Resumo da notícia
- UOL convidou vozes novas e consagradas para um exercício de reflexão
- Sob o mote "Como seria 2020, se em 2019...", os textos revisitam o ano passado e analisam o que chega
- Hoje, o escritor português João Pereira Coutinho analisa o processo de paz entre Israel e Palestina
- Já foram publicados textos sobre as declarações de Bolsonaro, educação e política armamentista
- Amanhã, o escritor Milton Hatoum escreve sobre as queimadas na Amazônia
Se Benny Gantz tivesse vencido com maioria clara as eleições israelenses de 2019, derrotando Benjamin Netanyahu, talvez o processo de paz tivesse uma nova chance em 2020.
Converteu-se em clichê a afirmação fatalista de que o conflito entre israelenses e palestinos não tem solução.
Mas a verdade, a dolorosa e paradoxal verdade, é que todo mundo sabe qual é a solução, pelo menos teoricamente:
- dois estados com fronteiras seguras e reconhecidas;
- Jerusalém como capital dos dois estados;
- e o retorno dos refugiados palestinos das guerras de 1948 e 1967 para um futuro estado palestino, ainda que uma parte desses refugiados, abrigados por programas de reunificação familiar, também pudesse encaminhar-se para Israel.
A juntar ao cardápio clássico, existem duas realidades que normalmente envenenam o processo de paz: o terrorismo do Hamas, ou seja, a relutância do grupo islamita em aceitar a existência do estado de Israel; e a construção de assentamentos na Cisjordânia, alienando território que seria destinado ao futuro estado palestino.
Com Benny Gantz ao leme, todos esses pontos teriam de ser enfrentados de forma sistemática e frontal.
Para começar, Gantz poderia propor uma moratória na construção de assentamentos como prova de boa-fé negocial com a Autoridade Palestina. Mahmoud Abbas, confrontado com tal suspensão, não poderia recusar o convite para o diálogo.
Depois, Gantz retomaria os princípios fundamentais discutidos em Camp David (em 2000) e em Annapolis (em 2007), que permanecem incontornávels até hoje.
Haveria a proposta de um estado palestino na Cisjordânia e em Gaza, dentro das fronteiras pré-1967. Na impossibilidade dos palestinos deterem 100% do território da Cisjordânia, a parcela em falta seria complementada por território israelense junto à Cisjordânia ou à Faixa de Gaza. Não seria de excluir o desmantelamento de alguns assentamentos na Cisjordânia, à semelhança do que Ariel Sharon fez em Gaza em 2005.
Sobre Jerusalém, haveria uma soberania partilhada entre os dois povos — ou, em alternativa, retomar-se-ia o plano de partição da ONU (Organização das Nações Unidas) de 1947, com a Cidade Santa sob supervisão internacional.
No dossiê dos refugiados, Benny Gantz e Mahmoud Abbas chegariam a um compromisso: os refugiados originais de 1948 e 1967, que hoje são uma minoria, poderiam regressar a Israel; os restantes seriam acomodados no futuro estado palestino.
Sobra, porém, uma questão fundamental: como negociar a paz quando uma parte dos palestinos não aceita qualquer negociação com a "entidade sionista"? Por outras palavras: como integrar Gaza nas negociações quando o território é controlado pelo Hamas desde 2006?
Esse problema não é, em rigor, um problema israelense. É um problema que cabe aos palestinos resolver.
Mas nada disso impede que, formalmente, Mahmoud Abbas não tenha autoridade para negociar a paz em nome de todos os palestinos. Uma vez assegurado um estado palestino independente, o processo de isolamento e neutralização do Hamas seria uma etapa posterior.
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