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Políticos colocam protestos antirracistas na agenda eleitoral dos EUA

Gabriela Sá Pessoa

Do UOL, em São Paulo

09/06/2020 01h30

Gestos de membros do partido democrata nos últimos dias começam a delinear a influência política que a onda de protestos antirracistas, desencadeada pelo assassinato de George Floyd, terá nas eleições presidenciais americanas, marcadas para o segundo semestre deste ano.

Nesta segunda-feira (8), o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, se reuniu por mais de uma hora com a família de Floyd em Houston, no Texas, no funeral aberto ao público que acontece desde ontem na cidade onde ele cresceu. Segundo o site TMZ, Biden gravará uma mensagem em vídeo, que será transmitida amanhã no memorial, mas não deve retornar ao local.

Houve repercussão também em Washington. Um grupo de parlamentares democratas — entre eles a presidente do Congresso, a senadora Nancy Pelosi — se ajoelhou, em uma homenagem de 8 minutos e 46 segundos de silêncio a Floyd. Esse tempo é o mesmo em que um policial branco pressionou com os joelhos o pescoço do ex-segurança, até matá-lo por asfixia em 25 de maio.

Nos bastidores, congressistas do partido Democrata articulavam propor um pacote de leis para combater a violência policial e a injustiça racial no país. Ainda não se sabe se a proposta terá o apoio dos republicanos, que controlam o Senado, e do presidente Donald Trump.

Ao menos um senador republicano indica estar se aproximando da causa: Mitt Romney publicou em seu Twitter uma foto que o mostrava numa manifestação em direção à Casa Branca, com a legenda "black lives matter".

Enquanto isso, o pessimismo cresce entre os apoiadores do partido de Trump. Uma pesquisa da Reuters/Ipsos mostrou que 46% dos norte-americanos que se identificam como republicanos pensam que o país está no caminho certo.

É a primeira vez que esse percentual fica tão baixo desde agosto de 2017, quando aconteceram protestos de supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia. Desta vez, o presidente dos EUA enfrenta uma crise tripla: as mortes provocadas pela pandemia de coronavírus, desaceleração econômica e o avanço de protestos contra o racismo e a brutalidade policial.

Protestos em diversas cidades americanas ao longo do final de semana continuaram reunindo milhares de pessoas em defesa de pautas antirracistas. Na Filadélfia, um casal de noivos aproveitou a manifestação para celebrar o próprio casamento.

As manifestações, em geral, foram pacíficas, numa trégua após uma semana marcada pela violenta repressão policial aos atos.

Em Minneapolis, onde Floyd foi morto, os manifestantes expulsaram o prefeito da cidade, o democrata Jacob Frey, de um ato em uma cena digna da série "Game of Thrones". Segundo jornais locais, Frey se manifestou contra retirar investimentos da polícia.

Milhares também continuaram ocupando as ruas da Europa no final de semana contra a violência policial praticada contra a população negra.

Na Inglaterra, a estátua de um traficante de escravos foi derrubada e atirada em um rio em Bristol. Na capital Londres, a cantora pop Madonna engrossou os protestos. Ela apareceu discretamente ao lado de manifestantes usando muletas, em razão de uma lesão no joelho que sofreu neste ano.