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Ricupero diz que Bolsonaro foi ingênuo ao apostar todas as fichas em Trump

Ricupero é autor de "A diplomacia na construção do Brasil" -
Ricupero é autor de "A diplomacia na construção do Brasil"

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

10/10/2019 17h51

Resumo da notícia

  • EUA anunciaram apoio de entrada ao Brasil na OCDE, mas processo está parado
  • Hoje, agência de notícias dos EUA disse que Argentina e Romênia receberam apoio
  • Ex-embaixador critica postura do governo atual na política externa

Na avaliação do diplomata e ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, a falta de perspectiva para a entrada do Brasil na OCDE e em outros temas de relações internacionais defendidos por Jair Bolsonaro (PSL) refletem uma política externa "sem resultado" e "ingênua" ao colocar todas as fichas em Donald Trump.

Os presidentes de Brasil e Estados Unidos têm trocado declarações elogiosas em público, e Bolsonaro afirma que inaugura um novo capítulo na relação entre os dois países.

Mas Ricupero, que foi embaixador nos Estados Unidos entre 1991 e 1993, argumenta que o governo norte-americano é extremamente pragmático e só promove seus próprios interesses.

"Já na época da visita tinha comentado que o Brasil tinha aceitado renunciar algo de concreto, que era o estatuto de país em desenvolvimento na OMC [Organização Mundial do Comércio] em troca de promessa vazia. Era de apoio eventual", disse.

Ele acrescenta que a entrada do Brasil na OCDE também não depende apenas da vontade dos Estados Unidos, e que o voto da França e da Alemanha vale tanto quanto o dos estadunidenses.

"Dificilmente vão aprovar a entrada do Brasil. Foi feita uma simplificação para enganar a opinião pública. Não vejo vantagem nenhuma na entrada do Brasil, que já faz parte de mais de 20 comitês da OCDE. A Grécia, país falido, é membro da OCDE há décadas. O preço que se exigiu do Brasil foi exorbitante", falou Ricupero.

Quanto à presença de Eduardo como embaixador, Ricupero acredita que ele não traria benefícios práticos ao Brasil. Já em relação ao acordo Mercosul e União Europeia, enxerga que está "congelado por muito tempo" se o Brasil não mudar a política perante a Amazônia.