Empresário assume presidência do Chile com o desafio de reconstruir país após terremoto
O empresário Sebastián Piñera assume nesta quinta-feira (11) a presidência do Chile, encerrando duas décadas de governos de centro-esquerda no país, com o desafio de reconstruir as regiões afetadas pelos tremores das últimas duas semanas.
Desde o final da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), a chamada “Concertación de Partidos por La Democracia” elegeu todos os presidentes chilenos, culminando no mandato de Michelle Bachelet, que deixa o governo com altíssimos 84% de aprovação, mesmo após as críticas que sofreu com o terremoto de 27 de fevereiro.
The New York Times
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A popularidade de Bachelet, contudo, não foi suficiente para eleger o candidato da coalizão governista. Com 51% dos votos, Piñera derrotou o ex-presidente Eduardo Frei no segundo turno das eleições, em janeiro deste ano.
O bilionário Piñera foi eleito com as promessas de reforçar a segurança, retomar o crescimento econômico e dedicar mais atenção à classe média chilena.
Na ocasião, os analistas políticos locais afirmaram que a escolha de um presidente conservador significava superar o tradicional vínculo entre a direita e a ditadura, herdado dos anos de Pinochet. A tarefa de Piñera, portanto, seria refundar os quadros de centro-direita no país.
Mas o terremoto que atingiu o país também mudou as prioridades de Piñera. A pompa da cerimônia de posse foi suspensa: o número de convidados caiu de 100 para 30, as comitivas internacionais, que demandam policiamento reforçado, também foram reduzidas para não comprometer o número de policiais e militares em operação desde as áreas afetadas pelos tremores e tsunamis.
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A assessoria presidencial substituiu o refinado almoço com líderes internacionais por um “almoço de trabalho” durante o qual Piñera apresentará os primeiros projetos de reconstrução para as áreas afetadas. Logo depois da posse em Valparaíso, o presidente voará com um grupo de ministros para a cidade de Constituición, uma das mais destruídas.
“Personalidade difícil”
Piñera, 60, é casado com Cecilia Morel e pai de quatro filhos. Graduou-se em economia na Universidade Católica de Santiago na década de 1970, fez doutorado em Harvard e já trabalhou no Banco Mundial e na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Para seus aliados, é um homem hiperativo, inteligente, hábil e experiente; para os críticos, é calculista e indolente.
"Tem uma personalidade difícil, não gosta de demonstrar afeições, opta por um caráter estritamente empresarial, o que o leva a problemas com as pessoas", comentou à AFP José Miguel Izquierdo, um de seus amigos mais próximos.
"Possui grande capacidade intelectual. Impressiona a rapidez com que apreende a informação e o grande conhecimento que possui dos problemas reais", acrescenta o amigo.
Uma das críticas lançadas contra Piñera durante a campanha eleitoral pelos alidados de Bachelet diz respeito à ligação do bilionário com diversas empresas, o que configuraria conflito de interesses. Já comparado com o premiê italiano, Silvio Berlusconi, Piñera exerce controle sobre a empresa aérea Lan Chile, o clube de futebol Colo-Colo e uma televisão.
A desconfiaça de seus críticos tem antecedentes: em 2007, ele foi punido por uso de informação privilegiada em operação financeira envolvendo a Lan Chile. Piñera não apelou da decisão, e pagou multa de US$ 700 mil.
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No contexto do terremoto, no entanto, os chilenos enxergam Piñera como um homem capaz de reerguer o país. Segundo pesquisa da empresa Adimark, 59% dos consultados acreditam que Piñera vai se sair “bem” ou “muito bem” na chefia do governo. Apenas 3% responderam “ruim” ou “muito ruim”.
Novidades na política externa
Segundo os analistas citados pelas agências de notícias, a Presidência de Sebastián Piñera não deve se diferenciar muito da linha seguida pelos governos da Concertación, um modelo que combinava economia de mercado e um sistema de proteção social, e que até o terremoto parecia haver garantido a estabilidade social e a prosperidade econômica.
No plano internacional, contudo, se espera que Piñera represente uma nova voz contra Cuba e Venezuela, reforçando o eixo conservador na região, liderado hoje por México e Colômbia.
"Na região, foram configurados dois grandes modelos, um deles é dirigido por pessoas como [Hugo] Chávez na Venezuela”, afirmou o empresário, após a divulgação do resultado do primeiro turno das eleições. “Outro é o representado por governantes como [Felipe] Calderón no México, Lula no Brasil, Alan García no Peru e até Michelle Bachelet no Chile".
"Acho, definitivamente, que o segundo modelo é o melhor para o Chile, porque tem a ver com democracia, estado de direito, liberdade de expressão, alternância do poder sem caudilhismos, na parte política", acrescentou o empresário.
Piñera estreou no cenário internacional há algumas semanas, participando na cúpula do Grupo do Rio. Lá apresentou sua agenda para a América Latina, que terá como prioridade as relações com Brasil e México e a aproximação aos países vizinhos (Peru, Bolívia e Argentina).
*Com agências internacionais e BBC
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