Michelle vota com camiseta de Israel; Instituto Brasil-Israel critica
A primeira-dama Michelle Bolsonaro votou na manhã deste domingo na cidade-satélite de Ceilândia, no Distrito Federal, com uma camiseta com a bandeira de Israel. Já o presidente Jair Bolsonaro (PL) votou no Rio de Janeiro. Ele chegou antes da abertura dos portões numa escola do Rio de Janeiro e foi o primeiro a votar na sua seção.
Em uma foto publicada no Instagram, a mulher de Bolsonaro escreveu: "Que as bençãos do nosso Deus estejam sobre o Brasil e sobre Israel. Deus, pátria, família e liberdade".
Michelle participou ativamente da campanha eleitoral e realizou atos para tentar diminuir a rejeição do eleitorado feminino ao presidente Bolsonaro. Ela vestiu com frequência as cores verde e amarelo dura as últimas semanas, mas hoje optou pela camiseta de Israel.
Entre aliados do presidente, a colaboração da primeira-dama foi vista como valiosa na tentativa de humanizar a imagem de Bolsonaro e de se conectar não só com o eleitorado evangélico, mas com mulheres de classes mais baixas, sobretudo do Norte e do Nordeste.
Relação do bolsonarismo com Israel
Para parte dos evangélicos, ir contra Israel é ser contra a vontade de Deus. Segundo o teólogo Ronilso Pacheco, colunista do UOL, existem quatro principais razões para isso.
A primeira delas está lá no primeiro livro do Antigo Testamento, na Bíblia, Gênesis, quando Deus oferece uma bênção às nações que apoiassem a descendência de Abraão, fundador do monoteísmo dos hebreus. Isso é interpretado por alguns evangélicos como apoiar Israel.
Ainda segundo interpretação de Gênesis, os judeus são descendentes de Abraão e, por isso, povo escolhido de Deus. Logo, Israel, terra dos judeus, deve ser apoiada sob qualquer circunstância.
Um cristão mais atento poderia argumentar que a vinda de Jesus acabaria com a razão de Israel ser o povo escolhido já que a salvação de Deus seria oferecida agora a todos. Mas, para esses evangélicos, isso muda com a volta de Jesus e aí vem a terceira razão apresentada por Pacheco.
O fim, segundo essa interpretação, estaria próximo e isso seria provado pelo restabelecimento do Estado de Israel. Aliás, para esses evangélicos, Israel tem papel fundamental no julgamento das nações e dos povos que teriam negado a Cristo, incluindo a própria nação israelense.
A vinda de Jesus seria inclusive marcada pela libertação de Jerusalém do domínio dos gentios, ou seja, dos não-cristãos.
Por fim, para Pacheco, é possível argumentar que o apoio evangélico a Israel está enraizado na crença em uma cultura ocidental compartilhada, incluindo religião, ética, tradições, costumes e etiqueta.
O jornalista Diogo Bercito, em seu blog Orientalíssimo, na Folha, explica que, em 1970, um autor relativamente desconhecido chamado Hal Lindsey, graduado em um seminário de Dallas, publicou a obra "The Late Great Planet Earth" ("A Agonia do Grande Planeta Terra").
O livro foi um sucesso de vendas e popularizou a ideia de que o Apocalipse dependia de três coisas:
- a nação judaica ser recriada na Palestina,
- a reconquista de Jerusalém e
- a reconstrução do templo sagrado.
Em 1970, data do lançamento do livro, os dois primeiros itens já tinham sido concretizados. Assim, evangélicos passaram a acompanhar de perto a geopolítica do Oriente Médio, enxergando naquela região os sinais apocalípticos da Bíblia.
Portanto, essa aproximação de evangélicos e Israel também é bastante explorada nos Estados Unidos e ajuda a ditar a política externa norte-americana.
Como o protestantismo brasileiro tem ligações históricas com o protestantismo americano, até porque parte do surgimento das igrejas evangélicas no Brasil passa pela vinda de missionários americanos ao nosso país, é natural que essas ideias que se popularizaram nos EUA tenham vindo para cá.
Israel também se aproveita muito dessa relação. Primeiramente, porque ganha apoio político em países de forte presença evangélica, como os Estados Unidos e agora o Brasil do governo Bolsonaro. E também porque recebe dinheiro das peregrinações de evangélicos à Terra Santa.
Instituto Brasil-Israel critica primeira-dama
O Instituto, com função de disseminar informações sobre o país, bem como combater à intolerância e antissemitismo, criticou Michelle Bolsonaro e disse que ela não estaria alinhada em valores com Israel.
A publicação exemplifica essas divergências, dizendo que o país "adota medidas progressistas no campo dos costumes, como acesso ao aborto, proteção de direitos a pessoas LGBTs e o controle rígido de armamentos. Muito diferente do que Bolsonaro defende por aqui".
O Instituto Brasil-Israel ainda pontuou que usar a bandeira de Israel, passaria uma falsa impressão de que todos os judeus apoiariam o presidente Jair Bolsonaro e que isso poderia incentivar o antissemitismo.
"Somos contrários à tentativa de colonização do Judaísmo e do Sionismo por qualquer polo político. A estigmatização de um grupo é o ingrediente principal para o antissemitismo", conclui a nota.
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