Por que a Rússia ameaça Finlândia e Suécia em meio à guerra com a Ucrânia?
Após representantes da Finlândia e da Suécia se reunirem com membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a Rússia disse que a adesão desses países à aliança militar dos EUA poderia provocar "graves retaliações militares e políticas". Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que a entrada dos dois países europeus no grupo traria ameaças à segurança da Rússia.
O professor de direito internacional Lucas Carlos Lima, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), explica que apesar da Finlândia e da Suécia já serem membros da União Europeia, a entrada dos países na Otan geraria consequências para o governo russo.
"O principal impacto para a Rússia é político: duas áreas que poderiam ser consideradas, no passado, "áreas de influência", passam para a aliança Ocidental", explica Lima.
Em termos práticos, caso os países se tornem membros da aliança militar, se a Rússia fizer "qualquer ação militar contra esses países, as forças militares da Otan podem ser acionadas", explica Denilde Oliveira Holzhacker, doutora em ciência política e professora de Relações Internacionais, da ESPM.
"Já para a Finlândia e a Suécia, com o aumento das agressões de Putin, a entrada na Otan garantiria o apoio no caso de uma investida da Rússia contra seus territórios", afirma a professora.
Após vir a público a reunião da Otan com os dois países, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova se manifestou.
"Todos os estados membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa [OSCE] em sua capacidade nacional, incluindo Finlândia e Suécia, reafirmaram o princípio de que a segurança de um país não pode ser construída à custa da segurança de outros".
A Osce é uma organização de 57 países da América do Norte, Europa e Ásia. Sediada na Finlândia, se apresenta como fórum de diálogo político que busca estabilidade, paz e democracia.
Augusto C. Dall'Agnol, vice-presidente do Isape (Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia) e pesquisador visitante na Universidade de Denver, lembra que está não é a primeira vez que o presidente russo Vladimir Putin adota o mesmo tom de ameaça. Na Conferência de Segurança de Munique, em 2007, "ele alerta sobre as eventuais consequências do ingresso da Geórgia e da Ucrânia na Otan".
O pesquisador afirma ainda que a adesão desses estados à Otan pode ser uma ameaça em termos estratégicos para Rússia.
"A fronteira com a Finlândia é a segunda maior fronteira da Rússia [1271 quilômetros] com a Europa, ficando apenas atrás da Ucrânia, [1925 quilômetros]", disse o pesquisador. "A implicação mais direta seria a necessidade constante da Rússia evitar dois conflitos simultâneos relativamente distantes um do outro", afirma.
Ambos os países já se posicionaram condenando os ataques da Rússia contra a Ucrânia.
A chave é entender essas ameaças [da Rússia] como um ato consistente com a situação ucraniana. Uma forma [do governo russo] dizer que seus atos na Ucrânia são uma política consistente."
Lucas Carlos Lima, professor da UFMG
Vale lembrar que a Otan é uma aliança militar, que foi criada após a Segunda Guerra Mundial. Formada por 30 países, o grupo é liderado pelos Estados Unidos.
Se um país membro da aliança for invadido, será considerada uma invasão a todos os países membros do grupo, que devem, então, reagir.
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Conflitos podem ser ampliados?
Caso haja adesão de Finlândia e Suécia à Otan, a doutora em ciência política afirma que esse movimento "poderia ampliar o conflito e a instabilidade regional, pois se envolveria um outro front de conflito".
Para Dall'Agnol, uma eventual adesão também aumentaria o risco de escalar a tensão. "Em outras palavras, aumentaria as chances do envolvimento de outros países no conflito que, por ora, está localizado na Ucrânia", diz.
"A simples cogitação da expansão da aliança para a Finlândia e Suécia, per se, já aumenta a insegurança desses países —especialmente se esse for um processo truncado", afirma o pesquisador.
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