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RS: Após sufoco no 1º turno, Leite bate Onyx de virada e supera 'maldição'

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Balneário Camboriú (SC)

30/10/2022 19h02Atualizada em 30/10/2022 20h37

Eduardo Leite (PSDB), 37, foi reeleito governador do Rio Grande do Sul no segundo turno das eleições de 2022 ao vencer o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Leite obteve 57,12% dos votos válidos. A ida do tucano para o segundo turno foi apertada, com uma diferença de apenas 2.441 votos em relação a Edegar Pretto (PT), que ficou em terceiro lugar.

Bacharel em direito, ele quebra a tradição do estado de nunca ter reelegido nenhum governador na história democrática. Antes de assumir o governo gaúcho, em 2018, o político foi vereador e prefeito em Pelotas (RS).

Considerado favorito no primeiro turno, Leite era a aposta da chamada terceira via —diante de adversários apoiados por Bolsonaro e por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No começo de setembro, estava empatado tecnicamente com Onyx, segundo pesquisa Real Big Time Data. Porém, ao longo do mês, Leite conseguiu abrir vantagem e passou a liderar as últimas quatro pesquisas antes de 2 de outubro.

Mas o cenário aparentemente favorável para o tucano não se manteve na contagem de votos no primeiro turno. Naquele dia, Onyx assumiu a liderança e Leite se viu em uma briga por voto com Edegar Pretto (PT) para conseguir ir ao segundo turno. A definição só saiu depois das 22h em uma votação apertada, com Leite à frente.

Já na última semana do segundo turno, a campanha de Leite estava convicta de sua vitória, em parte pelo apoio de outros partidos —inclusive do PT, que recomendou o "voto crítico" no tucano.

Estreia na política foi aos 23 anos

Eduardo Leite estreou na política aos 23 anos, como vereador de Pelotas. Quatro anos depois, chegou à prefeitura da cidade.

A alta popularidade em Pelotas abriu caminho para o político concorrer ao governo do estado. Para lançar sua candidatura, o PSDB foi obrigado a romper a aliança com o então governador, José Ivo Sartori (MDB), apoiado pelo partido desde a campanha de 2014.

Em 2018, Leite venceu as eleições aos 33 anos e se tornou o terceiro governador mais jovem da história do país. Na época, ele disputou o segundo turno com Sartori, que tentava a reeleição. Tanto Leite como Sartori declararam naquele ano apoio a Jair Bolsonaro (então no PSL e hoje no PL) contra o petista Fernando Haddad.

Leite precisou ser convencido por aliados —inclusive pelo seu candidato a vice-governador, Ranolfo Vieira Jr. (PSDB)— a apoiar Bolsonaro no segundo turno das eleições. Porém, depois da vitória, o tucano acabou se afastando do presidente. Foi um dos pontos mais usados por Onyx para confrontar o governador.

Troca de ataques durante a campanha

O tucano chegou a chamar seu adversário, Onyx Lorenzoni, de "ministro pipoqueiro" durante debate na Band RS. O termo foi usado porque Onyx ocupou cinco cargos diferentes em um intervalo de pouco mais de três anos dentro do governo de Jair Bolsonaro (PL). Ele foi ministro-chefe da Casa Civil, ministro da Cidadania, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e ministro do Trabalho e Previdência.

"Ficou pipocando em ministérios, não conseguiu parar em nenhum porque não deu certo em nenhum. Ministro pipoqueiro, um ministro que ficou pipocando", disse Leite.

Onyx rebateu: "Vemos conjunto de mentiras, é uma pena que minta tanto e se enrole nas mentiras".

Leite contra-atacou e salientou que o oponente ficou "passando de ministério em ministério" para não assumir como deputado federal. "Se alguém se apresentar para você para uma vaga de emprego, tendo passado em três anos por cinco empregos diferentes, desconfie. Pelo menos busque referências", complementou.

Dias depois, Onyx fez uma fala homofóbica, sabendo que Leite já havia se declarado homossexual. Em uma propaganda de rádio, o ex-ministro disse que, se eleito, os gaúchos teriam "um governador e uma primeira-dama de verdade". A afirmação rendeu críticas de vários políticos e personalidades.

O embate entre os dois foi muito tenso durante o segundo turno, com troca de acusações de corrupção. Leite também tentou colar a pecha de Onyx não ter propostas originais para o governo, o que chegou a virar meme quando o bolsonarista não respondeu sobre uma alternativa à renegociação de dívida do estado.

Covid e privatizações

Durante seu comando à frente do Executivo, Leite conseguiu aprovar reformas que alteraram o plano de carreira e o modelo previdenciário de servidores, incluindo o sistema de aposentadorias de militares.

O governo dele também foi marcado por privatizações, como as da Sulgás (Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul) e da CEEE-T (Companhia Estadual de Transmissão de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul).

Durante a pandemia, Leite criou um modelo de distanciamento social próprio para o estado. Além disso, baixou regras rígidas, como a proibição da venda de produtos não essenciais, que exigiu que supermercados gaúchos tivessem que cobrir itens e fechar corredores.

Em julho de 2021, quando já era pré-candidato à Presidência da República, Leite se assumiu gay. Ele diz que decidiu encerrar as especulações porque vinha sendo alvo de críticas nas redes sociais.

Na época, ele disputava as prévias tucanas que iriam definir o candidato do partido ao Planalto com o então governador de São Paulo, João Doria, o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. Em novembro, Doria foi o escolhido. Mas, em maio, isolado, ele acabou desistindo. No começo de junho, a Executiva Nacional do PSDB decidiu apoiar a candidatura de Simone Tebet (MDB).

Para bater o martelo, foi necessária uma longa negociação sobre os palanques regionais, sobretudo no Rio Grande do Sul. A sigla tucana exigiu que o MDB apoiasse Leite ao governo gaúcho, abrindo mão de lançar o deputado estadual Gabriel Souza (MDB) ao governo gaúcho, que se tornou vice de Leite na chapa.

No final de julho, Leite anunciou que seria novamente candidato ao governo gaúcho. O nome dele foi oficializado em convenção estadual do PSDB. Leite acabou contrariando as próprias declarações de que não tentaria a reeleição.

Em sabatina promovida por UOL e Folha de S.Paulo em junho, o político afirmou que havia "mudado de opinião" sobre o assunto. Nos debates do segundo turno, ele se defendeu da contradição. Disse que não desejava ser um governador em campanha, porque isso atrapalharia seus afazeres no Palácio Piratini, então renunciou.