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Embaixada brasileira em Jerusalém seria importante para Trump, diz Shannon

Thomas Shannon, ex-embaixador americano que veio ao Brasil para uma palestra em SP - Sérgio Lima - 26.out.11/Folhapress
Thomas Shannon, ex-embaixador americano que veio ao Brasil para uma palestra em SP Imagem: Sérgio Lima - 26.out.11/Folhapress

Marcelo Freire

Do UOL, em São Paulo

29/11/2018 17h33Atualizada em 29/11/2018 18h39

O ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Thomas Shannon afirmou que vê com bons olhos a aproximação política do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), com Donald Trump, relação que pode ficar ainda melhor caso o novo governo brasileiro confirme a transferência da embaixada brasileira em Israel para a cidade disputada de Jerusalém.

"Seria uma decisão soberana do Brasil. Para o governo do presidente Trump, seria um avanço bem importante. O Brasil tem uma posição de destaque no mundo árabe pelo seu comércio, especialmente em alimentos. Para o Brasil, tomar esse passo é significativo e seria bem-vindo em Washington", disse Shannon, que participou de uma palestra na Fundação Fernando Henrique Cardoso ao lado do ex-presidente brasileiro --FHC não quis conversar com a imprensa após o debate.

Shannon foi embaixador dos EUA no Brasil entre 2010 e 2013, durante o governo Barack Obama. Depois, o diplomata chegou ao cargo de subsecretário do Departamento de Estado dos EUA e chefiou a pasta durante a transição das gestões Obama e Trump.

A mudança da embaixada brasileira para Jerusalém, seguindo a mesma atitude do governo Trump em maio deste ano, já foi anunciada por Bolsonaro --um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), disse que a transferência é "questão de tempo".

Mas ela poderia enfrentar resistência da ONU (Organização das Nações Unidas) e da maior parte da comunidade internacional, que mantém suas sedes diplomáticas em Tel-Aviv, além de prejudicar a relação diplomática e comercial do Brasil com importantes países da comunidade árabe, solidários com a causa palestina.

Segundo ele, a aproximação entre Trump e Bolsonaro --consolidada no encontro de hoje do presidente eleito com John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA-- é "ótima e importante". "Há uma afinidade política entre Trump e Bolsonaro. E os dois, em suas primeiras comunicações, falaram de forma muito positiva. Estão começando um processo de identificar os objetivos estratégicos que há na relação Brasil e EUA e construir e estruturar o diálogo necessário para realizar os objetivos dos dois governos e identificar. É positivo para Brasil e EUA."

Durante a palestra, chamada “Democracias Turbulentas e Seus Impactos no Sistema Internacional”, Shannon já havia afirmado que “há um sinal claro da prioridade de Bolsonaro em relação aos EUA e, do ponto de vista de Washington, isso não pode ser ruim”. 

Ele também elogiou o novo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, com quem trabalhou na embaixada brasileira em Washington, e não quis comentar as visões pessoais do novo chefe do Itamaraty, que fez críticas ao “globalismo, marxismo cultural, alarmismo climático e a pautas abortistas e anticristãs” em um artigo ao jornal Gazeta do Povo. Sobre o futuro ministro, Shannon simulou que fechava a boca com um zíper e disse apenas: “Ernesto falou, Ernesto explicou”.

Ligação entre Eduardo Bolsonaro e Steve Bannon

O ex-embaixador considerou “um sucesso” a visita de Eduardo Bolsonaro aos EUA, onde ele se encontrou com políticos conservadores e membros do governo Trump, e minimizou a segunda reunião do deputado federal brasileiro com Steve Bannon, figura notória da direita radical norte-americana que lidera um grupo chamado “The Movement” (“O Movimento”) com a proposta de promover pautas conservadoras no mundo.

“Bannon é uma celebridade. É como visitar uma estrela do cinema. Eu entendo por que o Eduardo Bolsonaro quis vê-lo, mas o importante agora, obviamente, é saber o que o governo do presidente Bolsonaro pode fazer no Brasil. É isso que vai determinar seu sucesso como presidente, e não a atuação do país em um movimento político global da direita, que também não é global. O Brasil, assim como os EUA, tem bem definidos os seus desafios e problemas”, declarou.