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Kremlin: retirada militar russa da fronteira com a Ucrânia levará tempo

Trem com tropas e veículos militares da Rússia fizeram chega para exercícios em Belarus - Ministério da Defesa de Belarus/AFP
Trem com tropas e veículos militares da Rússia fizeram chega para exercícios em Belarus Imagem: Ministério da Defesa de Belarus/AFP

Colaboração para o UOL, em São Paulo*

17/02/2022 09h08Atualizada em 17/02/2022 09h36

A Rússia anunciou nesta quinta-feira (17) que iniciou a retirada de mais tropas da fronteira com a Ucrânia, enquanto o governo dos Estados Unidos insiste que Moscou continua reforçando o contingente para uma possível invasão da ex-república soviética.

"O ministro da Defesa anunciou que algumas fases dos exercícios estão chegando ao fim, e que os militares retornarão a suas bases pouco a pouco", declarou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

"É um processo que levará algum tempo", explicou.

Desde terça-feira (15), as autoridades russas anunciam a retirada de parte dos militares e dos equipamentos estacionados na fronteira Rússia-Ucrânia e na Crimeia, uma península ucraniana anexada por Moscou.

Hoje, o ministério da Defesa russo também afirmou que mais unidades estavam deixando a Crimeia e divulgou imagens de um trem militar com caminhões entrando na Rússia continental, depois de atravessar a ponte que cruza o estreito de Kerch.

"As unidades do distrito federal do Sul que terminaram sua participação em manobras táticas nas bases da península da Crimeia estão voltando para suas bases em trem", comunicou hoje o ministério da Defesa russo às agências de notícias.

O ministério também informou a retirada de blindados e tanques, sem revelar de onde partiram e para onde seguem os equipamentos.

Anúncio de retirada

Na terça-feira (15), a Rússia anunciou que algumas unidades militares posicionadas na fronteira com a Ucrânia, cuja presença provocava o temor de uma operação militar iminente no país vizinho, começaram a retornar aos quartéis. O presidente russo Vladimir Putin não explicou o tamanho das retiradas, nem o calendário das mesmas.

"As unidades dos distritos militares Sul e Oeste, que já concluíram suas tarefas, começaram a carregar equipamentos para o transporte ferroviário e rodoviário e começarão o retorno para seus quartéis", afirmou o porta-voz do ministério da Defesa, Igor Konashenkov, citado por agências de notícias russas.

O Kremlin confirmou o início da retirada das tropas estacionadas na fronteira com a Ucrânia, ressaltando que é algo "normal" e denunciando, mais uma vez, a "histeria" ocidental diante de uma suposta invasão do país vizinho.

O anúncio de terça-feira foi o primeiro sinal de distensão por parte de Moscou, mas a informação ainda foi vaga e não é possível saber o número de soldados que afeta. A Rússia mobilizou mais de 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia desde dezembro.

Ao mesmo tempo, a Rússia mantém as manobras militares em Belarus, país vizinho da Ucrânia, que devem prosseguir até 20 de fevereiro.

Ucrânia não acredita em retirada

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que não viu nenhum indício de redução das tropas na fronteira e que foram observados apenas "pequenos rodízios".

Belarus anunciou que nenhum soldado da Rússia permanecerá em seu território ao final das manobras dos exércitos russo e bielorrusso, em 20 de fevereiro.

O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, declarou, no entanto, que seu país estaria disposto a receber "armas nucleares" caso se considere ameaçado pelos países ocidentais.

A Rússia sempre negou a intenção de agredir a Ucrânia e seu ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, comentou com sarcasmo as denúncias de seus rivais geopolíticos ao receber nesta quinta-feira o colega italiano, Luigi di Maio. O chanceler de Moscou afirmou que a crise existe apenas "no espírito, na cabeça" dos governantes e da imprensa ocidentais.

As entregas de armas ocidentais a Kiev aumentaram com os temores de uma invasão, o que irritou a Rússia, que afirma que a Ucrânia poderia preparar uma ofensiva contra os separatistas armados do leste do país, apoiados pelo Kremlin.

Esboço de diálogo

No início da semana, o Kremlin e a Casa Branca se declararam dispostos a dialogar sobre a estrutura da segurança na Europa. A Rússia exige uma reforma total, alegando que a expansão da Otan para suas fronteiras representa uma ameaça.

O governo russo afirma que deseja negociar, mas lamenta que os ocidentais tenham rejeitado suas principais exigências: o fim da política de expansão da Otan e a proibição de uma eventual adesão da Ucrânia; o compromisso de não instalar armas de ataque perto do território russo e a retirada de suas infraestruturas do leste da Europa.

Os países ocidentais ofereceram uma negociação de temas como o controle de armamentos, as visitas de instalações sensíveis e um diálogo sobre os temores de Moscou em termos de segurança.

Lavrov afirmou que responderá nesta quinta-feira, por escrito, a estas propostas.

Putin se mostrou disposto a conversar, mas disse que suas reivindicações também devem estar sobre a mesa.

*Com AFP