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Militantes pró-Cuba e simpatizantes de Yoani Sánchez falam palavras de ordem e trocam insultos em evento em SP

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

21/02/2013 18h31Atualizada em 21/02/2013 20h47

Um grupo de aproximadamente 70 militantes de organizações pró-Cuba e cerca de 30 simpatizantes da dissidente cubana Yoani Sánchez já trocam palavras de ordem e insultos em frente à Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, zona central de São Paulo, nesta quinta-feira (21). A blogueira compareceu à livraria para um evento de divulgação de seu livro "De Cuba, com carinho".

Cerca de 20 policiais observam a movimentação dos grupos, que chama atenção de frequentadores do complexo e de pedestres da avenida Paulista.  A dissidente chegou ao local por volta de 17h45, mas entrou pela porta de trás, distante da manifestação.

Questionada sobre as razões pelas quais os cubanos não se mobilizam contra o governo, a blogueira elegeu como razões o ?doutrinamento? ao qual, segundo ela, os cubanos são submetidos desde criança; ao ?medo da repressão?; e a opção dos insatisfeitos em resolver sua situação individual, em vez de se organizarem coletivamente.

Yoani afirma, entretanto, que a oposição em Cuba está começando a ganhar força dentro de Cuba porque se formou rede de informações entre opositores que usam as redes sociais para divulgar suas ideias.

Dissidente nega ser financiada pela oposição internacional ao regime de Cuba e se diz "mochileira"

A blogueira negou que sua ‘turnê’ por 12 países, iniciada pelo Brasil, esteja sendo sustentada com recursos de organizações internacionais contrárias ao regime cubano.  Ela afirmou que está bancando a viagem com dinheiro próprio, além do auxílio de amigos e instituições que a convidaram para visitar seus países.

“Nesses seis anos acumulei indicações institucionais e amigos que me convidaram a vir para cá fazer conferências”, disse. “Sou mochileira. Conto com a solidariedade das pessoas. Se me oferecem uma cama, um prato, uma palavra, já ajuda.”

“Quando se fala em regular os meios [de comunicação], há que ter muito cuidado porque existe uma linha tênue entre chamar a responsabilidade dos meios e censurá-los. É preciso ser muito cuidadoso. Acredito que a regulação de meios deve ocorrer por meio de leis, da legalidade e não de governos porque cada governo tem seus interesses”, disse a blogueira sobre a regulação da mídia.

Após uma breve apresentação, Sánchez passou a responder perguntas enviadas pela plateia. Em uma delas, o autor questionou sobre as conseqüências que um evento fim do governo de Hugo Chávez na Venezuela para o sistema energético cubano, atualmente sustentado por meio fornecimento subsidiado de petróleo pela Venezuela.

Para a blogueira, o fornecimento de petróleo, apesar de garantir o funcionamento do sistema energético cubano, provoca o prolongamento de um modelo "falido" e as incertezas quanto ao futuro da Venezuela possam levar o governo cubano a buscar um diálogo com os Estados Unidos para acabar com o bloqueio econômico imposto por Washington à ilha.

“A saída de Chávez de cena pressiona os governantes cubanos. Talvez por isso, tenho notado, uma certa tentativa de diálogo com os Estados Unidos”, avaliou.
Histórico de protestos

Desde que chegou ao Brasil, Yoani tem presenciado diversos protestos contra a sua presença no país. A dissidente foi alvo de protestos nos aeroportos do Recife e de Salvador.

Yoani desembarcou em Salvador na segunda-feira e seguiu para Feira de Santana (BA) na terça-feira para dar uma palestra e assistir ao documentário. Sobre os protestos, Yoani, no início, disse que as manifestações eram um “um banho de democracia”. Ontem, no entanto, ela mudou de tom e comparou os manifestantes a terroristas. "Os gritos, os insultos, foi como se tivessem sido orquestrados por terroristas. Eu sou uma pessoa pacífica, e trabalho com o verbo, com a fala, não tinha porquê tanta agressividade."

As manifestações chegaram a impedir uma das exibições do documentário. Ontem, no Plenário do Senado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fez uma defesa veemente da liberdade de expressão e da cubana.

Está é a primeira viagem internacional de Yoani após cerca de 20 tentativas malsucedidas de sair de Cuba nos últimos cinco anos. No último domingo, Yoani iniciou uma série de viagens por dez países, começando pelo Brasil. No total, a ativista ficará fora de Cuba por 80 dias.

Durante anos, Yoani foi impedida de sair da ilha, onde é acusada de trair os princípios revolucionários do governo dos irmãos Castro, Fidel e Raúl.