PSB tem o nome mais competitivo nas capitais, mas perdeu espaço desde 2020
O PSB (Partido Socialista Brasileiro) tem o candidato mais competitivo das capitais até o momento nas eleições: João Campos, prefeito de Recife, que tem até 75% das intenções de voto nas sondagens. Por outro lado, o partido viu, pelo menos, seis dos nomes que elegeu nessas cidades mudarem de partido desde 2020.
O que aconteceu
Redução reflete nova regra, diz Pedro Campos (PSB-PE). Segundo o deputado federal, a norma que limita o número de candidaturas a vereador por partido à quantidade de cadeiras disponíveis nas câmaras municipais mais um nome reduziu a oferta de candidaturas por sigla e fez com que políticos da legenda migrassem.
Para especialistas, mudança explica desfiliações só em parte. O cientista político Marco Antônio Teixeira diz que a falta de projeto claro e liderança nacional forte afasta nomes importantes. Já o cientista político Fabricio Amorim destaca eventos recentes que geraram disputas internas como outro fator importante:
Alguns momentos foram cruciais para o PSB nacional e influenciaram as disputas municipais: o posicionamento a favor do impeachment de Dilma Rousseff em 2016; o racha na discussão sobre a participação no governo Temer; a decisão de ser oposição ao governo Bolsonaro e a expulsão de prefeitos que declararam apoio à Bolsonaro.
Partido foi o que mais perdeu nomes em cargos de destaque nas capitais desde 2020. À frente da Prefeitura de Maceió, JHC foi para o PL em 2022 para apoiar o ex-presidente Bolsonaro (PL). Já o vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista, e o vice de Teresina, Robert Rios, migraram para PSDB e MDB, respectivamente.
Três presidentes de Câmaras Municipais também deixaram o PSB nos últimos quatro anos. São eles: Carlão (hoje no PSDB), presidente da Câmara de Campo Grande (MS), Márcio Pacele (hoje no Republicanos), presidente da Câmara de Porto Velho (RO), e Raimundo Neném (hoje no PL), presidente da Câmara de Rio Branco (AC).
Legendas do Centrão foram as maiores beneficiadas com trocas nas capitais. PSD, Progressistas e PL receberam juntos 23 dos 53 prefeitos, vice-prefeitos, presidentes de câmara e vereadores líderes de governo que mudaram de sigla desde 2020. Já o MDB perdeu 7 nomes nesses cargos -- mas ganhou outros 6.
João perto de levar no 1º turno
O prefeito de Recife é um dos dois candidatos à prefeitura de capitais com mais de 70% nas pesquisas. O outro é Doutor Furlan (MDB), de Macapá, que tem 74,3%. Além de João, só Romerinho Jatobá, presidente da Câmara de Recife, foi eleito pelo PSB em 2020 para cargo de destaque em capital e segue na sigla.
Sucesso de João é atribuído a boa gestão e "revolução na comunicação". Segundo Pedro Campos (irmão de João), a Prefeitura de Recife é hoje aquela que mais troca mensagens com a população por meio do WhatsApp. Isso combinado a um número de obras inauguradas maior do que o de dias de mandato explicaria o êxito.
Teixeira vê outros nomes além de João com potencial de se tornarem lideranças nacionais no PSB. O vice-presidente Geraldo Alckmin é um exemplo, na opinião do especialista — mas precisa desvincular sua imagem do PSDB, partido ao qual foi filiado por mais de 20 anos e de onde saiu em 2021 após desentendimentos.
Família Campos é clã político em Pernambuco. Pedro e João são filhos de Eduardo Campos — governador entre 2007 e 2014 e candidato à presidência pelo PSB em 2014, quando morreu em um acidente aéreo durante a campanha. Eduardo era neto de Miguel Arraes, prefeito de Recife nos anos 1960 e exilado na ditadura.
Grupo tem ligação com Tabata Amaral (PSB). Candidata à Prefeitura de São Paulo, a deputada federal é namorada de João Campos. O prefeito deve aparecer em um dos episódios de uma webserie produzida pela campanha de Tabata. Já Pedro planeja prestigiar a campanha da cunhada, assim como de outros nomes do partido.
O que dizem os envolvidos
É melhor comparar os dados após as eleições. Hoje, temos quatro nomes fortes na disputa por capitais importantes. Além do João em Recife, Duarte Junior em São Luís (MA), Tabata em São Paulo (SP) e Luciano Ducci em Curitiba (PR) são candidatos com chances de chegar ao segundo turno. Após a votação, pode ser que o PSB tenha um cenário até melhor do que em 2020. Nossa expectativa é essa, inclusive
Pedro Campos (PSB), deputado federal por Pernambuco
Hoje, o PSB é um partido forte praticamente só em Pernambuco -- estado do qual ele, inclusive, perdeu o comando em 2022. Dentro da legenda, o João aparece como herdeiro do pai e um dos poucos nomes aptos a se tornar liderança nacional, posição que no passado já foi ocupada por Arraes e por Cid e Ciro Gomes
Marco Antônio Teixeira, cientista político e professor-adjunto do Departamento de Gestão Pública da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo
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Quero receberEduardo Campos tinha grande capacidade de articulação e suas ações eram centrais a fim de manter determinada coesão no partido (...) As articulações feitas por Eduardo Campos foram se fragmentando a cada ano e o número de deputados federais caiu de 2018 em relação a 2022 (...) A atual situação do PSB segue em movimento contrário ao que foi constituído por Eduardo Campos com o retorno da aliança com o lulismo
Fabricio Amorim, doutor em ciência política pela PUC-SP
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