'Negócio tá bom hoje': como era o esquema que fez Pablo Marçal ser preso

Áudios revelados pelo Tab UOL no domingo (1º) mostram a participação do coach e candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) em esquema de fraudes bancárias. Entenda como funcionava o negócio, que culminou com a prisão de Marçal aos 18 anos.

O que aconteceu

Tab UOL teve acesso a grampos telefônicos de investigação da Polícia Federal. Os grampos foram obtidos graças ao acesso à íntegra do processo na 11ª Vara da Justiça Federal de Goiânia, como mostrou a reportagem de Natália Portinari, Pedro Canário e Aguirre Talento.

O caso aconteceu em 2005 e relata que o grupo criminoso disparava emails com avisos falsos de irregularidades no CPF, na declaração de Imposto de Renda ou de inadimplência, para atrair vítimas e ter acesso a suas senhas.

Áudios mostram Marçal conversando com o líder da quadrilha, Danilo Oliveira, pastor de igreja frequentada pelo coach. Segundo a investigação, Marçal era o encarregado de capturar os emails que seriam utilizados pelos golpistas no esquema.

Em um dos áudios, Marçal indica que estava correspondendo de maneira satisfatória à expectativa do grupo: "Tô capturando aqui, chefe. Negócio tá bom. Negócio aqui em casa tá bom. Capturei hoje o dia inteiro", diz.

Atuação de Marçal foi alvo de crítica por parte do líder do grupo. Segundo Oliveira, Marçal tinha que "prestar atenção" nas listas de emails que levantava para o grupo: "Você vê, aquela lista que você fez, com o JC (software) aqui em casa, muito ruim. A minha que eu fiz, muito boa, tudo bom, quase tudo bom, entendeu? Tem que prestar atenção nisso aí, ver como que tá fazendo. O que é e tal. O segredo é olhar os webmail direitinho".

Marçal foi flagrado pedindo dinheiro a Oliveira. Em outro áudio obtido pelo UOL, Marçal pede dinheiro a Danilo, cerca de "quarenta conto".

Em outra conversa interceptada, Marçal é repreendido pelo pai por ter se envolvido com "hackers". "Já saí daquilo", diz Marçal. "Já saiu?", insiste o pai. "Eu não quero nunca que você mexa com aquele troço. [...] Honra teu pai e tua mãe."

"Agora eu tô geladinho com essa história." Os grampos indicam também a preocupação de Marçal com as investigações das autoridades, que passaram a mirar a atuação da quadrilha em Goiás.

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Marçal confessou participação em esquema, mas minimizou caso

Coach confessou que fazia parte da quadrilha em depoimento à Polícia Federal. Às autoridades, Marçal explicou como funcionavam as fraudes: "Danilo disse que 'Paco' (integrante da quadrilha) inicialmente iria subtrair e-mails de certos hackers para repassá-los a Danilo e também iria fazer programas invasores (SPAM), que simulariam páginas de instituições bancárias para com isso capturar os dados dos correntistas", disse em depoimento.

Marçal admitiu que "passou a operar" um programa usado para capturar emails. Os endereços seriam alvo das tentativas de fraudes bancárias e eram enviados a Danilo por Marçal. Ao longo da investigação, Marçal mudou de versão e passou a dizer que fazia apenas a manutenção dos computadores da quadrilha. No entanto, o coach foi entregue por Oliveira, que confirmou o envolvimento de Marçal no esquema. Contradições em seus próprios depoimentos fizeram com que Marçal fosse condenado pela atuação no grupo.

Marçal foi preso em casa em agosto de 2005. Ao contar à PF como o esquema funcionava e entregar integrantes da quadrilha, Marçal foi solto dois dias depois, porém foi denunciado por furto qualificado, associação criminosa e quebra de sigilo indevido de instituições financeiras.

Condenado em primeira instância em 2010, a pena para o crime de furto qualificado somava quatro anos e cinco meses de prisão. Apesar de condenado, Marçal não chegou a cumprir a sentença. Em fevereiro de 2018, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) reconheceu a prescrição da pena de Marçal: como ele era menor de 21 anos na época do crime (tinha 18 anos), o prazo prescricional é contado pela metade.

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Em entrevista recente ao canal GloboNews, Marçal minimizou o caso. "Queria ser uma pessoa que nunca foi processada, um menino que nem peida. Mas não foi assim. Infelizmente, fui injustiçado. Muitas coisas na minha vida foi bobeira mesmo que eu fiz, todo mundo erra".

Marçal diz que não obteve lucro com sua participação no esquema. "Ano que vem, que é 2025, vai fazer 20 anos disso. Eu ganhava R$ 350 trabalhando para esse cara [Danilo Oliveira]. Ele me colocava para consertar computador e pedia algumas coisas. Lá na sentença está escrito que eu não auferi lucro nenhum", afirmou.

UOL tentou contato com a equipe de Marçal. A reportagem procurou a campanha de Pablo Marçal por meio da assessoria de imprensa na última sexta-feira (30) e no último sábado (31), mas não obteve resposta até o momento.

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