu na televisão. Você precisa ter mais respeito; e sim, você nomeou secretários. Isso também está na imprensa, não é fake news.
[César Tralli]: Candidatos, muito obrigado. Cada um dos senhores falou por 15 minutos sobre os mais variados temas, nós vamos, portanto, aqui encerrando o nosso terceiro bloco, e, daqui a pouco, voltaremos com mais debate entre os candidatos ao governo de São Paulo, temas determinados. Os candidatos vão escolher no telão o tema sobre o qual eles farão perguntas para o seu adversário. Continue aqui com a gente. É a Globo nas eleições! Este debate é feito para você, para que você pense, reflita e escolha qual dos dois candidatos você quer que governe o Estado de São Paulo pelos próximos quatro anos. A gente volta já. É a Globo nas eleições!
- Quarto bloco:
[César Tralli]: 11h34. Estamos de volta ao vivo aqui com você, direto do estúdio da TV Globo, em São Paulo. Vamos aqui com o debate entre os dois finalistas que concorrem ao governo do nosso estado. Nesse quarto bloco, as perguntas são mais uma vez com temas escolhidos pelos candidatos. Como o candidato Tarcísio de Freitas abriu o segundo bloco, agora, portanto, é a vez de Fernando Haddad quem começa essa rodada. Lembrando aqui para você que nós teremos novamente duas rodadas, cada candidato fazendo uma pergunta. Muito bem, candidato Fernando Haddad, por favor, de olho no nosso telão. Temos aí quatro temas ainda, né, para abordar. Dois já foram feitos, e o senhor pode escolher um desses quatro temas, lembrando que cada um dos senhores vai ter cinco minutos. Por favor.
[Fernando Haddad]: Violência contra a mulher.
[César Tralli]: Por favor, a pergunta com relação a esse tema.
[Fernando Haddad]: Bom, isso é um drama nacional muito grave, o Brasil é um país... infelizmente ainda tem uma tradição de pessoas que não se renderam à lei e não respeitam ou as suas companheiras, ou as suas próprias esposas. Eu queria saber qual é sua proposta em relação a violência contra a mulher.
[Tarcísio de Freitas]: Nós vamos ser, Haddad, implacáveis com relação a violência contra a mulher. Não vamos permitir violência contra a mulher. A mulher vai ganhar um espaço de destaque no meu governo, nós vamos criar uma secretaria especial dedicada a ela, a Secretaria Especial da Mulher. Essa secretaria vai atuar em várias frentes. Uma delas, o empreendedorismo feminino. Outra delas, a saúde da mulher. E a terceira delas é justamente o combate, o enfrentamento da violência. É importante que a gente consiga manter as delegacias da mulher funcionando.
Hoje nós temos 140 delegacias da mulher no Estado de São Paulo, apenas 11 funcionam 24 horas. Nós temos que fazer com que as delegacias funcionem 24 horas, e para isso é necessário restabelecer o efetivo da Polícia Civil. Eu quero que a delegacia da mulher funcione com as mulheres sendo atendidas por uma mulher, para ter conforto, para saber que realmente vai ficar à vontade. A mulher que procura ajuda, que sofreu violência, ela tem que ter um lugar para ir depois, por isso nós vamos criar os abrigos regionais protegidos, nós vamos criar uma série de abrigos para que ela possa ir para lá com sua família, com seus filhos, e ficar livre do agressor.
Com relação a agressor, convênio com a Justiça para fazer com que a gente possa monitorar esse agressor, com tornozeleira eletrônica, vigiar os passos deles e não permitir que ele chegue perto da mulher, e fazer com que uma iniciativa interessante, um aplicativo que tem o botão do pânico seja cada vez mais difundido, cada vez mais usado. Do ponto de vista do empreendedorismo, treinamento e crédito; e do ponto de vista da saúde da mulher, exames sem fila, principalmente aqueles de prevenção do câncer de colo de útero, e o pré-natal. O pré-natal é fundamental para que a gente garanta a segurança da mulher no período que é muito importante para ela.
[Fernando Haddad]: Tarcísio, você sabe que a gente tem que atender a mulher de maneira mais adequada. Hoje, a mulher agredida, ela tem que passar por uma via sacra para conseguir atendimento. Ela tem que ir para o pronto-socorro ser atendida, depois ela tem que ir para o IML, para fazer o laudo, e depois ela tem que ir para a delegacia fazer o B.O. No meu plano de governo tem uma proposta de que todas essas atividades, essas três atividades sejam feitas num lugar só. Com médico que atende no pronto-socorro, vai ter um que possa certificar e fazer o exame de corpo de delito, vai poder fazer o B.O, e isso vai melhorar muito a condição da mulher para conseguir as medidas protetivas.
Uma coisa importante é a lei, o guardião Maria da Penha que eu introduzi aqui em São Paulo, a pessoa que vai verificar se as medidas protetivas estão sendo observadas ativamente, e para isso, eu preciso de uma polícia transparente. Eu preciso de uma polícia que se disponha a usar câmeras no uniforme para fazer o atendimento, que saiba fazer preservar a cena do crime, que preserve as provas, que não mexa na cena de um crime contra uma mulher, porque tem mulheres que são vítimas de violência mas saem vivas, mas tem muita mulher que sai morta.
Eu queria te perguntar: Você é a favor de uma polícia mais capacitada para preservação da cena do crime, para preservação das provas, para usar uniforme, para estar fardado, para estar com o nome do distintivo, o nome no uniforme, a câmera no uniforme, ou você acha que a transparência é uma coisa que prejudica a atividade policial?
[Tarcísio de Freitas]: Transparência sempre ajuda, Haddad. Treinamento sempre ajuda. A Polícia Militar de São Paulo é uma polícia extremamente competente, extremamente capaz, herdeira da Força Pública, uma polícia com 190 anos de existência. Nós temos uma academia militar, uma academia de formação que tem 110 anos de história e forma excelentes profissionais. Eu percebo a motivação dos policiais na rua toda vez que eu vejo. Policiais bem fardados, policiais que se pautam por excelentes condutas. Então, no final das contas, a gente tem uma grande polícia. Ela merece ser melhor remunerada, ela merece ter assistência jurídica, ela merece ter assistência médica, que o que acontece com a assistência médica da Polícia Militar de São Paulo é muito ruim.
A gente tem um Hospital da Polícia Militar aqui na cidade de São Paulo, mas, no interior, falta muita assistência, não há um plano de saúde. Muitos contribuem para o Cruz Azul, mas não têm em troca o atendimento médico. A gente que cuidar, por exemplo, da saúde mental dos nossos policiais, que estão submetidos a situação de estresse e podem sofrer, por exemplo, com a questão da depressão. Concurso público para recompletar o efetivo e melhores salários também é fundamental, e é nessa linha de valorização que a gente vai atuar, conciliando valorização com capacitação.
[Fernando Haddad]: Tarcísio, você fala em transparência, mas aconteceu um episódio essa semana delicado e eu quero te dar a oportunidade para você falar, e foi o fato de que um amigo teu do Ministério da Infraestrutura que faz a segurança com você pediu para um cinegrafista apagar imagens que ele tinha filmado em Paraisópolis, onde aconteceu uma morte. Não sabemos em que condições, isso vai ser apurado, isso vai ser investigado. Você concorda com a atitude dele? Você acha que aquele companheiro seu, que é ligado à inteligência, agiu corretamente a determinar, a constranger um profissional da imprensa a apagar imagens de um evento onde aconteceu um homicídio em circunstâncias que estão sendo apuradas? Transparência vale para todo mundo ou não, para ele não vale, para esse seu amigo não vale?
[Tarcísio de Freitas]: Eu lamento, Haddad, que você faça sensacionalismo com uma coisa séria. Primeira coisa: você sabe onde foi feito esse pedido? Foi feito dentro do nosso escritório, na Vila Mariana. E sabe por que a gente estava lá com o cinegrafista? Porque a gente não deixou ninguém ficar para trás. Quando houve o tiroteio, a primeira coisa que a gente se preocupou: trazer todo mundo para a nossa van, que a van era blindada.
Nós trouxemos a equipe da Jovem Pan, nós trouxemos a equipe da Bandeirantes para não deixar ninguém lá em uma região onde estava havendo troca de tiros. Nós tivemos esse cuidado. Inclusive, o cinegrafista gravou um vídeo agradecendo, bastante emocionado. Aí, uma pessoa da minha equipe, quando chegou no escritório, a gente trouxe ele para dentro. Para quê? Para se recuperar, para poder tomar uma água, para sair daquela situação de estresse, assim como a gente fez com a equipe da Bandeirantes, assim como a gente fez com a outra jornalista. E esse colega, no final das contas, que não tem nada a ver com inteligência, porque ele está afastado da Abin desde 2019. Eu levei ele para o Ministério da Infraestrutura?
[Fernando Haddad]: Mas ele é de carreira.
[Tarcísio de Freitas]: De carreira, servidor de carreira.
[Fernando Haddad]: Carreira da Abin.
[Tarcísio de Freitas]: Em licença para tratamento de interesse particular, conforme prevê o Estatuto dos Servidores Públicos Federais, a Lei 8.112. E ele pediu o seguinte: "Olha, apaga isso, apaga aquilo", sabe por quê? Preocupação com as pessoas, porque lá tinha equipe de produção, lá tinha equipe de comunicação, lá tinha outros profissionais, porque a campanha vai acabar, mas a vida das pessoas prossegue, e a preocupação foi com a segurança, porque, no final, nós fomos abordados por criminosos, e é um absurdo um candidato a governo ser abordado por criminosos. Eu gravei um vídeo explicando exatamente o que aconteceu, e para quem tiver curiosidade, entra lá nas minhas redes sociais, está lá o link, eu explico com bastante detalhe todo esse episódio com a maior transparência.
[Fernando Haddad]: Bom, é mais uma grande divergência que eu tenho com o meu adversário. Já esboçamos várias divergências aqui: sobre vacinação, sobre frequência escolar, sobre tudo, mas temos uma agora sobre segurança pública. Se você tem uma imagem que você acha que pode colocar em risco a vida de alguém, para quem você leva? Você apaga ou leva para a autoridade policial? E a autoridade policial é que decide manter ou não em sigilo aquela imagem.
Esse procedimento que ele acabou de relatar é um absurdo. Pergunte para qualquer criminalista, para qualquer advogado, para qualquer juiz, para qualquer delegado se uma pessoa pode levar uma pessoa para o comitê do candidato e determinar que a pessoa apague uma imagem que pode ser útil para o investigador concluir o que aconteceu. A partir do momento que você vai catando coisa do chão, vai desligando câmera, desligando imagem, tirando câmera do uniforme, jogando fora as coisas, você compromete a investigação. Sabe o que isso gera? Suspeição.
Hoje, a sociedade paulista está se perguntando por que isso aconteceu, como eu estou me perguntando. E eu não estou sendo irresponsável, eu estou fazendo uma pergunta que está na cabeça do eleitor, da eleitora, porque hoje o pai desse rapaz está dizendo— o cinegrafista deu uma longa entrevista para o jornal destoando completamente do que você está falando aqui.
E qual é a razão de um jornalista da Jovem Pan para mentir a seu respeito? Qual é o interesse dele em mentir? Leia a entrevista, está na Folha de São Paulo: quatro testemunhas dizendo que a pessoa foi morta e não estava armada. Tem que apurar. Não estou acusando ninguém porque não é meu papel, é o papel da investigação, mas não se destrói provas, não se destrói evidências, se confia na autoridade policial. Se você não confiar na autoridade policial, nós estamos todos perdidos aqui.
[César Tralli]: Candidato Tarcísio de Freitas, é a vez do senhor fazer a pergunta para o seu adversário. Temos aí, portanto, os temas no nosso telão. Três temas ainda sobre os quais o senhor pode perguntar. Por favor, escolha o tema, e peço ao senhor que faça a pergunta dentro do tema escolhido.
[Tarcísio de Freitas]: Vou fazer a pergunta sobre emprego formal, Tralli.
[César Tralli]: Por favor.
[Tarcísio de Freitas]: Antes de fazer a pergunta, só lamentar o sensacionalismo barato que você está fazendo, Haddad, que papelão! Porque é muito fácil julgar uma pessoa que está lá sob forte emoção, que agiu de boa-fé. Porque, observe, a gente pegou o cara que não estava lá, não tinha como voltar, colocamos na nossa van, não saímos de lá enquanto a gente não tivesse colocado todo mundo em segurança. Qual é a razão de levar uma pessoa para a nossa base? Outra coisa, tem as câmeras do comércio local, tem a câmera da PM, tinham outros três ou quatro veículos de comunicação.
O que você acha que a gente quer esconder? Vou te falar, nada. E a investigação da Polícia Civil vai deixar isso muito claro. E eu não vou desistir. Porque se eu for eleito governador, Haddad, eu vou estar presente dentro das comunidades, eu vou levar educação de qualidade lá dentro, eu não vou deixar que mães percam jovens por crime, não vou deixar que mães percam jovens por falta de qualificação profissional, eu vou zelar pela vida deles, então, nós tivemos ali uma atitude de boa-fé. Tamanha boa-fé que quando houve a abordagem, levaram para dentro para dar água depois de ter trazido do ambiente que ficou flagrado, tanta boa-fé que não se imaginou que estava sendo gravado.
E se pediu aquilo para preservar a identidade das pessoas que estão trabalhando e podem ser alvos depois de uma represália, só isso. Nada mais. O resto é narrativa. Infelizmente a sua campanha, que já foi condenada oito vezes por fake news, uma campanha mentirosa, impõe mais essa narrativa aqui junto com alguns veículos de imprensa. Mas agora fazendo a minha pergunta, o estado precisa ser grande, a maior preocupação das famílias é o sustento, e aí eu quero saber o seguinte: como você vai trazer emprego para São Paulo? Como você vai trazer a dignidade? Ou você vai fazer igual ao seu chefe, dizendo que as pessoas vão comer picanha, mas você não sabe, vão ter emprego, vão ser felizes, mas você não sabe como?
[Fernando Haddad]: Tarcísio, primeiro dizer o seguinte, você está chamando veículos como Folha de São Paulo, The Intercept, Rede Globo de sensacionalistas. Está fazendo o que aqui então? SPTV1 e SPTV2 mostraram essa situação. Ouviram especialistas, não ouviram Fernando Haddad. Ouviram especialistas e perguntaram se é a atitude correta mandar um cinegrafista apagar imagens. E a resposta que obtiveram é "Não, isso é irregular". E pode ser inclusive ilegal.
Você deveria estar aqui dizendo o seguinte, se eu tivesse no teu lugar, em uma situação constrangedora, eu diria o seguinte: "Olha, a pessoa errou, não devia ter mandado apagar, devia ter entregue para o delegado, ele que julga a conveniência de manter ou não as imagens sob sigilo". E destruição de material, meu querido, só com autorização de juiz. Você não destrói material de uma cena de crime. Você está errado! Você fez uma conta errada sobre finanças públicas.
Você disse que a dívida pública interna durante o governo Lula aumentou. Caiu quase 50%. Você está cometendo um outro erro jurídico, e grave. Se você tiver liderando um estado como São Paulo, e tiver essa postura, pode apagar para proteger as pessoas, meu caro, você não vai longe. Aqui não é o Rio de Janeiro, a gente viu no que deu lá. Sabe, começa a fazer esse tipo de coisa com prova, não funciona. Não vai funcionar. Não vai funcionar. Para gerar emprego, nós temos várias possibilidades. A primeira delas é a gente fazer uma reforma tributária estadual. Porque se nós esperarmos sair a federal, nós podemos continuar sangrando e perdendo indústrias e empresas para outros estados.
Como é o caso de Três Lagoas, de Extrema, cidades do Mato Grosso do Sul e Minas, que estão levando as nossas empresas em função da guerra fiscal. Se nós fizermos uma reforma tributária estadual, nós vamos constranger o congresso nacional a aprovar uma reforma tributária de cobrança do IVA, que é o substituto do ICMS, no destino. Se nós cruzarmos os braços, nós vamos continuar perdendo empregos.
Segunda coisa, usar as nossas grandes universidades públicas estaduais. Usar o conhecimento produzido lá para a gente trazer a tecnologia, a indústria 4.0 para cá. Carro híbrido flex, placas fotovoltaicas, ter uma produção de hidrogênio para produzir energia elétrica, uma série de coisas podem ser feitas aqui com conhecimento produzido, mas para isso nós precisamos tratar bem as nossas universidades, e não fazer o que o Governo Federal está fazendo com as universidades federais, destruindo o parque científico tecnológico federal.
[Tarcísio de Freitas]: O Governo Federal criou aí uma quantidade de empregos muito grandes. 16.7 milhões de empregos. 8.8 informais... 8.8 informais, 7.9 formais. Existem algumas coisas no programa de governo do PT, na verdade foi escrito por economistas que estão no PT, num documento chamado Contribuições Para Um Governo Democrático Progressista que me preocupo. Me preocupam. Uma delas sugere-se por fim tornar obrigatória a contribuição do INSS em todas as contratações de microempreendedor individual e de trabalhador por conta própria.
E aí, eu lembro que são 40 milhões de informais no Brasil. Outra questão que está escrito lá é que o Auxílio Brasil seria substituído por uma poupança seguro família e a criação de programas focadas na primeira infância. E a terceira coisa: Destinação dos recursos da conta do indivíduo do FGTS para pagamento do seguro-desemprego. E por fim, um ponto que merece bastante atenção, lá é dito que os regimes simplificados de tributação, lucro presumido e simples são regimes que são mal concebidos. Você poderia explicar melhor? Qual é a ideia? É rever isso tudo?
[Fernando Haddad]: Tarcísio, você está falando de um documento de contribuição de economistas, você não está falando do plano de governo do Presidente Lula. Por que você está fazendo isso? Para embaralhar? Você não tem um plano de governo. A pessoa lê o teu plano de governo não vai entender nada. Não tem uma meta, não tem uma meta no teu plano de governo. Não tem um compromisso, não tem. Tudo o que você falou aqui não está no teu plano de governo. Você falou que é a favor do bilhete único metropolitano, não está, essa palavra não consta do seu plano de governo, não consta do seu plano de governo a palavra "fome". Não consta do seu governo a palavra "ETEC" e "FATEC".
Você tem ideia do que significa não constar do teu plano de governo nada disso? Será que você leu o teu plano de governo? Porque eu li e não achei essas palavras no plano de governo do Tarcísio. É um plano de governo que poderia ter sido apresentado no Paraná, daria na mesma. Poucas palavras, você mudando, ele serve a qualquer propósito. E aí ele pega um documento de contribuição de economistas, e quer que eu que não assinei o documento responda? Não li esse documento. Eu li o plano de governo do Presidente Lula, se quiser que eu responda sobre o meu plano de governo ou do Presidente Lula, eu te respondo. Agora esse tipo de pegadinha, não faz o menor sentido.
[Tarcísio de Freitas]: Na verdade, não é pegadinha, é preocupação, porque nós temos que gerar emprego principalmente sem criar embaraço, principalmente, para o micro e pequeno empreendedor, porque é o microempreendedor, é o microempreendedor individual que vai gerar mais empregos, aí a gente vai proteger esse micro e pequeno empreendedor com um forte programa de crédito, créditos que nós vamos alongar o período de carência, alongar o prazo para pagamento e diminuir as taxas, vamos ter lastro no Estado porque nós vamos dar garantia estatal. E para que a gente gere emprego. Você falou em reforma tributária estadual. Nós vamos fazer a nossa reforma estadual, e tenho falado isso onde eu tenho andado.
Vamos diminuir as alíquotas de ICMS, que é fundamental, vamos também alongar o prazo para pagamento de ICMS, porque isso não tem impacto fiscal, o governo tem fluxo, a gente, no final das contas, ao invés de exigir o recolhimento do ICMS com 30 dias, a gente pode alongar para 60, para 90 dias, e aí a gente dá um alívio financeiro principalmente para o micro e pequeno empreendedor. Outra coisa importante, reduzir as alíquotas de ICMS sobre a aquisição de bens de capital, porque isso vai favorecer o investimento. Além de reduzir a alíquota de ICMS sobre a aquisição de produtos energéticos, insumos energéticos. É fundamental para a gente acabar com a falta de igualdade no Estado, que o Estado é rico, mas ficou desigual, criar os incentivos regionais de acordo com cada vocação, isso vai gerar muito emprego.
O forte investimento em infraestrutura é gerador de empregos, e por isso nós vamos concluir as obras, as mais de 300 obras que hoje estão paralisadas, as 800 obras que estão andando num ritmo muito lento, porque isso vai promover a geração de emprego, e vamos investir muito na capacitação profissional, ampliando a oferta do ensino profissionalizante, e fazendo com que esse ensino profissionalizante seja cada vez mais direcionado às vocações econômicas de cada região. Além disso, vamos mexer a alavanca da energia, para aumentar a oferta de energia reduzindo a dependência do Estado.
[Fernando Haddad]: Meu adversário fala em ensino profissionalizante. Eu criei o Instituto Federal de São Paulo, com 33 unidades, quando era Ministro da Educação. Criei em Votuporanga, em Bragança, em Caraguatatuba, em Campos do Jordão, em Araraquara, 33 cidades receberam. Pergunte a ele quantas escolas técnicas foram entregues nos últimos quatro anos, escolas técnicas federais. Eu te respondo: nenhuma. É tudo uma fantasia. Não existe sequer a expressão "reforma tributária estadual" no programa do meu adversário. Ele acabou de pronunciar pela primeira vez essa expressão. Vamos ser mais sérios com São Paulo, Tarcísio.
[César Tralli]: Candidato Haddad, candidato Tarcísio, muito obrigado. Nós terminamos aqui a nossa última rodada deste embate direto entre os dois candidatos e agora, portanto, cada um terá um minuto e meio para suas considerações finais. Pela ordem sorteada anteriormente, o candidato Tarcísio de Freitas é o primeiro a falar. Candidato, por favor, a sua despedida do eleitor e da eleitora.
[Tarcísio de Freitas]: Eu quero me dirigir à população de São Paulo, primeiro agradecendo toda a consideração, todo o carinho que eu tive, agradecendo o fato de vocês terem ficado acordados até essa hora acompanhando esse debate. Nós temos duas linhas muito diferentes para o Estado de São Paulo: a linha do verde e amarelo, a linha do vermelho. A linha da esperança, a linha do medo. A linha da prosperidade versus a linha do atraso. A linha da livre iniciativa versus a linha do Estado gigante, das obras que vão ficar inacabadas, das promessas que não vão ser cumpridas, de uma pessoa que não sabe fazer, porque, quando esteve na Prefeitura, não fez.
Passei por um governo que enfrentou todas as crises: crise do COVID, crise hídrica, guerra da Ucrânia, mas sobre entregar um Brasil que está crescendo, está gerando emprego, está gerando oportunidades. Temos um plano de governo que está focado no social, vai cuidar das pessoas, e a gente vai saber cuidar das pessoas, a gente tem sensibilidade. Nós temos um plano de governo que vai gerar emprego fortemente, nós vamos fazer o Estado de São Paulo ser novamente a locomotiva do Brasil. Portanto, dia 30 de outubro eu peço o seu voto, vote Tarcísio 10 governador e presidente Bolsonaro 22, porque o alinhamento dos dois governos é fundamental. Tem gente que pode até não gostar do presidente Bolsonaro, mas olhe o que ele fez, e eu tenho certeza que se você gosta do Brasil, você não vai digitar 13, você vai digitar 22. Eu conto com vocês.
[César Tralli]: Candidato Tarcísio, muito obrigado. Candidato Fernando Haddad, o senhor tem um minuto e meio para sua despedida também do eleitor e da eleitora.
[Fernando Haddad]: Eu agradeço a oportunidade de estar aqui, à Rede Globo, ao telespectador que nos acompanha até agora, ao Tarcísio, meu adversário. Quero dizer que essa é a eleição das nossas vidas. O mundo inteiro está olhando para o Brasil. O mundo inteiro está olhando para São Paulo. São Paulo é um país dentro de um país. São Paulo é o nosso estado, é o estado onde eu nasci, onde eu casei, onde eu criei meus filhos, onde eu eduquei meus filhos, onde eu fiz minha vida. Fiz minha vida como comerciante, como construtor, como consultor, como político, como prefeito, como ministro, e deixei um legado por onde passei para São Paulo.
Compare o que eu fiz por São Paulo com o que o meu adversário fez: rigorosamente nada; teve quatro anos e voltou as costas para o Estado, e só recentemente ele decidiu ser governador; ia ser senador lá em Goiás. Decidiu, na última hora, vir para cá. Não é assim que se trata um estado da importância de São Paulo. São Paulo muito importante para o Brasil. Eu tenho certeza que, quando houver harmonia entre o Governo Federal e Governo Estadual, de programas, de educação, de saúde, nós vamos acelerar o ritmo da mudança. O Brasil está crescendo 1% ao ano nos últimos quatro anos; nós crescíamos 4%, gerando emprego de qualidade, foram mais de 20 milhões de postos de trabalho formais — nem estamos contando no informal. Nós precisamos voltar a sonhar grande, pensar grande. Esse estado é grande, esse estado pode muito mais. Muito obrigado, boa noite.
[César Tralli]: Obrigado, candidato. Chegamos ao fim, portanto, do nosso debate. Em nome de toda a nossa equipe, agradeço muito a presença dos dois candidatos, boa sorte aos senhores nesta reta final da disputa. Nosso muito obrigado especialmente a você, eleitora e eleitor. Domingo é o dia do seu compromisso com a urna eletrônica. Pense muito, reflita, vote consciente.
E nesta sexta-feira tem mais debate aqui na Globo: Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro vão ficar frente a frente, ao vivo, no último debate da disputa pela Presidência da República. Não perca, é depois de Travessia. Mais uma vez, muito obrigado pela sua companhia, um ótimo voto no domingo e viva a democracia. Boa noite, até breve. É a Globo nas eleições. Muito obrigado.
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