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Senadora trans, ativista negra: o que há de inédito nas eleições nos EUA

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo*

04/11/2020 13h39Atualizada em 04/11/2020 16h10

Para além da disputa apertada entre Donald Trump e Joe Biden na corrida pela Casa Branca, as eleições americanas deste ano devem ficar marcadas pelo ineditismo entre os nomes escolhidos pelos cidadãos para ocupar cadeiras nas assembleias legislativas estaduais.

Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, o país terá uma senadora estadual transgênero, uma congressista ativista do movimento Black Lives Matter, uma congressista abertamente alinhada ao movimento QAnon, um congressista negro assumidamente gay e um congressista de apenas 25 anos, que será o republicano mais jovem a assumir o posto, em janeiro de 2021.

Nas eleições gerais, além de votar para o cargo de presidente, os americanos também renovam toda a sua Câmara dos Representantes e ainda elegem 35 dos seus 100 senadores. Nos Estados Unidos, além do Senado Federal, há o Senado estadual na maioria dos estados. Os representantes são eleitos para mandatos de quatro anos.

Saiba mais sobre cada um dos políticos eleitos a seguir:

Sarah McBride, senadora estadual transgênero

Sarah McBride, primeira senadora transgênero eleita nos Estados Unidos - Divulgação - Divulgação
Sarah McBride, primeira senadora transgênero eleita nos Estados Unidos
Imagem: Divulgação

A democrata Sarah McBride será a primeira senadora estadual transgênero da história dos Estados Unidos. A ativista de 30 anos conquistou a cadeira em Delaware ao vencer o republicano Steven Washington com 86% dos votos.

McBride estagiou na Casa Branca durante o governo de Barack Obama e fez história na Convenção Nacional Democrata de 2016, ao se tornar a primeira pessoa trans a falar em uma convenção de partido importante no país.

Atualmente, ela é secretária de imprensa nacional da organização de direitos civis LGBTQ+ Human Rights Campaign. McBride comemorou a conquista da cadeira para o Senado estadual na noite de ontem, nas redes sociais: "Conseguimos. Vencemos a eleição geral. Obrigada, obrigada, obrigada", escreveu.

Cori Bush, congressista ativista do Black Lives Matter

Ativista do Black Lives Matter, Cori Bush é também a primeira mulher negra a representar Missouri no Congresso - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Ativista do Black Lives Matter, Cori Bush é também a primeira mulher negra a representar Missouri no Congresso
Imagem: Reprodução/Instagram

A democrata Cori Bush será a primeira ativista do movimento Black Lives Matter a chegar ao Congresso dos Estados Unidos, em janeiro de 2021. A eleição da congressista acontece após um ano marcado por protestos liderados pelo movimento contra o racismo e a brutalidade policial no país americano.

Hoje com 44 anos, ela é enfermeira e já foi sem-teto. Cori Bush é também a primeira mulher negra a representar o estado do Missouri no Congresso. Ela faz parte da ala mais progressista do Partido Democrata. Com 78,9% dos votos, a democrata derrotou o republicano Anthony Rogers, que teve apenas 19%.

"Para todos que ficaram de fora, os esquecidos, marginalizados e deixados de lado. Este é o nosso momento", escreveu nas redes sociais. "Nós nos reunimos para encerrar uma dinastia familiar de 52 anos. É assim que construímos a revolução política".

Marjorie Taylor Greene, congressista apoiadora do QAnon

Nas redes sociais, Marjorie Taylor Greene se apresenta como contrária ao aborto, pró-armas e pró-Trump - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Nas redes sociais, Marjorie Taylor Greene se apresenta como contrária ao aborto, pró-armas e pró-Trump
Imagem: Reprodução/Facebook

A republicana Marjorie Taylor Greene, que garantiu uma vaga na Câmara pelo estado de Geórgia, é a primeira congressista eleita abertamente alinhada ao QAnon, movimento que promove teorias de conspiração de extrema-direita.

Formado em fóruns de internet, o grupo é classificado pelo FBI como possível ameaça de terrorismo doméstico. Entre as teorias do movimento, há a ideia de que o mundo é dirigido por uma organização de pedófilos satânicos que conspiram para derrubar o presidente Donald Trump.

Greene tem 46 anos e já se declarou favorável ao QAnon em vídeos publicados no Youtube. Apesar disso, ela buscou se afastar da imagem vinculada ao grupo ao longo da campanha. A congressista eleita também já se mostrou contrária ao aborto e favorável ao porte de armas e à existência de um muro na fronteira entre Estados Unidos e México.

Ritchie Torres, congressista negro assumidamente gay

Ritchie Torres, primeiro congressista negro, latino e assumidamente gay a ser eleito nos EUA - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Ritchie Torres, primeiro congressista negro, latino e assumidamente gay a ser eleito nos EUA
Imagem: Reprodução/Facebook

O democrata Ritchie Torres é o primeiro membro negro, latino e assumidamente gay a ser eleito no Congresso, pelo estado de Nova York. Ele dedicou o feito à sua comunidade no Bronx.

"O Bronx é a minha casa, é o que me fez quem sou, e é pelo que lutarei no Congresso. Agradeço aos eleitores, do fundo do meu coração, pela confiança que depositaram em mim", disse Torres.

Até a conclusão oficial da apuração dos votos, é possível que outro candidato democrata do mesmo estado compartilhe com Torres a marca de primeiros congressistas negros homossexuais. Trata-se de Mondaire Janes, que de acordo com as apurações parciais trava uma disputa apertada pelo posto com a candidata republicana Maureen McArdle Shulman.

Madison Cawthorn, o mais jovem congressista republicano

Aos 25 anos, Madison Cawthorn será o mais jovem entre os congressistas que tomarem posse em 2021 - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Aos 25 anos, Madison Cawthorn será o mais jovem entre os congressistas que tomarem posse em 2021
Imagem: Reprodução/Facebook

Com apenas 25 anos, Madison Cawthorn será o republicano mais jovem da história a assumir um cargo no Congresso, em janeiro de 2021. Eleito pelo estado da Carolina do Norte, Cawthorn também será o político mais novo entre os congressistas que assumirão seus postos no ano que vem.

O republicano completou 25 anos —idade mínima para se candidatar a um cargo no Congresso— em agosto deste ano. Ao longo da campanha, ele foi acusado de racismo. Em outubro, uma página de seu site acusava um jornalista de trabalhar com "homens não brancos, como [o senador], que visa arruinar homens brancos". Cawthorn sempre negou as acusações de racismo.

Também vieram à tona fotos em que ele aparece junto a uma bandeira que se tornou símbolo favorito entre apoiadores da extrema-direita. Ontem, quando os resultados parciais indicavam a sua eleição, Cawthorn escreveu nas redes sociais: "chora mais, lib", em alusão aos progressistas.

*Com agências internacionais