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"Oposição deve enfrentar Maduro nas eleições, e não Chávez", diz analista venezuelano

Carlos Iavelberg

Do UOL, em Caracas

14/03/2013 06h00

Em abril, os venezuelanos vão às urnas eleger um presidente nas primeiras eleições sem a presença de Hugo Chávez em mais de 14 anos. Mesmo sem a presença do líder bolivariano, morto na semana passada em decorrência de um câncer, dificilmente ele não será o tema central da campanha.

Para o analista venezuelano Luis Vicente León, presidente do instituto de pesquisa Datanálisis, a oposição, do candidato Henrique Capriles, deve se esforçar ao máximo para separar a imagem de Chávez da de Nicolás Maduro, presidente interino e candidato governista.

Segundo León, Maduro deve capitalizar ao máximo o apoio popular que tinha Chávez e evitar entrar em confronto com Capriles.

UOL - A oposição tem alguma chance de ganhar as eleições?

Luis Vicente León - Em política é muito difícil matar a possibilidade de alguém. O que podemos dizer é que o governo é favorito para ganhar as eleições. Maduro arranca como favorito e isso é claro. Ele tem uma posição vantajosa com toda a comoção que existe com a morte de Chávez. Agora, a oposição está morta? Não necessariamente. Ou seja, o fato de você ser o favorito não significa que não há nenhum risco. Mas como será uma campanha muito curta, Capriles tem diante de si uma missão gigante. 

Quais deveriam ser as estratégias de Capriles para ganhar?

Capriles deve enfrentar Maduro, e não Chávez. É impossível ganhar de Chávez, e Maduro vai se apresentar como a continuidade do chavismo.

 O senhor acredita que Capriles é a melhor opção da oposição?

Claro, sobre isso não resta dúvidas. Capriles é o líder máximo da oposição venezuelana. Não há nenhuma outra pessoa com essa liderança.

Em sua coluna no jornal “El Universal” do último domingo (10), o senhor escreveu que é um erro da oposição afirmar que a população está furiosa com o governo por causa de uma suposta mentira sobre o real estado de saúde de Chávez antes de ele morrer. Assim que anunciou que seria candidato, Capriles colocou em dúvida a data da morte do presidente. Ele errou ao fazer isso?

Não diria que foi um erro, mas acho que é uma medida inútil. Não acredito que a oposição vai conseguir grande coisa com esse assunto. Em contra partida, ao subir o tom para enfrentá-lo [a Maduro], ao atacar a falta de segurança, ao atacar os problemas econômicos, ao atacar os primeiros cem dias [de governo] de Maduro como ineficientes, ele demostra a diferença entre Maduro e Chávez.

Inclusive, com o perigoso ataca ao ministro da Defesa [que disse que iria trabalhar pela vitória de Maduro], ele está levando todo o chavismo ao ringue de batalha. Não sei se ele vai ganhar, mas essa é uma rota com a qual ele pode conseguir mais coisas do que com o assunto da mentira. O assunto da mentira não é suficientemente potente.

O senhor acha que a oposição deve evitar tocar no tema Chávez durante a campanha?
Eles precisam manter Chávez separado de Maduro. Atacar Chávez levaria a campanha para o terreno emocional e isso não me parece ser interessante ou produtivo para a oposição.

Que diferença o senhor vê entra as eleições de outubro de 2012, quando Chávez derrotou Capriles, e esta agora?
Primeiro, a oposição vai ter o que dizer, vai ser confrontadora, o que não foi na última eleição. Segundo, o chavismo não vai com um candidato, eles estão mantendo Chávez como o foco central de sua campanha. É um assunto um pouco estranho. Não é o candidato que será vendido, ele é simplesmente um veículo para se votar em Chávez.

Sendo assim, qual deveria ser o papel de Maduro nas eleições?
Maduro está fazendo o que deveria fazer. Ele comete um erro quando responde a Capriles. Ele deveria manter-se centrado na simbologia de Chávez, não mais que isso.

Mas com isso não fica a impressão que Maduro não tem personalidade, que não tem uma proposta própria?
 Não é que ele não tenha personalidade, é que não convém mostrá-la. Não tem nenhum sentido aventurar-se numa proposta pessoal quando o grande vencedor é Chávez.

E como o senhor projeta um possível governo Maduro, já que ele é o favorito?
Maduro pode escolher por ser um presidente mais aberto. Com isso, ele poderia ter uma grande margem de manobra, que o possibilitaria ser radical no discurso, mas moderado em suas ações. Uma estratégia bipolar, que permitiria tomar algumas decisões econômicas que são impopulares, mas necessárias).

Já um Maduro fechado, vai ser um Maduro radical e com muita pouca margem de manobra. Neste caso, as decisões econômicas a serem tomadas podem demorar, o que poderia ser perigoso para o desenvolvimento nacional.

Em 2010, tivemos dois casos na América do Sul de presidentes de esquerda que tentaram fazer um sucessor. No Brasil, Lula conseguiu eleger a Dilma. Já no Chile, Michelle Bachelet não conseguiu o mesmo com Eduardo Frei. Embora seja uma situação diferente, o que esses casos podem servir de exemplo para a Venezuela?
Um líder sempre vai tentar construir um sucessor. Chávez demorou muito tempo na construção uma liderança, seu sucessor é apenas um reflexo de sua própria fortaleza, da fortaleza de Chávez, e não um líder que tenha sido construído nacionalmente.

Em setembro do ano passado, apenas 4% apontava Maduro como um possível sucessor de Chávez. Ele não era um líder nacional. Isso não quer dizer que Maduro não pode virar um líder, mas começa do zero. Arranca como um reflexo de Chávez e depois precisa voltar a ser Maduro.

A relação Brasil-Venezuela esfriou após Dilma assumir o poder. O senhor acredita que isso pode mudar, já que Maduro foi ministro das Relações Exteriores de Chávez?
Maduro tentará manter as relações com todos os líderes amigos da revolução [bolivariana, como é chamada as transformações na Venezuela sob o comando de Chávez]. Mas o Brasil se posiciona dentro de um grupo [de governos de esquerda] menos radical e a influência da Venezuela sobre o país é pequena.

A relação da Venezuela com o resto da América Latina está mais baseada na capacidade da Venezuela de influenciar os demais partidos do que o oposto. Brasil é mais um amigo grande, que é sempre bom manter, que um país que você pode conduzir.