Pedreira, que deu maior vitória a Nunes, mantém voto mesmo após apagão

Na Pedreira, zona sul da capital paulista, eleitores disseram que o apagão que deixou 2,1 milhões de residências sem luz desde a última sexta (11) não vai mudar o voto deles para o segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo.

O que aconteceu

Na divisa com Diadema, o bairro foi um dos mais afetados pela queda de energia. Ele faz parte da zona eleitoral onde o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), teve a maior vitória no primeiro turno. Ele obteve 35,77% dos votos da região, o maior percentual para ele em toda a cidade.

Quatro dias depois de um temporal, 158 mil imóveis seguem sem luz na região metropolitana de São Paulo. As informações são do boletim mais recente da Enel, divulgado no fim da tarde desta terça (15). A concessionária não diz em quais regiões estão esses desassistidos, mas atualizações anteriores diziam que a zona sul foi a mais atingida na capital — especialmente nos bairros do Jabaquara, Santo Amaro, Pedreira e Campo Limpo. Apenas nesse último, Nunes não levou a melhor no primeiro turno — Guilherme Boulos (PSOL) ficou à frente, com 34,87% da preferência.

Eleitores de Pedreira ouvidos pela reportagem, porém, disseram que o voto para o segundo turno já está consolidado. O cozinheiro David William, 34, disse que ficou três dias sem luz e sem água em casa. "Foi um caos total, a fiação está caída lá na rua até agora", disse. "Foi horrível, horrível, perdi tudo que tinha na geladeira."

Mapa de votação de Ricardo Nunes (MDB) no 1º turno
Mapa de votação de Ricardo Nunes (MDB) no 1º turno Imagem: Arte/UOL

Ele continua com um totem com o rosto e número de urna do prefeito em frente ao restaurante. "O apagão não afeta meu voto, pelo contrário. Ele ajudou a gente aqui muito, sou totalmente a favor dele", disse. "Meus parentes moram do outro lado [da represa Billings], no Grajaú. Antes eu tinha que dar a maior volta, agora, eu pego a balsa e já estou lá."

O primeiro transporte hidroviário da capital começou a funcionar em maio deste ano, ligando Pedreira ao Cantinho do Céu, ambos na zona sul. O percurso dura cerca de 20 minutos — por terra, leva o dobro do tempo.

Elizabeth Santos, 51, que trabalha em outro restaurante na avenida Nossa Senhora do Sabará, também disse que vai continuar votando no prefeito, mesmo depois de passar quatro dias sem luz em casa. "Só não tive prejuízo maior porque consegui colocar minhas misturas no freezer da minha patroa. Quatro dias, não tem uma geladeira que aguenta", disse ela, que também ficou três dias sem luz no outro apagão que atingiu a cidade, em novembro do ano passado.

A culpa não é só do atual prefeito, é de toda a Prefeitura. Eles que são responsáveis por tirar essas árvores, por fazer a fiscalização para evitar esses danos.
Elizabeth Santos, que mora e trabalha na Pedreira

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Ela também elogiou a gestão de Nunes. "Agora, aos domingos, se você quiser passear com a sua família, o ônibus é de graça. Eu tenho três filhos, cada lugar que vou, tenho que pagar três conduções. Foi alguma coisa, o mínimo que seja, que ele fez pela gente", disse.

Até quem não é eleitor do atual prefeito diz que ele não é o principal responsável pelo apagão. O atendente Ericsson Cleiton, 27, conta que o posto de gasolina onde trabalha, na Estrada do Alvarenga, ficou sem luz desde a noite de sexta até domingo. "Só conseguíamos atender os clientes da loja de conveniência, na pista não podíamos abastecer os carros sem energia", disse.

Eu não vou votar nele [em Nunes], mas eu não acho que o apagão influencie, porque nesse caso, a responsabilidade é da empresa privada, da Enel. Se acontece uma coisa dessas, ela que tem que tomar providência o mais rápido possível.
Ericsson Cleiton, atendente em posto na Pedreira

O borracheiro Antônio de França, 64, estima que o prejuízo por quatro dias sem energia elétrica esteja na casa dos R$ 10 mil. "Eu não votei no Ricardo Nunes e nem vou votar. Não é tanto por causa do apagão, mas é porque ele fez um monte de buraco aí na rua que não tinha necessidade", disse ele, que já tinha se decidido antes que votaria em Guilherme Boulos.

Para a comerciante Valéria Martins, 47, o motivo por ter quem continue sem luz na Pedreira é um só: renda. "Pagamos a conta de luz igual, mas tenho certeza que a luz voltou antes lá perto da avenida Paulista", disse. "Mas a culpa não é do prefeito, sempre foi assim. Estou com Ricardo Nunes e não abro."

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