Putin acusa Trump de planejar ataque a Damasco para culpar Assad
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou a repórteres nesta terça-feira (11) que o presidente dos EUA, Donald Trump, planeja bombardear a capital síria, Damasco, e então colocar a culpa no líder sírio, Bashar al-Assad. As declarações foram feitas momentos antes da chegada do secretário de Estado americano, Rex Tillerson, a Moscou para encontro com o chanceler russo, Sergei Lavrov.
"Temos informações de várias fontes que tais provocações --não posso chamá-las de outra maneira-- estão sendo preparadas em outras regiões da Síria, incluindo a periferia de Damasco, onde novamente planejam lançar algum tipo de substância para acusar as autoridades oficiais sírias de tê-las utilizado", afirmou Putin durante coletiva de imprensa.
Putin declarou ainda que o ataque americano à base síria na semana passada o lembrou das alegações sobre a presença de armas de destruição em massa que foram feitas para justificar a invasão do Iraque em 2003.
"Me lembra dos eventos de 2003, quando os enviados americanos ao Conselho de Segurança estavam demonstrando o que eles disseram que eram armas químicas encontradas no Iraque", afirmou Putin. "Já vimos isso. Depois disso começou a campanha militar no Iraque, que terminou com a destruição do país, um aumento da ameaça terrorista e o surgimento do Estado Islâmico na cena internacional."
Os EUA atacaram a base após ter vindo a tona um ataque químico do regime sírio, possivelmente com uso do gás sarin, na província de Idib.
Putin afirmou nesta terça ainda que irá apelar à ONU para que investigue o ataque químico. "Temos intenção de nos dirigirmos oficialmente às correspondentes estruturas da ONU em Haia e pedir que a comunidade internacional investigue minuciosamente esses casos", disse.
"Conversas produtivas"
A Chancelaria russa afirmou que espera "conversas produtivas" com Tillerson nesta terça, mas Putin não deve participar. Segundo nota de três páginas divulgadas previamente ao encontro, as conversas são importantes não apenas para as relações entre Rússia e EUA, mas "para a atmosfera geral do palco mundial".
A declaração diz que as relações entre Rússia e EUA vivem seu momento mais complicado desde o final da Guerra Fria e culpa "a anterior administração dos EUA", a de Barack Obama, por ter feito "todo o possível para piorar as relações" bilaterais.
A Chancelaria não duvidou em acusar a administração Obama tanto da guerra na Síria como do conflito na Ucrânia, dois dos principais temas que serão tratados na reunião de amanhã entre Tillerson e Lavrov.
"As tentativas de culpar a Rússia feitas pelo establishment político americano são uma hipocrisia. Não fomos nós os que provocamos a revolta anticonstitucional na Ucrânia", sublinha a nota.
Moscou afirma que não vai ceder às pressões anunciadas por Washington sobre o apoio a Assad e reiterou que pedirá a Tillerson explicações sobre o ataque dos EUA a uma base área síria.
"A Rússia não vai desistir de seus legítimos interesses e somente aceitará cooperar de igual para igual, algo que nem todo mundo gosta em Washington. Mas estamos abertos a um diálogo mais sincero sobre qualquer questão da agenda bilateral e internacional", diz o comunicado.
A luta contra o terrorismo, a não-proliferação de armas de destruição em massa e a solução de conflitos regionais são alguns dos assuntos nos quais, segundo Moscou, os objetivos dos dois países coincidem.
"Queremos entender durante as conversações se os EUA são conscientes sobre a necessidade de normalizar as relações bilaterais. Acreditamos que a paralisia é inaceitável para sustentar a segurança internacional ", aponta o comunicado.
"Rússia precisa escolher entre EUA e Assad"
Tillerson desembarcou em Moscou por volta das 16h30 locais (10h40 de Brasília). Antes da viagem, durante reunião do G7 em Lucca (Itália), o secretário de Estado disse que a Rússia deve escolher entre se alinhar aos EUA ou à Síria e ao Irã.
Segundo Tillerson, não está claro se a Rússia descumpriu suas obrigações na Síria, ou se foi incompetente. Mas ele afirmou que essas dúvidas "não importam muito para aqueles que morreram". De acordo com ele, o apoio a Assad atrapalhará os interesses a longo prazo da Rússia.
Ele também declarou que os EUA não veem Assad como uma futura liderança para a Síria, sem antecipar, no entanto, como a saída do líder do regime ocorreria.
Tillerson concedeu a declaração em Lucca, na Itália, onde esteve reunido com chanceleres do G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos), além de Turquia, Catar, Jordânia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita --todos eles, de alguma forma, importantes estrategicamente para o conflito na Síria.
G7 descarta novas sanções à Rússia
Apesar das críticas de Tillerson, a reunião do G7 terminou sem um consenso sobre a imposição de novas sanções à Rússia ou à Síria por causa do ataque químico, segundo o ministro das Relações Exteriores italiano, Angelino Alfano.
"Na verdade, não se conseguiu um consenso para novas sanções como instrumento efetivo", afirmou Alfano, em uma coletiva de imprensa em que comentou a proposta de seu colega britânico, Boris Johnson, de punir os responsáveis pelos bombardeios com supostas armas químicas. "É evidente que temos diferentes sensibilidades", admitiu Alfano, enfatizando que o G7 confirmou seu apoio às sanções já existentes.
Os chanceleres concordaram, no entanto, que não há nenhuma solução para a Síria enquanto Assad continuar no poder, segundo o chanceler francês, Jean-Marc Ayrault.
Os participantes da reunião desta terça-feira insistiram que "não há um futuro possível para a Síria com Bashar al-Assad", declarou Ayrault, citando a posição russa. "Não é uma posição agressiva a respeito [do apoio] dos russos, e sim uma mão estendida", insistiu. "Mas já basta (...) temos que sair da hipocrisia e entrar definitivamente no processo político", completou.
"Queremos que a Rússia respalde o processo político para uma resolução pacífica do conflito sírio", afirmou o ministro alemão das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, citado em um comunicado.
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