Maduro ignora volta de Guaidó: fala de Carnaval e 6 anos de morte de Chávez
Não se concretizaram as perspectivas de que o regime de Nicolás Maduro pudesse prender ou reprimir o opositor Juan Guaidó, que retornou ontem à Venezuela depois de 11 dias viajando por países vizinhos em busca de apoio.
Conhecido pela verborragia e pelos discursos inflamados, Maduro tem ignorado o retorno de Guaidó, que se autoproclamou presidente do país, enquanto novas eleições são convocadas. Guaidó é reconhecido por mais de 50 países, inclusive o Brasil, com base em um artigo da Constituição da Venezuela que diz que, na falta do presidente da República, assume o presidente do legislativo.
Eleito em um processo sob descrença da comunidade internacional, Maduro não dá sinais de que deixará o poder. Mas também abandonou a postura combativa e acusadora. Pelo Twitter nos últimos dias, falou sobre Carnaval, Dia do Camponês e aniversário da morte de Hugo Chávez -- morto há seis anos.
"Comandante Chávez, se passaram 6 anos de sua semeadura e ainda dói, como ontem, a sua partida. Graças a seus ensinamentos e exemplos, hoje continuamos em luta permanente contra os inimigos que tentaram apagar sua voz tantas vezes. Viverá para sempre em cada vitória!", escreveu Maduro no Twitter.
O aniversário da morte do líder bolivariano também foi lembrado por Cuba, um dos poucos aliados que restam a Maduro.
"Seis anos da sentida ausência do melhor amigo de Cuba. Os filhos da revolução bolivariana hoje rendem tributo, lutando com bravura. Neles, Chávez está vivo, com seu amor e sua coragem", escreveu Miguel Díaz-Canel, que lidera a ilha.
Hugo Chávez morreu em 2013, aos 58 anos, em meio a luta contra o câncer. Maduro, então seu vice-presidente, assumiu o poder interinamente até 2013, quando foi eleito. Em 2018, o chavista foi eleito para um segundo mandato, em pleito considerado fraudulento pela oposição.
Militar, Chávez chegou ao poder pela primeira vez em 1999, após a tentativa de um golpe de estado malsucedido contra o presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez, em 1992.
Chávez governou por 14 anos, até sua morte em 2013. Como político, resgatou ideias de Símon Bolívar, caudilho venezuelano que atuou nas guerras de independência das colônias da América espanhola, no início do século 19.
Chávez defendia a união dos povos latino-americanos contra a influência da política externa dos Estados Unidos. Além disso, levou a cabo reformas socialistas em seu país, com o intuito de promover valores como a igualdade e a solidariedade. Durante seu governo, a pobreza caiu de 49, 4%, em 1999, para 27, 8% em 2010. O petróleo, a maior riqueza da Venezuela, passou a ser estatizado em seu governo.
No entanto, há quem veja a corrupção e o descontrole da economia como os maiores legados chavistas.
A Transparência Internacional, órgão que luta contra a corrupção no mundo, aponta a Venezuela como um dos países menos transparentes do mundo.
Maduro classifica essa percepção como "ataques da oposição" e afirma que nenhum outro governo na história do Venezuela combateu a corrupção com tanto afinco. Para Maduro e seus apoiadores, a grave crise enfrentada pela Venezuela é das agressões imperialistas levadas a cabo pelos EUA, através de pesadas sanções econômicas impostas ao país.
Juan Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela, havia dito que não acreditava que Hugo Chávez apoiaria a Venezuela de Maduro.
"Duvido que Hugo Chávez aceitaria o que Maduro trouxe à Venezuela e à FAN [Forças Armadas Nacionais Bolivarianas]: fome, violência, repressão e medo (...) Depois de tanta destruição, eu me pergunto: aprovaria isso quem acreditava em Chávez? Sua filha Maria Gabriela aprovaria?", escreveu o opositor em seu Twitter.
Homenagens oficiais
Em Caracas, com direito a pompas militares, Maduro discursou na cerimônia em memória de Hugo Chávez e declarou que o ex-presidente da Venezuela é "mais futuro do que qualquer outra coisa".
"São seis anos que se passaram e sua presença hoje é mais vigente do que nunca. Em uma tarde como hoje o vimos partir para a imortalidade. Seis anos de combate que nos fazem sentir muito seguros de que o comandante Chávez semeou em terra fértil, em coração fértil. Aqui estamos, seis anos depois, seu povo, as Forças Armadas Bolivarianas, vitoriosos, em pé, enfrentando uma das maiores batalhas épicas, enfrentando os poderes do imperialismo norte-americano", declarou o ditador.
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