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Rohani saúda 'a vitória da moderação sobre o extremismo' no Irã

Do UOL, em São Paulo

15/06/2013 16h06Atualizada em 15/06/2013 16h55

O novo presidente iraniano, Hassan Rohani, eleito com 50,68% dos votos, saudou "a vitória da moderação sobre o extremismo" e pediu "o reconhecimento dos direitos" do Irã para obter em troca "uma resposta apropriada", em alusão a negociações nucleares, em uma mensagem lida este sábado (15) à noite na televisão estatal.

"Esta vitória é a da inteligência, da moderação, do progresso (...) sobre o extremismo", afirmou Rohani, candidato único dos reformistas e dos moderados.

"No cenário internacional, com a oportunidade criada por esta grande epopeia popular, que aqueles (os países ocidentais, nr) que pregam a democracia, o entendimento, o livre diálogo, falem com respeito ao povo iraniano e reconheçam os direitos da República Islâmica para que ouçam uma resposta apropriada", afirmou Rohani.

Enquanto o país sofre uma grave crise econômica devido às sanções ocidentais impostas ao Irã por causa de seu controverso programa nuclear, Rohani assegurou que "a presença poderosa" do povo "trará calma, estabilidade e esperança em matéria econômica".

Finalmente, expressou "sua gratidão com o guia supremo" iraniano, aiatolá Ali Khamenei, do qual disse ser "o neto" e elogiou "o papel de Akbar Hashemi Rafsanyani e de Mohamad Khatami", os dois ex-presidentes moderado e reformista, em sua vitória.

O novo presidente iraniano Hassan Rohani é um religioso moderado, partidário de uma flexibilidade maior frente ao Ocidente para pôr fim às sanções que mergulharam o país em uma grave crise econômica.

Pouco cotado para estar à frente das eleições presidenciais no início da campanha, Rohani foi beneficiando-se da divisão da ala conservadora e desistência do único outro candidato reformista, Mohammad Reza Aref.

Hassan Rohani, de 64 anos, conhecido pela moderação em seu discurso, é ligado ao ex-presidente Akbar Hachemi Rafsandjani, que fez campanha para Rohani -- assim como seu sucessor, Mohammad Khatami.

Em alguns dias, esta "união sagrada" mobilizou grande parte do eleitorado moderado que queria boicotar a votação após a repressão às manifestações realizadas durante as eleições presidenciais de 2009.

Rohani foi vice-presidente do Parlamento e chefe dos negociadores iranianos na questão nuclear entre 2003 e 2005. Foi nesse período que ele ganhou a alcunha de "xeque diplomata".

Em 2003, por ocasião das negociações com Paris, Londres e Berlim, ele já havia aceitado a suspensão do projeto iraniano de enriquecimento de urânio e a aplicação do protocolo adicional ao Tratado de Não-proliferação (TNP), permitindo que as instalações nucleares iranianas fossem inspecionadas.

O posicionamento de Rohani garantiu o respeito dos ocidentais, embora tenha sido acusado de "sucumbir ao charme da gravata e da colônia de Jack Straw", então ministro britânico das Relações Exteriores.

Durante a campanha eleitoral, Rohani disse ser partidário de uma flexibilidade maior para pôr fim às sanções eleitorais pelo polêmico programa nuclear do Irã.

Crítico em relação ao governo de Mahmud Ahmadinejad por sua hostilidade com a comunidade internacional, este sexagenário escolheu como símbolo uma chave que, segundo ele, abre a porta das soluções para os problemas do país.

"Meu governo não será um governo de compromisso e entrega (em matéria nuclear), mas não seremos aventureiros", afirmou, afirmando dar "continuidade ao trabalho de Rafsandjani e Khatami".

Rohani não rejeitou a possibilidade -- "ainda que seja difícil", segundo ele -- de discussões diretas com os Estados Unidos, inimigo histórico da República Islâmica, para solucionar a crise nuclear.

Segundo a Constituição do país, as competências do presidente em matérias específicas, como a energia nuclear, são limitadas pelo líder supremo.

Religioso com o título honorário de Hodjatoleslam (Símbolo do Islã), Rohani usa um turbante branco e uma barba grisalha sempre muito bem feita.

Fervoroso partidário do aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica, antes mesmo da revolução de 1979, Rohani tem um longo passado de cargos políticos.

Deputado entre 1980 e 2000, ele foi eleito membro da Assembleia dos Peritos, órgão que supervisiona o trabalho do líder supremo Ali Khamenei.

Rohani é representante do aiatolá Khamenei no seio do Conselho Supremo da Segurança Nacional.

Mas ele deixou o cargo de secretário do Conselho após a eleição de Ahmadinejad em 2005. Pouco depois, o Irã retomou o o programa de enriquecimento de urânio, provocando críticas da ONU e causando a ira das grandes potências internacionais.

Ele também é membro da Associação do Clero Combatente, que reúne religiosos conservadores.

Mas nos últimos anos, ele se aproximou dos reformistas.

Durante a campanha, contudo, Rohani manteve distância dos candidatos reformistas inconformados com os resultados de 2009, Mir Hossein Mussavi e Mehdi Karoubi, ambos em prisão domiciliar desde 2011.

Originário de Sorkhey, na província de Semnã (sudoeste de Teerã), Rohani é doutor em Direito pela Universidade de Glasgow, na Reino Unido. Ele é casado e tem quatro filhos.