União Brasil tem 2 candidatos à Prefeitura de Boa Vista em embate inusitado
O deputado federal Nicoletti e a deputada estadual Catarina Guerra protagonizam uma disputa inusitada em Boa Vista (RR): os dois são candidatos à prefeitura pelo mesmo partido, o União Brasil.
O que aconteceu
Nicoletti foi escolhido candidato em convenção do partido no dia 5 de agosto. O deputado federal recebeu 11 votos de membros do diretório do União Brasil em Boa Vista. Catarina estava presente no encontro e teve a pré-candidatura derrotada, após receber apenas seis votos.
Três dias depois, decisão da Executiva Nacional quis trocar Nicoletti por Catarina. Uma ata do encontro disponibilizada pela Justiça Eleitoral informa que o motivo alegado para troca era a "forte viabilidade político-eleitoral" da deputada, em comparação com o baixo potencial do deputado — entre outros motivos.
Partido alegou que opção por Catarina foi anterior à escolha de Nicoletti. No documento, consta que a escolha da deputada para candidata pela Executiva Nacional se deu em 29 de julho e que a convenção do dia 5 violou regras definidas em abril de 2024. Diante da situação, Nicoletti foi à Justiça Eleitoral.
Até decisão, Nicoletti e Catarina estão registrados como candidatos à Prefeitura de Boa Vista. A expectativa é que a Justiça decida sobre a situação até o dia 16. "A troca só poderia acontecer em caso de morte ou renúncia do candidato", diz Nicoletti. Procurada, Catarina não retornou os contatos da reportagem.
À Justiça, Catarina disse que houve irregularidades na escolha de Nicoletti. Segundo ela, um dos membros da convenção não teria domicílio eleitoral em Boa Vista e outros dois não estariam filiados ao partido. A tese não foi acolhida pelo Ministério Público Eleitoral, que divulgou parecer favorável a Nicoletti.
Batalha por propaganda de TV
Até segunda ordem, Catarina é quem deve aparecer na propaganda eleitoral de TV do União Brasil em Boa Vista. "Ela pediu e a Justiça concedeu, mas estamos recorrendo", diz Nicoletti. A expectativa do deputado federal é de que a Justiça Eleitoral divulgue decisão a seu favor na semana que vem. A candidata não usou seu tempo de TV na última sexta (30).
Candidatos a vereador procuraram Justiça após serem coagidos a pedir votos para Catarina na TV. Diante da situação, uma decisão liminar determinou "a veiculação das propagandas de todos os candidatos proporcionais do União Brasil, independente do pedido de votos às candidaturas majoritárias".
Disputa acirrada não se reflete em muitos votos. De acordo com pesquisa feita entre os últimos dias 24 e 26 pela Quaest, Catarina tem 13% das intenções de voto e Nicoletti, 5% — contra 65% de Arthur Rodrigues (MDB), atual prefeito e candidato à reeleição (que pode acontecer já no 1ª turno).
Demais candidatos tem menos de 4% das intenções de voto. Mauro Nakashima (PV) tem 2% e Lincoln Freire (PSOL), 1%. O levantamento foi registrado na Justiça Eleitoral no código RR-01685/2024.
Articulações envolveram até Alcolumbre
O ex-presidente do Senado participou da reunião que viabilizou a candidatura de Catarina. Na ocasião, Alcolumbre se posicionou a favor do nome da deputada. Presidente nacional do União Brasil, Antônio Rueda participou do mesmo encontro. Procurado, Alcolumbre não retornou os contatos da reportagem.
Para Nicoletti, governador também se mobilizou por Catarina. Segundo deputado, Antônio Dernarium (Progressistas) apoiou a candidatura de Catarina para se manter influente, já que pode ter o mandato cassado em breve por abuso de poder político e econômico nas eleições 2022. Procurado, Dernarium não retornou contatos.
Disputas internas não são novidade no União Brasil. Em fevereiro, o ex-presidente do partido Luciano Bivar foi derrotado quando tentava a reeleição para o comando da legenda, mas resistiu a passar a presidência para Antônio Rueda. Segundo Bivar, houve irregularidades na eleição.
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Quero receberO que dizem os envolvidos
Escolheram ela e não conversaram com outras lideranças. Foi imposição, é o jeito que eles trabalham
Nicoletti, deputado federal pelo União Brasil de Roraima
Há uma obrigação não prevista em lei para que os candidatos ao cargo de vereador profiram pedidos de votos à candidatura majoritária no tempo individual cedido pelo Partido, violando o direito à propaganda dos representantes, dando tratamento privilegiado a determinado candidato
Angelo Mendes, juiz eleitoral, em decisão sobre propaganda de TV
Se a escolha de candidato a prefeito e vice-prefeito estivesse condicionada à apreciação da Executiva Nacional do Partido, impossível negar que, caso assim fosse, as Convenções Municipais perderiam sua razão de ser
Ministério Público Eleitoral de Roraima, em parecer sobre o caso
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