Para famílias, relatório francês frustra ao ser genérico, mas pode ser útil em ação judicial
O relatório do Escritório de Investigação de Acidentes Aéreos da França (BEA, na sigla em francês) sobre o voo 447 da Air France, que caiu no oceano Atlântico em junho de 2009 matando os 228 ocupantes a bordo, pode não ter sido enfático ao culpar a empresa Airbus, fabricante da aeronave, pela tragédia do jeito que as famílias das vítimas esperavam, mas também não foi completamente frustrante. O documento foi divulgado hoje na França e apontou erros dos pilotos, falha mecânica e falta de treinamento da equipe.
Para Maarten van Sluys, irmão de uma das vítimas do acidente e um dos fundadores da Associação de Parentes de Vítimas Brasileiras do AF 447, o relatório relativiza a culpa dos pilotos na tragédia.
Além disso, ao contrário dos três documentos parciais divulgados pelo BEA, pela primeira vez o órgão francês fez recomendações de mudanças técnicas nas aeronaves, o que, na visão de Sluys, mostra que a fabricante do avião teria uma parcela de culpa no acidente.
"O BEA não tem como função atribuir responsabilidade pelo acidente. O objetivo do relatório é o de fazer recomendações. Temos que ter isso em mente quando vamos analisar o documento", disse.
Segundo Sluys, outra recomendação importante que o relatório do BEA faz é a de mudanças no treinamento de pilotos, que é de responsabilidade da fabricante do avião e da companhia aérea para quem eles trabalham.
"A situação ocorrida no voo 447 nunca aconteceu em exercícios de simulação. Os pilotos devem estar preparados para esse tipo de situação", falou.
Agora, a esperança dos familiares é que o relatório do BEA possa influenciar a decisão da Justiça francesa. Na próxima terça-feira (10), as famílias terão uma audiência com a juíza que cuida do caso e esperam que o relatório judicial atribua a culpa do acidente à Air France e à Airbus.
Presidente esperava mais
Antes da apresentação oficial do relatório, Nelson Marinho, presidente da Associação de Parentes de Vítimas Brasileiras do AF 447, se mostrou frustrado com a conclusão do BEA.
Em Paris, Marinho teve acesso ao documento antes da apresentação e falou que esperava mais contundência do órgão francês em relação ao papel que os erros mecânicos tiveram na queda da aeronave.
"Eles [o BEA] estão querendo preservar a Airbus. É um absurdo. O capital está falando mais alto do que a vida", revoltou-se.
Para Marinho, a única diferença que o relatório trouxe foi a recomendação de treinamento para os pilotos.
"O BEA diz que os pilotos precisam de mais treinamento. Todo mundo sabe que um voo tem dois momentos críticos: a decolagem e o pouso. O voo AF 447 caiu quando estava em velocidade de cruzeiro. A habilidade de nenhum piloto experiente salvaria este voo", disse.
Apesar da frustração, Marinho diz que a luta das famílias "pela verdade" continuará, já que um acidente como esse deve servir para melhorar a segurança dos voos.
"Perdi meu filho nesse acidente. Temos que tirar uma experiência disso para melhorar os voos", contou.
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