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EUA proíbem entrada de viajantes vindos do Brasil por causa da covid-19

Do UOL, em São Paulo

24/05/2020 18h23Atualizada em 25/05/2020 00h26

Os Estados Unidos anunciaram hoje a proibição da entrada de estrangeiros vindos do Brasil em seu território. A medida é válida para viajantes que não são norte-americanos e foi tomada após o Brasil se tornar o segundo país com maior número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus.

"O potencial de transmissão não detectada do vírus por indivíduos infectados que tentam entrar nos Estados Unidos oriundos do Brasil ameaçam a segurança do nosso sistema de transporte e infraestrutura e a segurança nacional", afirma o texto assinado pelo presidente Donald Trump.

Segundo secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, as novas restrições visam garantir que estrangeiros não aumentem o número de infecções no país, que hoje é o mais afetado pela doença e tem 1.639.872 casos oficiais e 97.672 mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins.

A decisão não afeta o fluxo comercial entre os países, e se baseia em avaliação do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos de que o Brasil "enfrenta uma transmissão generalizada e contínua de pessoa para pessoa"

Não quero as pessoas vindo até aqui e infectando o nosso povo. E também não quero pessoas doentes lá. Estamos ajudando o Brasil com ventiladores... O Brasil está enfrentando problemas, não há dúvidas sobre isso."
Donald Trump, presidente americano, sobre o Brasil

A expectativa para o anúncio da medida começou na última terça após uma fala de Trump. Naquele dia, o Brasil tinha 271.885 casos e 17.983 mortes confirmadas. Neste domingo, o Ministério anunciou 363.211 casos confirmados e 22.666 óbitos em decorrência da doença.

A decisão vale para cidadãos não americanos que visitaram o Brasil nos últimos 14 dias, período de incubação do novo coronavírus. Portadores de green card, documento que garante residência permanente no país, familiares de norte-americanos e membros de tripulação dos voos poderiam ser exceções à regra.

Hoje, Robert O'Brien, um assessor do presidente Donald Trump já havia falado a uma emissora norte-americana sobre a possibilidade do veto, confirmado agora. "Esperamos que seja temporário, mas, devido à situação no Brasil, vamos tomar todas as medidas necessárias para proteger o povo americano", disse.

Os Estados Unidos já interromperam viagens a partir da China, Europa e Reino Unido à medida que o vírus se espalhava nessas áreas.

A decisão de proibir a entrada de viajantes vindo do Brasil começou a tomar forma na sexta, quando O'Brien já anunciara que muitas agências de seu país estavam analisando a situação brasileira.

Embaixada esclarece decisão

A embaixada dos EUA em Brasília divulgou nota em que afirma que o país mantém "uma forte parceria com o Brasil e trabalhamos em estreita colaboração para mitigar os impactos socioeconômicos e de saúde da covid-19 no Brasil".

A nota esclarece que a decisão não restringe voos do Brasil para os EUA e entra em vigor às 00h59 em 28 de maio, mas não se aplica a pessoas a bordo de voos programados para chegar nos EUA que tenham partido antes das 00h59 em 29 de maio. A proclamação não restringe a capacidade de cidadãos norte-americanos, residentes permanentes legais ou indivíduos que se enquadrem em alguma das exceções listadas de viajar para os EUA, diz o texto.

"Conforme declarado na proclamação, o presidente determinou que as viagens irrestritas de brasileiros ou quaisquer estrangeiros vindo do Brasil, devido ao potencial de transmissão não detectada do vírus por indivíduos infectados podem contribuir para o aumento dos casos da COVID-19 nos EUA."

Ernesto Araújo anunciou doação de respiradores hoje

Pouco antes do anúncio feito pela Casa Branca, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, anunciou em suas redes sociais que conversou com representantes do país norte-americano que lhe informaram da doação de 1.000 respiradores ao Brasil. Não foi estipulada uma data para a chegada dos equipamentos.

Em 1º de abril, o ministro brasileiro afirmou, em entrevista coletiva, que Trump havia antecipado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sobre o combate à pandemia: "O presidente Trump se colocou à disposição para cooperação com o Brasil no que for necessário, na parte de de logística e parte médica, o que pode ser muito importante dada as capacidades dos Estados Unidos", afirmou.

O Ministério das Relações Exteriores enviou ao UOL nota reforçando que os países "têm mantido importante cooperação bilateral no combate à covid-19".

"A decisão do governo dos Estados Unidos de suspender temporariamente a entrada de viajantes provenientes do Brasil, anunciada hoje, tem teor idêntico a medidas anteriores que suspenderam a entrada de viajantes de outros países afetados pelo Covid-19, como China, Irã, Reino Unido e Irlanda, bem como os países que fazem parte do Espaço Schengen da União Europeia."

Segundo o Itamaraty, a decisão baseou-se em "critérios técnicos" que levam em conta uma combinação de fatores tais como os casos totais, tendências de crescimento, volume de viagens, entre outros e tem "o mesmo propósito de medida análoga já adotada pelo Brasil em relação a cidadãos de todas as origens, inclusive norte-americanos, e de medidas semelhantes tomadas por ampla gama de países".

Assessor da Presidência diz que há "histeria" da imprensa

Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Filipe Martins foi um dos primeiros membros do governo Bolsonaro a se pronunciar sobre o anúncio.

Segundo ele, o país segue "parâmetros quantitativos previamente estabelecidos". "Não há nada específico contra o Brasil", escreveu em uma rede social citando "histeria" da imprensa.

Em nota, Júlio Serson, secretário de Relações Internacionais do Governo de São Paulo, comentou a decisão e afirmou estar em contato com as autoridades consulares para " reduzir os impactos dessa medida sobre os brasileiros que, por motivos profissionais ou familiares, precisam se deslocar para os Estados Unidos, e garantir que os fluxo de comércio seja mantido."

"Em São Paulo, estamos agindo com a responsabilidade que a situação requer, com respaldo na ciência e na medicina. Salvo em situações excepcionais, nossa recomendação segue sendo, a todos que puderem, fiquem em casa para conter a transmissão do vírus. Toda viagem não essencial deve ser evitada."

Já a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), criticou a reação de parte do governo: "O governo tenta minimizar a porta fechada por Donald Trump ressuscitando a conversa sobre doação de respiradores para o Brasil. Não há nada confirmado e sequer uma data prevista para a entrega".

Trump já havia falado sobre a crise no país

Em 28 de abril, o presidente americano já havia citado que considerava banir a entrada de pessoas vindas do Brasil em seu país. Em uma reunião om o governador da Flórida, Ron DeSantis, o republicano disse que o governo está "olhando muito de perto" para o assunto da testagem. O Brasil é um dos países que menos aplica testes em sua população no mundo.

"O Brasil tem praticamente um surto, como vocês sabem (...) se você olhar os gráficos você vai ver o que aconteceu infelizmente com o Brasil. Estamos olhando para isso bem de perto", disse Trump à época.

No mesmo dia, Jair Bolsonaro reagiu à possibilidade de veto: "Eu não concordo com nada nem discordo. O que ele [Trump] achar que tem que fazer no país dele, ele faz", disse.

Dois dias depois, o americano voltou a tratar do cenário brasileiro em coletiva de imprensa.

"Eu odeio dizer, mas o Brasil está muito alto, o gráfico está muito, muito alto. Lá em cima, quase vertical", afirmou o americano, que seguiu: "O presidente do Brasil é realmente um bom amigo meu, um ótimo homem, mas eles estão vivendo um momento muito difícil".

Durante entrevista à GloboNews na noite de hoje, o ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, comentou a decisão norte-americana reafirmando a gravidade da situação da pandemia no país:

"É difícil dizer o que passa na cabeça do presidente Trump, mas o Brasil entra naquela fase onde a doença está crescendo rápido. Por uma medida de segurança, ele pode estar fazendo isso. Como ele não sabe onde isso vai acabar, não sabe qual é o impacto, o Brasil hoje passa a ser um dos principais problemas em relação à covid. Eu acredito que ele veja nisso uma tentativa de proteger por não saber como o Brasil vai evoluir. Eu não consigo ver nada que seja diferente disso. A gente sabe que é grave, ninguém está achando que não é. É claro que é grave a situação".

Conselho de Segurança dos Estados Unidos comenta decisão

O Conselho Nacional de Segurança (NSC) dos Estados Unidos usou suas redes sociais para comentar a decisão.

"O Brasil é um dos nossos parceiros mundiais mais fortes. Donald Trump implementou restrições temporárias a estrangeiros vindos do Brasil para a proteção compartilhada de nossas populações contra a covid-19, similares às restrições já adotadas em relação a outros países", diz o texto.

"A administração doará 1.000 ventiladores para ajudar o Brasil em suas necessidades médicas. Os Estados Unidos reconhecem os fortes esforços que o governo brasileiro tem tomado e irão brevemente fortalecer nossa parceria na Defesa e no comércio."