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Ocidente não é capaz de avaliar caso do Afeganistão, diz embaixador

Do UOL, em São Paulo

27/08/2021 08h56Atualizada em 27/08/2021 10h18

O embaixador do Brasil no Paquistão, Olyntho Vieira, acredita que o ocidente não é capaz de avaliar os reais impactos do avanço do Talibã no Afeganistão. O premiê também detalhou na manhã de hoje, em entrevista ao UOL News, como a embaixada tem trabalhado para retirar brasileiros do território afegão.

Nós estamos diante de uma situação em que nós, ocidentais, não necessariamente temos capacidade de avaliar como as coisas se processam. Por mais que estejamos atentos e procuremos estudar como funciona o pensamento local. É muito difícil
Olyntho Vieira

Ao ser questionado pelo colunista do UOL, Josias de Souza, sobre a expectativa do que poderá ocorrer no Afeganistão após a retirada total das tropas dos EUA, o embaixador respondeu que "é difícil prever".

"Era, de certa forma, de acreditar que haveria uma situação de pânico. Por mais que procuremos analisar e racionalizar o quadro, é muito dificil de entender ou prever como uma multidão acabará se comportando", explicou o embaixador.

Vieira disse ainda que interlocutores locais o informaram que a nova geração do Talibã, marcada por um intervalo de 20 anos entre a saída e a retomada ao poder do Afeganistão, foi criada sobre a influência dos EUA, sendo alguns dos extremistas fluentes em inglês.

Esse cenário, conforme recordou o embaixador, não era visto na primeira leva de extremistas, que avançaram no Afeganistão na década de 1990.

A respeito da retirada de brasileiros do país, o embaixador declarou que há um certo grau de "confusão" apesar do empenho em retirá-los do país. A confusão, segundo Olyntho, é referente a comunicação com a região.

Para ilustrar o caso, ele citou que uma família de brasileiros, retirada ontem do Afeganistão, deveria embarcar para a Alemanha. No entanto, os brasileiros embarcaram em um avião rumo à Espanha. "As pessoas estão embarcando como conseguem", explicou.

"Retiramos uma família de brasileiros do Afeganistão e mais duas aguardam saída", detalhou Olyntho.

Mais retiradas

Dados da Casa Branca dos Estados Unidos estimam que 100 mil cidadãos norte-americanos conseguiram deixar o Afeganistão. Com o resgate feito ontem à noite, o governo dos EUA subiu esse número em mais 5 mil pessoas, ou seja, 105 mil fugiram do país desde 14 de agosto.

Já o Ministério da Defesa do Reino Unido atualizou a quantidade de cidadãos que saíram do país para 14 mil, também desde o meio de agosto.

Entretanto, os resgates do Reino Unido estão cada vez menos frequentes, porque o país está se preparando para deixar o Afeganistão de vez no dia 31. Essa foi a data limite estipulada pelo Talibã para que as tropas e nações ocidentais saíssem do território tomado pelo grupo.

A organização extremista ascendeu ao poder em meados de agosto e tomou a capital afegã Cabul. A ação foi feita dias depois das tropas norte-americanas começarem a deixar o país, movimento que foi seguido por outras regiões ocidentais, como Reino Unido.

Atentado no aeroporto

Ontem, pelo menos 108 pessoas morreram, dentre elas 13 militares dos EUA, e 160 ficaram feridas em ataques feitos nos arredores do aeroporto de Cabul. O atentado foi reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram o pânico: dezenas de vítimas, mortas ou feridas, deitadas nas águas sujas de um canal de drenagem e cercadas por socorridas à beira do colapso. Homens, mulheres e crianças correram em todas as direções, apavorados, para tentar fugir do local das explosões.

O governo dos Estados Unidos explicou que os ataques de quinta-feira foram executados por dois homens-bomba do grupo extremista e que também aconteceu um tiroteio. O presidente Joe Biden disse que o país não perdoará e não esquecerá o ocorrido ontem.

O atentado, que provocou uma condenação mundial unânime, também confirmou os temores expressados por vários países ocidentais, que haviam recomendado a seus cidadãos que se afastassem do aeroporto.

O Talibã, por meio do porta-voz Zabihullah Mujahid, condenou de maneira veemente o ataque, mas afirmou que "aconteceu em uma área onde as forças americanas são responsáveis pela segurança".

O aeroporto de Cabul se tornou um ponto de muito movimento com a tomada do poder pelo Talibã. Isso porque cidadãos, diplomatas, jornalistas e ativistas de direitos humanos tentavam escapar o mais rápido possível do país por medo de retaliações do grupo extremista.

Talibã x Estado Islâmico

Sob o nome de EI-K (Estado Islâmico Khorasan), o grupo extremista reivindicou alguns dos ataques mais violentos executados no Afeganistão nos últimos anos, que deixaram dezenas de mortos, especialmente entre os muçulmanos xiitas.

Embora os dois grupos sejam sunitas radicais, EI e o Talibã são inimigos e expressam um ódio visceral mútuo.

Quando Estados Unidos e os talibãs assinaram em 2020 um acordo para estabelecer as diretrizes da retirada das tropas estrangeiras, o EI os acusou de abandonar a causa jihadista.