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Olavo diz não aprovar toda ação de Bolsonaro nem ver ideologia consistente

Luciana Amaral

Do UOL, em Washington

16/03/2019 23h51Atualizada em 17/03/2019 13h32

Um dos principais mentores para o presidente Jair Bolsonaro (PSL), Olavo de Carvalho afirmou neste sábado (16) não aprovar todas as ações do mandatário e não enxergar uma ideologia política nele "consistente".

"Claro, claro [que não aprovo tudo o que o Bolsonaro faz]! Eu não conheço todas as suas ideias. Não consigo identificar nele nenhuma ideologia política. Nenhuma ideologia política consistente. Ele tem opinião sobre isso e aquilo. Às vezes ele tá certo, às vezes tá errado", disse.

Antes, Olavo havia dito ser "loucura" achar que, ao se elogiar alguém, imaginar aprovar tudo o que essa pessoa faz. A reportagem do UOL então questionou se isso se aplicava também a Bolsonaro.

De acordo com Olavo, ele não votaria num "cara" pelas suas ideias, mas pela sua consistência humana. Em seguida, disse que Bolsonaro é uma "grande personalidade".

O escritor voltou a dizer que o presidente está cercado de traidores e citou o episódio do MEC (Ministério da Educação) em que pediu para que seus ex-alunos saíssem de cargos da atual administração. Olavo afirmou ter conversado somente duas vezes com o ministro da pasta, Ricardo Vélez Rodríguez. A segunda, conta, para mandar ele "tomar no c*".

Questionado sobre as críticas sobre o vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão (PRTB), Olavo afirmou não criticá-lo, mas desprezá-lo. A reportagem então perguntou se as reiteradas reprovações a Mourão não podem enfraquecer o governo.

Olavo argumentou que Mourão foi eleito sob um "falso pretexto", pois teria fingido apoiar Bolsonaro na campanha eleitoral, o que, ao seu ver, não faz mais.

É um cara estúpido. [...] Ele tá no lado oposto. Ele é pró-aborto, pró-desarmamento, pró-Maduro.

"Ele não tem a menor noção do que é ser vice-presidente. Ele não tem ideia de nada, a não ser da vaidade dele", disse.

Em uma das salas do hotel de luxo Trump Internationalm em Washington D.C., nos Estados Unidos, Olavo recebeu à noite os principais apoiadores de Bolsonaro para a exibição do documentário "O Jardim das Aflições", sobre sua vida e filosofia.

Estiveram presentes o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP); Gerald Brant, articulador de Jair Bolsonaro nos EUA na época da campanha; Steve Bannon, ex-estrategista de Trump; e um dos cotados a assumir a embaixada do Brasil no país, Nestor Forster Junior.

Olavo - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Em determinado momento, a conversa com os jornalistas foi interrompida por Olavo, quando este discordou da forma como foi perguntado por um repórter estrangeiro se o escritor defendia um cartel ao propor uma aliança entre Brasil e Estados Unidos para exportar produtos alimentícios a terceiros. Eles chegaram a subir o tom de voz e apontaram o dedo no rosto de um contra o outro.

Com os ânimos mais calmos e depois de questionar amigos de onde era o "vagabundo", Olavo retomou a conversa com o UOL.

A reportagem pediu que Olavo falasse, qual o maior acerto e o maior erro nos três primeiros meses do governo Bolsonaro, em sua opinião.

Inicialmente, disse não ser capaz de responder. Depois, revelou sua opinião de falha: a comunicação. "A comunicação do governo com o povo está péssima. Isso eu acho. Simplesmente não se comunica. Do Planalto para o povo."

Reciprocidade dos EUA

Ele falou enxergar a visita oficial como fundamental para a retomada de um relacionamento mais profundo do Brasil com os Estados Unidos. Para ele, a maior característica da política externa estadunidense no Brasil nos últimos 40 anos tem sido a "ausência".

Na viagem a Washington, Bolsonaro irá isentar de visto cidadãos dos Estados Unidos, Japão, Canadá e Austrália. Indagado se acredita faltar reciprocidade por parte dos demais, Olavo respondeu que norte-americanos não vão morar no Brasil para "viver ilegalmente roubando".

"Eles vão lá para ser prostitutas, leões de chácara? Vão lá para isso? Distribuidor de droga? Não. Mas alguma reciprocidade tem de ter, alguma é obrigatória. Eu acho que deve ter, mas isso é o máximo que posso dizer", disse.

O evento serviu como um aquecimento ao jantar para convidados conservadores a ser realizado amanhã na Blair House com o presidente. Bolsonaro chega amanhã à cidade para, entre outros compromissos, se encontrar com Trump na terça-feira (19).

Segundo Eduardo Bolsonaro contou ao UOL, ele chegou mais cedo a Washington especialmente para participar da reunião, que depois contou com jantar em sala reservada a convidados no principal restaurante do hotel de Trump.