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Ataque do Irã foi ato simbólico no mesmo horário da morte de Soleimani

Qassim Soleimani foi morto por volta de 1h20 de sexta (3), mesmo horário do ataque de terça - Getty Images
Qassim Soleimani foi morto por volta de 1h20 de sexta (3), mesmo horário do ataque de terça Imagem: Getty Images

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

08/01/2020 21h09

Resumo da notícia

  • Ataque do Irã a bases no Iraque foi no mesmo horário da morte do general Soleimani
  • Para especialistas, a tendência, porém, é que o conflito com os EUA diminua

Os ataques com pelo menos doze mísseis balísticos a bases no Iraque utilizadas por militares dos Estados Unidos carregaram uma questão simbólica: o horário que o Irã escolheu para sacramentar o lançamento.

Os relógios marcavam 1h20 da manhã desta quarta-feira (aproximadamente 19h20 de terça, 7, no Brasil) em Bagdá quando os mísseis atingiram as bases militares. Esse é o mesmo horário da morte do general Qasem Soleimani, ocorrida na semana passada, segundo o governo do país persa.

Soleimani —considerado pelo povo iraniano um herói de guerra e, agora, um mártir da revolução islâmica— foi atacado por um drone enquanto estava dentro de um carro nas adjacências do aeroporto de Bagdá. A agência iraniana Irna confirmou, em reportagem que divulgava a retaliação nas bases do Iraque, que o ataque foi no mesmo horário que o general foi assassinado.

"O porta-voz do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica disse, na quarta-feira (8), que o Irã atingiu a base aérea dos Estados Unidos de Ain Assad no Iraque à 1h20, exatamente no mesmo horário em que as forças americanas assassinaram o grande comandante e tenente-general Qasem Soleimani.", diz o texto.

"Ato simbólico"

O professor de Relações Internacionais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Maurício Santoro afirma que o ataque realizado pelos iranianos neste caso foi "muito específico" e que o horário escolhido teve direta relação com a morte de Soleimani.

"Foi um ato simbólico", diz Santoro ao UOL. Também professor de Relações Internacionais da Uerj, Paulo Velasco corrobora: "A ideia era fazer coincidir com a hora exata do assassinato do general."

"Relaxamento de tensões"

A despeito das ainda pouco conclusivas consequências desta resposta do Irã, para os especialistas ouvidos pela reportagem, a tendência é de arrefecimento do conflito. Hoje, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou em entrevista coletiva que o conflito está "se acalmando" e que deve impetrar sanções econômicas ao país persa.

"Nenhuma vida americana ou iraquiana foi perdida por causa das precauções que nós tomamos para dispersar as forças", declarou Trump. "Desde 1999, as nações têm tolerado as ações de desestabilização do Irã no Oriente Médio. Esses dias acabaram. O Irã andou procurando obter armas nucleares e ameaçando o mundo civilizado. Não vamos permitir isso".

Para Santoro, o pronunciamento de Trump foi indicativo de um "relaxamento de tensões" entre os dois países. Acredito que o discurso de hoje foi um sinal de contenção da escalada que vimos nos últimos dias. O conflito entre EUA e Irã permanece, mas sem o risco imediato de guerra", diz o professor.

"O mais importante, a meu ver, é que os EUA interpretaram como uma retaliação de menor envergadura. O presidente estadunidense afirmou hoje que o Irã parece estar buscando reverter a escalada do conflito", diz ao UOL a professora Layla Dawood.

Dawood, que é professora de Relações Internacionais da UERJ e coordenadora do programa de pós-graduação no mesmo âmbito, corrobora com a posição de que, no momento, há um pendor para a que a crise entre Irã e EUA diminua.

"Não é possível ter certeza da real intenção do Irã. Mas a interpretação dos EUA, demonstrada pelo pronunciamento do presidente Trump de hoje, indica uma possível tendência de melhoria da crise"
Layla Ibrahim Abdallah Dawood, professora de Relações Internacionais da UERJ

Hoje, porém, novos registros de ataques foram registrados. Dois foguetes Katyusha atingiram a Zona Verde de Bagdá. O incidente ocorreu pouco depois da meia-noite do horário local (18h, horário de Brasília). "Não há relatos de feridos", afirmou o comando militar.

A Zona Verde é a região de Bagdá que abriga prédios governamentais, missões estrangeiras e o Parlamento iraquiano. Este seria o terceiro ataque à região desde que os Estados Unidos utilizaram um drone em ação militar que resultou na morte do general iraniano Qassem Soleimani, há cinco dias.

Segundo a agência Reuters, fontes policiais afirmaram que um dos foguetes caiu a cerca de 100 metros da embaixada dos Estados Unidos. Ainda não há informações sobre a origem dos foguetes.

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AFP