Boulos sobe o tom contra Nunes e Marçal em vídeo, mas militância pede mais

O candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) publicou nesta segunda (26) um vídeo referindo-se aos adversários Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB) como "armas" do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O que aconteceu

"Bolsonaro conta com duas armas para tomar São Paulo de assalto", inicia o vídeo com imagens de projéteis de bala caindo. A campanha do deputado associa ao ex-presidente tanto Nunes, oficialmente apoiado por Bolsonaro, como Marçal, numa tentativa de repetir a polarização do cenário eleitoral de 2022, entre a esquerda de Lula (PT) contra a extrema direita.

Publicação ocorre em meio à cobrança da militância para que Boulos seja mais "agressivo". Nos bastidores e nas redes sociais, apoiadores cobram mais combatividade, sobretudo contra Marçal — que cresceu nas pesquisas. O argumento é que o empresário fez acusações graves, sem apresentar provas, e que Boulos não pode priorizar a imagem do candidato "paz e amor": "Falta ódio", diz um dos militantes. "Piada de twitter não vira voto", escreveu uma influenciadora.

O vídeo publicado nesta segunda-feira (26) é o primeiro com uma estética mais agressiva do candidato do PSOL. O conteúdo encerra com a frase "aqui não". A avaliação de especialistas é que Tabata Amaral (PSB) tem saído na frente dos adversários com publicações que tentam associarMarçal ao PCC.

Analistas políticos avaliam, porém, que a estratégia de não ir a combate é necessária em alguns casos para tentar manter o lugar no segundo turno. Boulos vem liderando as intenções de voto, segundo as pesquisas, e também cresceu sua porcentagem em grupos de eleitores periféricos. Ele também esbarra na estratégia de deixar a imagem de radical, apontada pelos adversários.

Datafolha divulgado na semana passada mostrou empate técnico na liderança entre Boulos (23%), Marçal (21%) e Nunes (19%). Na sequência, aparecem o apresentador José Luiz Datena (PSDB), com 10% das intenções de voto, e a deputada federal Tabata, com 8% — também tecnicamente empatados.

Tabata publicou dois vídeos em que liga Marçal ao PCC. Em uma das imagens, a candidata fez uma alusão à sigla PCC: "P de Pablo, C de coach, C de criminoso". No conteúdo publicado hoje, ela diz que desmascarará o ex-coach durante o próximo debate, no domingo (1º).

'Eleição não é concurso de quem grita mais alto'

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Em uma live nas redes sociais, Boulos citou as críticas que vem recebendo para ser mais combativo. O candidato repetiu o que tem afirmado nas entrevistas ao dizer que "eleição não é concurso de quem grita mais alto". Ele disse que nos últimos anos já foi provado que a esquerda tem coragem de enfrentar a extrema direita.

O psolista citou o crescimento em dois eleitorados importantes. A intenção de voto nele subiu entre quem tem renda familiar de até dois salários (R$ 2.824), saindo de 14%, no início do mês, para 18% agora. Entre quem tem o ensino fundamental, cresceu de 13% para 18%. Os dados são do Datafolha divulgado na quinta-feira (22).

Boulos também citou o ato com evangélicos realizado nesta segunda e disse que "isso é furar a bolha, dialogar com público em que o bolsonarismo entrou com força". O candidato afirmou que no próximo sábado fará um ato a favor da democracia na Praça Roosevelt, na região central da cidade.

Uma eleição não pode ser só o diálogo com a rede social, uma eleição tem que dialogar com a cidade, com o povo, e é isso o que a gente vem fazendo.
Guilherme Boulos

O que dizem os especialistas

Tabata acabou chamando pra si a responsabilidade de polarizar com Marçal, fazendo acusações de forma contundente, em um grau de coragem que os outros candidatos não fizeram. É uma estratégia, porque ela foi a principal prejudicada com o ingresso do Datena e depois com a subida do Marçal.
Marco Antonio Teixeira, cientista político

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Discutir com Marçal nos termos do próprio Marçal, nas redes e no nível que ele se coloca, seria um erro de Boulos, porque ele jogaria no terreno do adversário. A escolha de adotar uma estratégia de moderação faz parte de um cálculo político, porque ele precisa dialogar com o eleitorado de baixa renda que vota no Marçal e aposta que ele pode se apresentar como candidato de propostas.
Eduardon Grin, cientista político

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