Sob tensão e mistério, Guaidó arrisca retorno à Venezuela
Resumo da notícia
- Opositor de Maduro, Guaidó promete voltar à Venezuela e liderar governo de transição
- Maduro havia proibido Guaidó de deixar o país. Mas não informou como vai punir o opositor pela desobediência
- Maduro está encurralado: prender Guaidó irritará os EUA; deixá-lo livre, abre espaço para o autoproclamado governo interino
Há 11 dias fora da Venezuela e sob o risco de ser preso pelo governo chavista de Nicolás Maduro, o autoproclamado presidente interino do país, Juan Guaidó, pretende retornar hoje a Caracas -- mas não informa como, nem a partir de onde.
Seu retorno deve desencadear uma crise de proporções desconhecidas e abre uma série de incertezas.
- Se voltar à Venezuela, como promete, Guaidó pode ser preso pelo governo Maduro -- que o acusa de tentar um golpe, com apoio dos EUA.
- Prender Guaidó despertará fúria internacional contra Maduro. Nos últimos dias, Guaidó passou por Brasil, Paraguai, Argentina e Equador e recebeu apoio dos respectivos presidentes. Trump, presidente dos EUA, já disse que "está do lado de Guaidó".
- Mas uma ação dos EUA pode ser o gatilho de uma reação russa, que apoia Maduro, e de Cuba. A China, outro parceiro histórico do Chavismo, tem se mantido quieta.
- Se não for preso, porém, Guaidó vai impor a Maduro uma demonstração de força -- e Maduro, de certo modo, vai expor seu isolamento.
Mistério: onde está Guaidó?
Desde a tarde de ontem, quando Guaidó anunciou pelo Twitter que estava deixando uma base militar no Equador, seu paradeiro não é informado publicamente. Antes, ele passou por Bogotá, Brasília, Assunção, Buenos Aires e Quito.
"Se eu fosse o Guaidó, não diria como estou voltando a Venezuela", disse ao UOL um funcionário do autoproclamado governo Guaidó no Brasil.
Mesmo assim, ele e seus aliados convocaram manifestações em várias cidades do país para as 11h de hoje, no horário local (meio-dia no horário de Brasília).
As possibilidades ventiladas nos últimos dias para o retorno de Guaidó a Caracas vão desde sua chegada por avião a partir de Bogotá ou da Cidade do Panamá, até sua entrada por terra pela fronteira com a Colômbia ou com o Brasil.
Em janeiro, depois de o opositor se declarar presidente interino, a Justiça venezuelana proibiu Guaidó de deixar o país, além de bloquear seus bens e contas bancárias. Mas ele cruzou a fronteira da Colômbia, por meio de uma trilha, no fim de fevereiro, com a esperança (que se mostrou frustrada) de retornar ao país levando ajuda humanitária.
Se o usurpador e seus cúmplices se atreverem a me reter, deixamos uma rota clara, com instruções claras a serem seguidas por nossos aliados internacionais e irmãos do parlamento
Juan Guaidó, na véspera de seu retorno à Venezuela
Na noite passada, em uma transmissão ao vivo feita em local não revelado, Guaidó afirmou que sua eventual prisão seria "um dos últimos erros" de Maduro e tratou a possível detenção como sequestro.
O líder opositor também buscou retratar o governo chavista como fraco e ilegítimo. E se refere ao seu mandato como "constitucional" e respaldado pela comunidade internacional.
Guaidó chegou a afirmar que "a transição é um fato" e promete convocar eleições em breve.
Xadrez político
Apesar da confiança, não está claro qual será o próximo passo da oposição venezuelana após os protestos de amanhã, ou se Guaidó for preso -- o que já aconteceu com pelo menos 600 opositores de Maduro. Em qualquer caso, o desafio será manter a mobilização em seu apoio dentro e fora do país, que esfriou depois do fracasso de pressionar Maduro com a tentativa de levar ajuda humanitária à Venezuela.
Pelo lado chavista, as próximas jogadas deste xadrez também não estão evidentes. Guaidó já teve sua presidência interina reconhecida por mais de 50 países, entre eles o Brasil, e sua prisão poderia intensificar a pressão externa pela queda de Maduro. Os EUA já bloquearam os ativos em solo americano da PDVSA, a estatal petrolífera venezuelana.
Maduro foi reeleito em uma disputa questionada pela comunidade internacional e pela oposição, mas tem conseguido se manter no poder com o respaldo de parte da população e das Forças Armadas -- apesar de a Venezuela sofrer há anos com uma inflação galopante e falta de abastecimento de comida e medicamentos.
O chavista também conta com o apoio de potências como China e Rússia, cujo governo tem dado demonstrações públicas de incômodo com o que julga como uma ingerência americana na Venezuela.
Guaidó é presidente do Parlamento venezuelano e se declarou presidente em janeiro com base em uma interpretação da Constituição local. A legislação diz que, na falta do presidente, assume o chefe do legislativo. Mas Maduro insiste que o presidente é ele.
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