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Com recontagem na Geórgia, Pensilvânia vira principal estado para Biden

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

06/11/2020 18h53

Cenário de uma das principais viradas de Joe Biden, a Pensilvânia tornou-se a protagonista da apuração da eleição americana na tarde desta sexta (6). Com 20 delegados, o estado é tudo que o democrata precisa para ultrapassar a cota mínima e ser eleito presidente dos Estados Unidos com 273 votos no colégio eleitoral.

A vantagem do democrata sobre o atual presidente Donald Trump já ultrapassa os 14 mil votos.

Quinto estado com mais votos junto a Illinois, a Pensilvânia começou a eleição vermelha (cor republicana) e está cada vez mais azul (democrata). Com o anúncio de recontagem na apertada Geórgia e a indefinição em Arizona e Nevada, é para lá que a campanha de Biden passou a olhar e comemorar

A história de uma virada

Por decisão estadual, os centros de apuração na Pensilvânia só começaram a apurar os votos enviados pelo correio depois da contagem dos votos presenciais. Isso fez com que Trump despontasse à frente na noite da eleição (terça, 3).

O presidente desestimulou publicamente que republicanos votassem pelo correio em diversas situações. Não coincidentemente, quando esses votos passaram a ser contabilizados, no início da madrugada de quarta (4), a diferença entre ele e Biden — que chegou a ser de quase 700 mil votos — começou a diminuir.

Ainda assim, durante toda a quarta-feira, a Pensilvânia parecia uma certeza republicana. No meio da tarde, com 76% das urnas no estado apuradas, a diferença consistia em sólidos 580 mil votos de vantagem para Trump.

A partir dai, segundo estima a CNN, Biden passou a abocanhar 74% dos votos. No início da tarde de quinta (5), com 89% de apuração, a vantagem de Trump já tinha caído para 165 mil. Assim foi durante toda a madrugada. Na manhã desta sexta, Biden ultrapassou o republicano.

Uma possível vitória no estado deixaria Biden com 273 delegados — três a mais do que o mínimo necessário para ser eleito. Com 96% das urnas apuradas, este cenário está cada vez mais consolidado.

Agora é Biden quem tem uma vantagem de mais de 14 mil votos sobre Trump, de acordo com o The New York Times. Confirmado, ele poderia perder em todos os outros.

A muralha azul

Não são só os 20 delegados que atraem os olhares democratas para lá. A Pensilvânia tem uma importância histórica para o partido. O estado compõe a chamada "muralha azul", que limita seu reduto no nordeste dos Estados Unidos.

Trump quebrou essa barreira com uma vitória de pouco mais de 40 mil votos sobre Hillary Clinton em 2016. Foi a primeira vez que um republicano ganhou lá em quase 20 anos — o último havia sido George Bush, o pai, em 1988.

Recuperar o local indica um retorno dos democratas a estados com que podiam contar nas últimas décadas — como o Michigan, que, antes de Trump levar em 2016, também não via uma vitória republicana desde os anos 1980. Agora, voltou a ser pintado de azul.

Além disso, a Pensilvânia é a terra natal de Biden — embora seu reduto eleitoral seja o vizinho Delaware, por onde foi senador por 36 anos — e onde ele passou seus últimos dias de campanha. Em Scranton, cidade onde nasceu, ele vence Trump por oito pontos percentuais.

Os protestos de Trump

A campanha de Trump previa uma reação democrata no estado e tentou, na quarta, interromper a contagem dos votos por correio reclamando que o estado permitiu contar votos que chegassem até três dias depois da votação, esta sexta.

O pedido de interrupção foi negado pela justiça estadual, mas o presidente não deixou por isso mesmo. Após a virada, foi ao Twitter falar mal da Filadélfia, maior cidade do estado, onde Biden vence por 80%.

"A Filadélfia tem um histórico podre de integridade eleitoral", acusou Trump em seu Twitter. Após as declarações falsas do presidente sobre fraude, a cidade foi também foco de protestos de apoiadores nos centros de votação.

Os Estados Unidos não têm um órgão oficial que divulga, em tempo real, os resultados das urnas, como o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no Brasil. Por isso, as agências de notícias e veículos de comunicação como AFP, AP e Fox fazem extrapolações estatísticas e apontam os vencedores por estado. A AFP chegou a considerar definida a apuração do Arizona — e Joe Biden somava mais 11 votos até a manhã desta quinta-feira (5). A contagem de votos continua no estado.