Zap para rivais: 'sinal trocado' de Marçal é lição de gurus da manipulação

Ao menos dois candidatos à Prefeitura de São Paulo relataram terem recebido mensagens de Pablo Marçal (PRTB) antes dos debates desta semana.

Um deles foi José Luiz Datena (PSDB). O outro, Ricardo Nunes (MDB).

Um dia antes, Marçal propôs a Nunes um pacto de não agressão: "Eu não sou favorável a atacar famílias". A colunista do UOL Raquel Landim teve acesso às mensagens.

Pois foi pisar no estúdio e o influenciador já trouxe à baila o caso de uma suposta agressão de Nunes à ex-companheira.

Nunes ficou estarrecido. E berrou.

Pior fez Datena, que atirou uma cadeira no rival após ser acusado de assédio sexual. Isso depois de receber no celular um pedido de perdão de Marçal pela postura agressiva em encontros anteriores.

Tanto Nunes quanto Datena pareceram entrar em tilt com o sinal trocado. E ele não foi provocado por uma repentina amnésia do adversário em relação ao combinado.

Marçal sempre agiu dessa forma, de acordo com uma pessoa que trabalhou com ele (e que prefere não ser identificada).

"Foi assim que ele se deu bem no primeiro crime da vida", diz a pessoa. "É uma arte de guerra chamada 'Cavalo de Troia'. Você se faz de gentil para o oponente baixar a guarda. Depois você se aproveita que a fortaleza está aberta e ataca sem dó nem piedade."

Continua após a publicidade

Ela atribui a estratégia a alguns "ensinamentos" contidos em "As 48 Leis do Poder", o livro de cabeceira de Marçal, escrito por Robert Greene.

A mesma pessoa resume essas regras com os comentários a seguir:

  • Mantenha suas verdadeiras intenções ocultas para ter vantagem nas negociações. ("Ele faz isso na campanha toda. No fundo, ele não quer ser eleito. Quer lançar um novo produto", diz a pessoa);
  • Saiba como usar as pessoas: reconheça as habilidades e fraquezas dos outros para utilizá-las a seu favor. ("Ele fez isso com todos");
  • Use a honestidade e a generosidade seletivamente. ("Fez no debate com a Tabata, pedindo desculpas");
  • Aja como um grande personagem: crie uma imagem poderosa e imponente para influenciar os outros. ("Faz isso o tempo todo");
  • Seja imprevisível: mantenha os outros em desvantagem ao evitar padrões. ("7 de setembro e viagem surpresa pra El Salvador");
  • Jogue com a paciência das pessoas: faça os outros esperarem por você e manipule o tempo a seu favor. ("A prova contra o Guilherme Boulos");
  • Use a lisonja com habilidade: elogie as pessoas estrategicamente para conquistar sua simpatia e apoio. ("Está fazendo com o Bolsonaro").

Marçal, segundo essa mesma pessoa, agia assim no trabalho antes mesmo de assumir postos de liderança. Era o funcionário engraçado que chamava a atenção subindo em cima da mesa de diretores ou dançando break nas confraternizações da empresa de telefonia onde trabalhava em Goiânia.

Assim, ele foi ganhando simpatia e confiança até se tornar gerente na área de call center da companhia. Foi demitido, segundo relatos de testemunhas, após gritar descontroladamente com os subordinados em 2015.

Outro lado: a assessoria do candidato foi procurada pelo UOL para falar a respeito, mas ele ainda não se pronunciou.

Continua após a publicidade

Em artigo publicado no site do ICL Notícias, o historiador e escritor João Cezar de Castro Rocha atribuiu essas posições contraditórias a outro guru de Marçal: o astrólogo Olavo de Carvalho.

Ele lembra que, em "O Jardim das Aflições", Olavo já trabalhava conceitos como "lava-rápido cerebral" e "estimulações contraditórias" para ensinar leitores a desestabilizar e manipular o interlocutor.

É o que Marçal fez, segundo Castro Rocha, ao enviar mensagem de WhatsApp na véspera de acusar os rivais em rede nacional de um crime hediondo.

É para isso que os oponentes devem se preparar caso queiram anular as estratégias do discípulo de Greene e Olavo.

Datena deu o primeiro passo para isso. Não com a cadeira, mas com o botão de "bloquear" do WhatsApp.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes