Planalto cita frente ampla de Lula e minimiza as derrotas nas eleições

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, minimizou hoje as derrotas sofridas pela esquerda nas eleições do último domingo (6) e citou os partidos que compõem a "frente ampla" do governo Lula (PT) como resultado positivo para o governo.

O que aconteceu

A centro-direita dominou as eleições ontem. O PSD, o MDB, o PP e o União Brasil, que compõem o centrão, dominaram as eleições municipais, conquistando juntos mais da metade das prefeituras do país. O PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, e o Republicanos, do governador paulista Tarcísio de Freitas, tiveram os maiores crescimentos e ficaram em quinto e sexto.

O PT ficou na nona colocação entre os partidos. O número de prefeituras aumentou em relação a 2020, para 248, e segue em disputa em 13 cidades, mas o resultado está aquém do esperado pelo partido e pelo governo. Sofreu decepções em Teresina e Goiânia e em cidades importantes do interior, como Campinas (SP), Araraquara (SP) e Uberlândia (MG).

Padilha minimizou o quadro, após reunião com o presidente Lula nesta manhã. "Lideranças que compõem essa frente ampla do governo, que apoiam o presidente Lula, que apoiaram o presidente Lula no primeiro, no segundo turno das eleições do ano passado [de 2022], derrotaram os ícones da extrema direita", disse o ministro.

Ele focou em especial nas duas únicas vitórias de apoios lulistas no primeiro turno: as reeleições de Eduardo Paes (PSD) e João Campos (PSB) no Rio de Janeiro e no Recife, respectivamente. "Bolsonaro foi derrotado no seu condomínio, na sua casa na cidade do Rio de Janeiro, por uma liderança que compõe essa frente ampla e que fez questão, no anúncio da sua vitória, agradecer ao presidente Lula", argumentou. Paes derrotou o ex-diretor-geral da PF Alexandre Ramagem (PL) e Campos, o ex-ministro bolsonarista Gilson Machado (PL).

Ao falar em frente ampla, o ministro aponta para todos os 10 partidos que compõe o governo, parte deles de centro-direita. Um deles, inclusive, protagonizou a principal derrota do PT neste primeiro turno: o ex-prefeito Silvio Mendes (União) derrotou o deputado estadual Fábio Novo (PT) em Teresina. O União Brasil tem dois ministros no governo, mas é oposição ao PT e à esquerda na grande maioria dos estados, como São Paulo, Bahia e Goiás.

A conta de Padilha inclui o deputado estadual Igor Normando (MDB) em Belém. Candidato do governador Helder Barbalho (MDB), próximo ao governo, ele apoiou Lula em 2022, mas, na cidade, o PT havia endossado a reeleição do prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), que acabou com menos de 10% dos votos.

Sabemos da força dessa extrema direita no país, ninguém nega essa força, ninguém nega a capilaridade nacional dessa força. Agora, acreditamos que, no segundo turno, essas lideranças que compõem essa frente ampla do presidente Lula têm todas as condições de derrotar, inclusive, essas lideranças de extrema direita.
Alexandre Padilha, sobre eleições

A avaliação, no entanto, traz algumas complexidades. Em Goiânia, por exemplo, onde o bolsonarista Fred Rodrigues (PL) saiu de quarto nas pesquisas para a primeira colocação e deixou a deputada Adriana Accorsi (PT-GO) de fora. O ex-deputado Sandro Mabel (União) segue na disputa. Ele é o nome do governador Ronaldo Caiado (União), opositor do governo.

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Também há exemplos de partidos que nacionalmente estão mais ligados a Lula, mas regionalmente, não. Em São Paulo, onde Lula grudou em Guilherme Boulos (PSOL), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tenta reeleição. Ele é apoiado por Bolsonaro e sempre foi crítico da esquerda. O MDB tem três ministros no governo.

Em Curitiba é ainda mais díspar. A capital enfrenta um segundo turno bolsonarista, entre o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), nome do prefeito Rafael Greca (PSD) e do governador Ratinho Júnior (PSD), e a jornalista Cristina Graeml (PMB). Apesar de ter três ministros no governo, o PSD paranaense é um expoente à direita e nada lulista.

Lula vai participar mais do segundo turno

O presidente Lula não se envolveu tanto. Com exceção de São Paulo e Fortaleza, onde conseguiu garantir seus candidatos no segundo turno, ele não foi a nenhuma outra capital eleitoralmente —situação que deve mudar neste segundo turno.

Para as próximas duas semanas, já tem agenda marcada. Nesta semana, vai a Fortaleza, onde Evandro Leitão (PT) concorre no segundo turno, e Belém, com Igor Normando. Na semana que vem, vai à reinauguração do Aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, onde Maria do Rosário (PT) segue na disputa.

"O presidente já fez contato com várias delas [candidatos que seguem na disputa]", disse Padilha. "Vai estar no Círio de Nazaré, em Belém, vai poder se encontrar com o Igor, que é o candidato do MDB", completou, argumentando que o apoio seguirá da forma "possível, de alguém que não abre mão de forma responsável e continua presidindo o país".

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O Planalto diz entender, ainda, que uma eleição não está ligada a outra. "Nunca existiu no Brasil e não existe essa relação direta [entre pleitos]", disse Padilha. "Acreditamos que a principal avaliação que o eleitor faz lá em 2026, quando vai debater a eleição federal do presidente da República, é a avaliação sobre o governo."

Por outro lado, as eleições deste ano sempre foram vistas como um termômetro para 2026. Embora um crescimento de partidos de direita não indique, necessariamente, uma derrota de Lula em sua reeleição, aponta que a relação de forças está cada vez pendendo mais para o lado oposto do grupo do presidente.

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